domingo, 28 de novembro de 2010

Saídas da crise?

“É mais que tempo de tirar a conclusão óbvia: a política de saída da crise por via da rápida contracção dos défices públicos imposta à UE pelo Partido Popular Europeu fracassou redondamente, dado que não só não conseguiu potenciar o crescimento e a redução do desemprego, como tampouco permitiu travar o endividamento dos estados, das empresas e dos particulares.” João Pinto e Castro não é inteiramente certeiro por pouco. Na realidade, a “política de saída da crise” austeritária, ou seja, a política da crise permanente rumo a um cenário argentino, está inscrita nas regras europeias criadas pela social-democracia e pelo partido popular europeu e cristalizadas nos tratados porreiros, pá: do bce ao pec.

Basta aliás ler o artigo tortuoso de Maria João Rodrigues, a ideóloga da soporífera e fracassada agenda de Lisboa, com que a social-democracia andou a empatar durante demasiados anos, para se perceber como as alterações positivas agora sugeridas - das euro-obrigações à taxação das transacções financeiras - se misturam, contradição insanável, com a insistência na lógica absurda das “regras automáticas” para a “disciplina orçamental” e, agora, com a aposta na “forte condicionalidade” para corrigir situações “anómalas”. Isto são eufemismos eurocratas para os ajustamentos estruturais à FMI desgraçadamente em curso nas periferias europeias? Estes ajustamentos destruidores das economias esquecem, entre outras coisas, as responsabilidades da potência hegemónica, a Alemanha, nos desequilíbrios europeus. Com "social-democratas" destas, isto nunca iria acabar bem. Que fazer? Desenvolver uma economia política e uma política económica que supere verdadeiramente a austeridade e, já agora, pensar bem nas implicações do cenário "argentino".

Entretanto, o governo prepara-se para aprofundar a lógica do orçamento para 2011 com a conversa sobre a "flexibilização" do mercado de trabalho, outro eufemismo para o projecto que facilitará ainda mais a transferência de custos sociais para os trabalhadores, sob a forma de despedimentos mais fáceis e baratos. É o reforço da economia do medo que comprime salários, aumenta o desemprego, a precariedade e as desigualdades. Já somos governados pelo FMI: chama-se bloco central.

2 comentários:

Ana disse...

As receitas da saida da crise são todas tiradas do manual FMI, embora até saiam de lá uns estudos interessantes, como atribuir ao aumento das desigualdades entre ricos e pobres a causa da crise mas o que não vê é as medidas para evitar novas crises financeiras. Todos falam das medidas para sair da crise e poucos a falar de medidas para este tipo de crise não voltar, vamos ter mais do mesmo nas próximas décadas.

Anónimo disse...

Da taxista da Maria João Rodrigues, não se pode esperar grande coisa.
Era o que faltava.!
Então e o meu, diz ela.