“Por ignorância, preguiça, hábito, desconsideração deliberada ou manifesto servilismo, os canais televisivos têm sistematicamente tratado a análise da crise económica como se o intenso debate quanto aos fundamentos doutrinários e às opções políticas que estão em jogo pura e simplesmente não existisse.”
A petição pelo pluralismo no debate económico, que já recolheu mais de mil assinaturas, deu origem a um bom blogue: pluralismo no debate. A situação no serviço público de televisão, monopolizado pelos economistas do medo, os que defendem a privatização de tudo e cortes recessivos em tudo menos nas suas sinecuras, merece a atenção do Provedor do Telespectador da RTP. Paquete de Oliveira irá dedicar o seu próximo programa precisamente a esta falta de pluralismo. O Programa a “Voz do Cidadão” será emitido na RTP1 no próximo sábado, a partir das 21.00h e no domingo, na RTP2, às 14.45h. Não percam.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
11 comentários:
Acho óptimo que o debate se alargue e assinei a petição. Mas não seria possível referir os economistas de uma das correntes sem usar termos como "economistas do medo, os que defendem a privatização de tudo e cortes recessivos em tudo menos nas suas sinecuras"? Será que temos que começar um debate de ideias atacando os que pensam de maneira diferente?
Caro Carlos,
Um debate que não pudesse contar com "os economistas do medo" seria igualmente um debate amputado, impeditivo de uma formação livre de opinião pelos cidadãos a partir do acesso a diferentes perspectivas.
Não é difícil identificar os economistas "que defendem a privatização de tudo e cortes recessivos" (ligando a televisão há uma enormíssima probabilidade de os encontrar) e julgo ser legítimo defini-los como "economistas do medo" (pois escolhem a subordinação à lógica mais selvagem do liberalismo). Quanto às sinecuras, são factuais e representam uma enorme desfaçatez, que não deve passar em claro.
Caro Nuno
Podemos sempre discutir a pessoa por detrás das ideias, mas receio que isso leve o debate rapidamente para outros campos.
Não é difícil pegar em qualquer pessoa e nas suas ideias e encontrar alguns qualificativos pejorativos para lhe atribuir. Também não é difícil pegar num aspecto qualquer da vida de uma pessoa e apresentá-lo como se fosse algo de grave.
Não creio que leve a algum lado a não ser à perda de discernimento e à anulação do debate.
"economistas do medo"
Medo todos devemos ter. Sobretudo de quem não tem medo de nada. E isso não tem nada a ver com subordinação, mas sim com conhecer os nossos próprios limites.
O que se ganha em classificar assim alguém?
"defendem a privatização de tudo"
Acho que nem no Blasfémias é fácil encontrar alguém que pense assim.
"cortes recessivos em tudo menos nas suas sinecuras"
Quantos desses economistas têm efectivamente sinecuras e defendem os cortes excepto nas suas sinecuras? Será que as sinecuras só existem de um dos lados do debate?
Qualquer crítica às ideias contrárias poderia naturalmente ser transformada em ataques pessoais do mesmo calibre, mas não creio que isso fosse adequado.
Caro Carlos,
Sinceramente não creio que o modo de definir "um dos lados da barricada" como "os economistas do medo" e a denúncia das contradições entre a defesa da redução dos salários ao mesmo tempo que se está numa situação absolutamente privilegiada constituam ataques pessoais (serão ataques políticos, ideológicos, certamente e assentam em quem neles se reconhecer).
Exactamente do mesmo modo que muitas das formas de classificar e de tentar descredibilizar "os outros economistas" (como gente do passado, lunática, irrealista, por exemplo), constituem ataques políticos e ideológicos e não ataques pessoais (sobretudo quando não têm um alvo concreto e definido).
Mas creio que o mais importante não seja isso, e sim a discussão propriamente dita, a que infelizmente falta muito espaço público.
Nuno
Percebo que não sejam ataques pessoais em sentido estrito, mas não deixam de ser formas de tentar que o discurso do outro não seja ouvido, condicionando-nos a nós próprios previamente. E por isso inquina a possibilidade do debate.
Acho que é fácil partirmos para o debate como se fosse um combate, em que não tencionamos mudar de ideias nem ouvir os outros mas sim ganhar o debate e convencer indecisos. Mas na realidade isso não é um debate de ideias, é um combate político.
Imagino a aflição do Provedor…
economistas do medo, os que defendem a privatização de tudo
também não exageremos
e se calhar a falência pura e simples das empresas municipais seria melhor
lá por o debate se alargar não quer dizer que algo se fará
será mais um momento PSD
18mil soluções para a crise
e todas são boas
Não só assinei a petição, como fiz um post sobre o tema e coloquei a petição em lugar de acesso permanente a fim de evitar que desaparecesse na natural volatilidade de um blogue. A noticia de vir a ser tema de atenção do Provedor é uma boa noticia, vejamos qual a eficácia... Quanto aos argumentos de Carlos Albuquerque reconheco-lhe alguma razão, mas a questão tendo outros contornos carece de um aprofundamento que dificilmente poderia explanar aqui e que tem a ver com as distorções e omissões da nossa imprensa...
Concordo em absoluto com o Carlos Albuquerque.
Gosto de ler e ouvir as várias correntes e penso que todas podem/devem contribuir para um debate aberto sobre Economia. E penso que infelizmente a política económica na União Europeia está infelizmente a ser demasiado dominada por um pensamento económico demasiado ortodoxo.
Mas tenho pena que, de um e outro lado mas sobretudo em meios de esquerda, se use e abuse de uma retórica ad hominem, que caricatura e distorce as posições dos seus "adversários" e que visa converter mais do que explicar e que na prática inviabiliza qualquer debate sério e objectivo que não será possível sem que se expurgem certas expressões do vocabulário.
Uma
Peço o favor de alguém aqui explicar a um leigo em economia do porquê na Sic e na Sic Noticias,canais televisivos que tem promovido a pessoa,dizia eu,porquê o João Duque é apresentado como economista sendo ele licenciado e doutorado em Gestão de Empresas?
Sérgio, é para à vista dos telespectadores conformados e conformistas, lhe conferir a autoridade que talvez, de facto, näo merece!
Eu, como licenciado em OGE que sou, até me ofendo se me chamarem "economista"! Säo dois campos distintos, os economistas trabalham a nível macroeconómico, tendendo entrar por postulados teóricos que só funcionam com "mercados perfeitos" e "consumidores perfeitos", o que é muito bonito no papel mas na prática näo existe; já os gestores trabalham a nível microeconómico, prático, onde as imperfeiçöes e imprevisibilidades säo assumidas como normais.
Por isso näo se devem meter gestores no Banco de Portugal, nem economistas na Portugal Telecom.
Enviar um comentário