segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Solidariedade contra a roleta russa do egoísmo

João Ferreira do Amaral (JFA) é um dos poucos economistas com intervenção pública que se atreve a desviar do consenso neoliberal que ainda vigora em Portugal. Esta sua intervenção sobre a sustentabilidade da segurança social, realizada numa iniciativa da presidência portuguesa da UE, é um excelente exemplo de rigor científico e seriedade intelectual. Em nove páginas mostra como «é um erro dizer que os regimes de repartição vão entrar em falência e que os únicos que poderão sobreviver serão os de capitalização». O facto é que «se não houver condições para a sustentabilidade de um regime de repartição também não haverá para um regime de capitalização». O sistema público de pensões assente na solidariedade intergeracional e o sistema assente na roleta dos mercados financeiros dependem, entre outras coisas, da relação entre as dinâmicas demográficas e a evolução da produtividade da economia. No entanto, segundo JFA, o sistema público de repartição assegura maior igualdade, transparência, segurança e estabilidade macroeconómica ao evitar a especulação financeira desenfreada. Acrescentaria apenas que a experiência tem também mostrado que o sistema de repartição tem custos globais de gestão muito inferiores ao sistema de capitalização. Quando um economista defende as virtudes do sistema privado de capitalização é sempre bom saber quem é que lhe paga o salário. Os bancos e as seguradoras não dormem e por isso instigam a construção de cenários dantescos de falência do sistema público que nenhuma análise séria hoje autoriza.

3 comentários:

Tiago disse...

A forma como sustentabilidade é definida é de tal forma que nem se aplica aos sistemas privados.

Por exemplo, se se acabar com as reformas (essencialmente, parece-me que foi o que o Gordon Brown fez no UK ao acabar com os tax breaks para descontos para pensões) o sistema é sustentável: Nem sequer existe propriamente. E, no curto prazo causa um crescimento forte da economia: As poupanças para o futuro são investidas/consumidas agora. O futuro que se lixe (vai ser "giro" ver o UK cheio de seniores sem reformas decentes daqui a um par de décadas).

As pensões privadas, são também por definição "sustentáveis". O dinheiro está a ser colocado agora para ser levantado no futuro.

É preciso mudar o meme de definição de sustentabilidade: Se houver problemas nos mercados o que acontece aos sistemas privados "sustentáveis"? Quando temos ondas de reformas em massa (vamos ter uma agora com os baby boomers), quais são as consequências?

Rui Curado Silva disse...

O problema do João Ferreira do Amaral não é ter um discurso que se desvia do consenso neoliberal, o problema dele é que tem discursos que se desviam tanto de tudo que entram na estratosfera profunda. Todas as previsões e delírios que escreveu sobre a questão euro/escudo, por exemplo, lidos hoje... Se estivéssemos ainda aqui isoladinhos agarradinhos ao escudo como ele defendia ía ser um festival com a crise económica presente. Provavelmente, ia ser uma espécie de Islândia do Sul...

jvcosta disse...

O link ao texto de JFA não funciona, erro 404.