As propostas do Compromisso Portugal são apresentadas como sendo revolucionárias. De facto, as suas ideias de total privatização da saúde, da educação e da segurança social e o consequente despedimento de milhares de funcionários públicos exigiriam a subversão do regime democrático. No fundo, estes senhores do Beato sabem que a maioria dos portugueses não alinha no seu modelo de sociedade. No entanto, graças ao poder que lhes advém dos recursos que controlam e à sua longa histórica de imbricação com o poder político, este movimento deve ser levado a sério. Não tanto pelo conteúdo das suas irrealistas propostas, mas pelo sentido que apontam para a política económica.
Partindo das suas ideais radicais, qualquer «modesta» privatização de serviços públicos aparece como sendo moderada e cautelosa. As actuais forças do bloco central beneficiarão sempre da percepção de não cedência total a estes verdadeiros interesses instalados. E, no entanto, o lento desmantelamento do Estado Social continuará estendendo-se para novos domínios, antes consensualmente entendidos como intocáveis. Torna-se, por isso, urgente a exigência ao poder político de uma definição clara das fronteiras entre o que é a esfera pública e a esfera privada, entre o que é serviço público de acesso universal e o que é a legítima produção guiada pelo lucro.
Não é só a defesa de um modelo de sociedade que está em causa, é também a única forma impedir que a nossa classe empresarial continue com os eternos comportamentos rentistas a que está tão habituada e comece a investir mais na criação de riqueza e de emprego.
Nota: Estas duas postas recuperam, parcialmente, um artigo escrito com o Nuno Teles.
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3 comentários:
Para a rapaziada do «Compromisso Portugal» existe Estado a mais para a sociedade civil, e Estado a menos para as suas empreitadas e negociatas. Vi ontem o Carrapatoso a falar na televisão: mais coisa, menos coisa, quer ultrapassar a China em salários «competitivos».
Ontem li uma apresentação em powerpoint desse compromisso que ilustrava bem a cassete. É incrível como eu conseguia prever exactamente o que viria no slide seguinte, jargão e tudo. O pior é que isto não é apresentado como ideologia, mas como análise técnica, que tem a vantagem de não precisar de democracia.
Então adivinhem qual era o problema com a educação (mas podia ser a saúde ou a electricidade, ou qualquer outra coisa):
1- Desempenho e papel do estado (centralizante e sufocante, claro)
2- Ausência de incentivo à melhoria e promoção da responsabilidade dos interveniente (falta de exigência com os professores)
3- Ausência de liberdade e autonomia das escolas [nota minha: reparem como encaixam aqui a palavra "liberdade" gratuitamente]
Rumo proposto (tanananam , adivinhem):
- Desenvolver políticas baseadas na liberdade e responsabilidade (liberdade outra vez? mas liberdade para quem? para os malandros dos profs? ou é daquela "liberdade para andar na linha com respeitinho" ?
- Separação do Estado enquanto prestador de serviços de educação do Estado regulador e garante da qualidade do sistema (uau, quem diria! não estava À espera desta)
- Promover liberdade de escolha (aqui está ela outra vez, a bela da liberdade, desta vez certamente a liberdade dos ricos escolherem bons colégios e dos pobres irem para escolas públicas de cursos profissionais)
identifico-me bastante com o seu blog.Se tiver disponibilidade gostava que visita-se o meu . obrigado e um abraço www.outrosfados.blogspot.com
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