sábado, 2 de junho de 2007

O liberalismo como engenharia social

Um dos elementos fundamentais da retórica liberal no campo dos assuntos socioeconómicos é a acusação de que a esquerda socialista pretende permanentemente impor soluções de «engenharia social», ou seja, que pretende afastar as regras do jogo económico de um conjunto de instituições supostamente «naturais» - mercado e propriedade privada.

Na realidade, se há discurso que implica robustos processos de engenharia social, no campo ideológico, dos valores e das regras sociais, é o liberalismo. Construir mercados e impor regras que privilegiem os interesses dos proprietários de certos activos dá uma trabalheira monumental. Sobretudo ao Estado. Karl Polanyi, na Grande Transformação, um dos livros-chave da economia como teoria social, já havia notado isto: «O caminho para o mercado livre estava aberto e mantinha-se aberto através do incremento de um intervencionismo contínuo, controlado e organizado de forma centralizada. Tornar a ‘liberdade simples e natural’ de Adam Smith compatível com as necessidades de uma sociedade humana era tarefa assaz complicada (...) Assim como, contrariando as expectativas, a invenção da maquinaria que economizaria trabalho não diminuíra mas, na verdade, aumentara a utilização do trabalho humano, a introdução dos mercados livres, longe de abolir a necessidade de controlo, regulamentação e intervenção, incrementou enormemente o seu alcance».

1 comentário:

L. Rodrigues disse...

Ando a ler. É formidável, e ao mesmo tempo terrivel, como foi ignorado.