quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

O país real de quem vive na bolha


Ainda sobre as declarações do constitucionalista Tiago Duarte, que o João Rodrigues já enquadrou aqui, é realmente notável a perceção que se tem a partir da «bolha» onde vivem «os de cima», sobre o «país real». A quem escapa, por completo, o modo como realmente vive a esmagadora maioria das pessoas.

Não surpreende que seja desta ideologia de classe, que atravessa as direitas, que emanam os ataques ao Estado Social e aos direitos sociais universais, reclamando o financiamento público de «cheques-ensino», «cheques-saúde» e a expansão do privado nas pensões. Ou o recorrente clamor pela desregulação laboral e a redução de impostos e da sua progressividade, que acentuaria as desigualdades ao colocar em causa mecanismos de redistribuição do rendimento e o financiamento dos sistemas públicos de provisão. Tudo a pensar nos jovens casais portugueses, claro.

6 comentários:

Anónimo disse...

Isto não é não conhecer a realidade do país é sim ignora-la. Quando há demasiadas pessoas a dizer indignidades isso torna-se um novo normal, a barbárie tem de ser denunciada como tal independentemente dos discursos ou da sofisticação dos mesmos.

TINA's Nemesis disse...

Há outro tipo de discurso que não sendo tão descarado como desse Tiago Duarte visa os mesmos objetivos, a manutenção de privilégios de uma determinada casta à custa das restantes menos privilegiadas.

"O Presidente pede aos portugueses que "compreendam que os sacrifícios têm razão de ser", salientando que uma parte fundamental está fora do controlo do país."

https://eco.sapo.pt/2022/12/21/marcelo-pede-estabilidade-e-alerta-para-nao-se-criar-problemas-adicionais-aos-que-existem/

Marcelo é um sonso mas tal como Tiago Duarte sabe que classe faz parte.
O discurso do Marcelo para além de ser condescendente para maioria da população tem como objetivo fazer aceitar ainda mais austeridade mas, claro, "compreendam que os sacrifícios têm razão de ser", e este é o problema, os portugueses aceitam sempre doses e mais doses de austeridade sem questionar o porquê dessa austeridade... Marcelo, Costa, Passos, Cavaco, os tipos da Comissão Europeia, do FMI e os Donos Disto Tudo agradecem.

Nan disse...

Este é um sério candidato ao Oscar da falta de noção!

José Cristóvão disse...

As famílias portuguesas preferem, de facto, pôr os filhos na escola privada e não na pública. Mas porquê? Por causa da ideia, pregada vez após vez, que privado é quase sempre superior ao público, reforçada neste caso das escolas pelos famosos rankings que, como o vosso blogue já referiu, deixam de fora as diferenças socio-económicas dos alunos.

Anónimo disse...

Ao que me dizem, não só. A segurança conta muito (droga, pancadaria, indisciplina...).

Quando era miúdo a contínua punha-nos em respeito. Da última vez que lá passei havia um segurança à entrada.

Jose disse...

A palavra chave na notícia é 'empregada' (muher-a-dias, faxineira, criada); logo às vísceras progressistas lhes dá um convulsão.
A escola privada logo acresce uma forte mensagem de classe, fora da ambicionada mediocridade dependente das borlas do Estado.

Qualificação, produtividade, desempeno, disciplina - tudo são palavras a usar em contexto bem circunstanciado, e nunca a propósito de que, quem deles faça prova bastante, nisso funde proveitos que lhes permita ofender os padrões do corretês.