terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mudar de conversa...

“Se 4,3 milhões de portugueses lucrassem, cada um, mil euros a vender acções, o Estado receberia 860 milhões em impostos. Se a PT vende a Vivo com lucro de 4,3 mil milhões, o Estado recebe zero. Eis a economia moderna.” Recupero o editorial brutalmente realista de Pedro Guerreiro no Negócios da passada sexta-feira. Eu não chamaria a isto “economia moderna”. Eu chamar-lhe-ia capitalismo financeirizado: a sociopatia dos espíritos santos, de que fala, e bem, o Daniel Oliveira, está inscrita nas suas estruturas e torna todo este sórdido espectáculo da PT inevitável.

É no que dá a ausência de reformas estruturais, uma expressão que tem de ganhar conotações pós-liberais, ou seja, de recuperar um sentido progressista. Repito-me, mas agora num contexto de austeridade assimétrica brutal, em que a crise surge como uma oportunidade para os mesmo de sempre: as remunerações dos gestores de topo das grandes empresas cotadas no Reino Unido, só para dar um exemplo de fora e mudar ligeiramente de assunto, aumentaram mais de 50% no ano passado. Definitivamente, o empresarialmente correcto ainda dominante por todo o lado não se dissolverá sem luta ideológica e política, sem mobilizações dos de baixo. Pena é que por todo o lado demasiados críticos continuem presos à ideia de que as remunerações elevadas dos gestores só são uma questão política quando se trata de empresas públicas ou participadas pelo Estado, e estas são, infelizmente, cada vez menos e cada vez mais vitimas da predação privada interna ou externa.

A questão de quem se apropria do quê e porquê em toda a economia, envolva directamente o Estado ou não, é demasiado importante para ser deixada à sorte da aliança que se formou entre accionistas e gestores de topo para extrair, com cumplicidade activa dos Estados, salários milionários, bónus e dividendos à custa do esforço da esmagadora maioria dos trabalhadores, reduzidos a um mero custo a economizar, ou do futuro das empresas para lá da miopia dos voláteis accionistas. Isto tem-se traduzido, à escala do capitalismo desenvolvido, numa quebra dos rendimentos do trabalho a favor dos rendimentos do capital, num aumento das desigualdades salariais, numa quebra do investimento criador de capacidade produtiva adicional e de emprego. Os crescentes lucros das grandes empresas têm sido precisamente apropriados, sob a forma de dividendos, pelos impacientes accionistas. A PT ilustra, com todo o dramatismo orçamental, a ganância que as estruturas do capitalismo financeirizado instituíram.

Este regime gerador de crises só pode ser superado com mudanças corajosas das regras que enquadram as actividades dessa criação da lei a que chamamos empresa e os poderes dos diferentes actores que nela coexistem. Neste contexto, é mais do que justificado taxar punitivamente os prémios e outros benefícios que os gestores de topo das empresas capturam e aumentar decididamente a taxa de IRS nos últimos escalões, que tenderam a baixar nas últimas décadas, ou taxar mais fortemente, em sede de IRC, a distribuição de dividendos. Adicionalmente, é preciso instituir mecanismos que permitam que os trabalhadores tenham uma voz activa na gestão das empresas, incluindo na definição das remunerações dos seus diferentes intervenientes, na melhor tradição do modelo de co-gestão. É claro que, enquanto a liberdade sem freios dos capitais continuar em vigor, muitas destas reformas necessárias continuarão a ser politicamente sabotadas pelo muro do dinheiro e pelos intelectuais sociopatas que o defendem.

6 comentários:

já não há pachorra disse...

pensa bem , sem dúvida... dificulte a vida das empresas numa sociedade virada para o emprego e não para o trabalho e nem lhe digo para esperar para ver : veja o que aconteceu.
mesmo sério que acha que ele há pessoas obrigadas a criar postos de trabalho e que devem ser penalizadas por isso?
aí , num blog amigo postaram uma entrevista do gonzalez : ao menos esse aprendeu qualquer coisa.
e quem tira dividendos milionários sem dar lucro a ninguém , apenas despesa , são os gestores do seu amado público. que o belmiro se pagar milhares a um tipo é porque este lhe deu a ganhar milhões , e pagou imposto sobre isso.

já não há pachorra disse...

esqueci-me de dizer que se o gestor do amorim o lesar é despedido com justa causa sem direito a indemmenização e subsidio de desemprego. os tipos da epul não.por exemplo.

JGusman Barbosa disse...

Não entendo o que estes dois ultimos comentários têm a ver com o assunto tratado no post do João Rodrigues.

maria povo disse...

e para Mudar de Conversa, ouviram hoje as declarações do (ainda!) Presidente Lula na reunião do G20??

ele alertou os paises ocidentais a não sustentarem só a via das exportações, mas sim a aumentarem o nivel de vida e emprego dos seus cidadãos para resolverem a crise!!!

não é preciso ser economista para saber este assunto, há é que ter coragem!!

Maquiavel disse...

Terei escrito alguma coisa que näo deveria? Parece-me que näo!

Anónimo disse...

The regulators in Nevada and New Jersey (United States) are in possession of a report with implications for international security.
On September 8, 2005, the Wall Street Journal reported in its pages that the United States Secret Service, the Department of Treasury for Terrorism and Financial Intelligence (TFI), the U.S. Department of Immigration and Customs and Homeland Security Department to investigate money laundering by a bank in Hong Kong controlled by tycoon Stanley Ho's game.

According to the report, Stanley Ho, a Chinese man of 84 years (at the conclusion of the report) which held the monopoly on gaming in Macau for 40 years, has deep connections, documented with the Triads (Chinese organized crime).

Stanley Ho saw denied licenses for casinos, which called on all regulated jurisdictions outside Macao. Recently, regulators have forced Singapore to the local utility company to cut links with Stanley Ho before the opening of a casino in Singapore ...

It is with this status that the government accepts a massive layoff of 112 people from the Estoril Casino and replace them with precarious without the slightest investigation. Who investigates that dismissal with millions of profits and 50% state.