Quando a dinastia Tudor, que governou a Inglaterra ao longo do século XVI, chegou ao poder, a Inglaterra não era ainda a potência imperial que viria a ser. Os principais focos de industrialização encontravam-se então nos Países Baixos, que dominavam a produção têxtil na Europa. No entanto, no final da era Tudor (em inícios do século XVII) a Inglaterra encontrava-se já a caminho de uma industrialização acelerada.
Tal transformação é indissociável da estratégia de promoção da indústria nacional prosseguida pelos Tudor. Uma estratégia baseada na atribuição de subsídios à produção, na distribuição de direitos de monopólio, no apoio à espionagem industrial, em impostos alfandegários e noutras políticas do reino. Estas e outras formas de intevencionismo (taxas reduzidas para a importação de matérias-primas, estímulo à produção primária nas colónias, etc.) seriam uma constante ao longo dos séculos seguintes, contribuindo de forma determinante para o advento da 1ª Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII.
O comércio livre só veio a ser uma realidade em Inglaterra 8 décadas após a publicação em 1776 da Riqueza das Nações de Adam Smith - respectivamente, a bíblia e o profeta do liberalismo económico. Ou seja, tal como noutros casos posteriores, a adesão ao livre-câmbio só se deu quando a superioridade industrial inglesa era já indiscutível. Para mais, a abolição das Corn Laws em 1846 (que marca adesão da potência imperial aos princípios do comércio livre) não foi apenas uma forma de reduzir o preço dos alimentos em Inglaterra - foi também um modo de incentivar os países do continente europeu a empregarem os seus recursos na produção de matéria-primas (procurando adiar assim a aposta destes países na indústria).
Foi, então, a adesão ao liberalismo que tornou a Inglaterra próspera ou terá sido o inverso?
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3 comentários:
Por si só o estado não significa nada,interessa sim o caracter de estado...isto é qual a classe social que o controla. Logo a defesa do Estado, sem mais requisitos...nada tem de esquerda, mas tem muito de keynisianismo.
Abraço
Certo, mas a discussão, neste caso é outra. Trata-se de pôr em causa um mito que, de tantas vezes repetido, começou a penetrar os discursos produzidos em quase todo o espectro político - ou seja, a ideia de que a liberalização do comércio e do investimento, acompanhadas de uma posição não intervencionista do Estado, são condições fundamentais para o desenvolvimento económico. Em particular, diz-se que a ascensão da Inglaterra a primeira potência industrial esteve associada à adesão deste país ao liberalismo económico. A história aqui contada sugere o contrário. Tal como o sugerem outras histórias contadas nas postas anteriores e nas questão para vir, nesta série sobre «as lições de Chang».
"a abolição das Corn Laws em 1846 (...) não foi apenas uma forma de reduzir o preço dos alimentos em Inglaterra - foi também um modo de incentivar os países do continente europeu a empregarem os seus recursos na produção de matéria-primas (procurando adiar assim a aposta destes países na indústria)."
Muito bem visto! Mas que maquiavelismo acutilante! Pois os ingleses viam que a produçäo de matéria-prima cria muito menos valor acrescentado que a manufactura... quem caiu na esparrela de se virar para a produçäo de matérias-primas e importar tudo o que era manufacturado de outrém? Ah pois, Tratado de Methuen... Portugal, mas quem mais?
A Alemanha percebeu logo a marosca... matérias-primas há sempre quem faça baratas, indústria é que é mais custoso (e valioso a longo prazo)!
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