terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Os custos do conselheiro ou a economia do medo

Vítor Bento, o novo conselheiro de Cavaco Silva, tem uma virtude: mostrar claramente qual é o programa económico da quase totalidade das “elites” portuguesas, em geral, e de Cavaco e do governo, em particular. Economia do medo. Bento defende uma política orçamental de austeridade, com cortes orçamentais, para aprofundar a recessão. Assim, aumentam o desemprego e o medo e baixam os salários. A ideia é mesmo reduzir os custos do trabalho e favorecer uma saída pelas exportações. Na ausência do instrumento de desvalorização cambial, esta parece ser a única estratégia, segundo Bento, para ganharmos competitividade e corrigirmos os desequilíbrios externos. É claro que o facto de Espanha, e de outros destinos europeus para as nossas exportações, também seguirem esta estratégia de deflação com efeitos perversos à escala europeia e global, não interessa para nada. Podemos sempre exportar para Marte. A interacção perversa entre deflação e aumento da dívida em termos reais é só mais um pormenor. À escala europeia, o modelo económico deve ser guiado pelos salários e não pelos lucros, como argumenta o economista pós-keynesiano Engelbert Stockhammer.

Vítor Bento invoca agora Paul Krugman. Tudo por causa do gráfico que acima se coloca. O gráfico compara a Espanha e a Alemanha, mas também podia ter Portugal em vez da Espanha que o resultado era o mesmo. O que nos mostra? A desgraça da Alemanha e da contenção dos salários nominais que têm crescido aí menos do que a produtividade real. É a evolução dos chamados custos unitários do trabalho. Na Alemanha, onde os salários já são elevados e onde existe um Estado Social robusto, esta estratégia neo-mercantilista de promoção das exportações à custa dos défices das periferias é mais fácil de aceitar pelos trabalhadores (a ameaça de deslocalização empresarial para leste também ajuda à “persuasão”: economia do medo, uma vez mais).

Em Espanha ou em Portugal, com níveis salariais absolutos tão baixos elevadas – mais de 40% dos assalariados portugueses ganha menos de 600 euros líquidos por mês no nosso país –, com desigualdades salariais bem mais elevadas e com um Estado social mais fraco, imitar a Alemanha é utópico. De qualquer forma, este indicador dos custos unitários é muito enganador e é manipulado, como eu e o Nuno Teles já aqui defendemos. O crescimento dos salários reais tem estado mais ou menos alinhado com o crescimento real da produtividade (como deve ser…) em Portugal: desde a adesão ao euro, o peso dos salários reais no rendimento nacional manteve-se mais ou menos estável, mas as desigualdades salariais têm aumentado. O problema é mesmo a estratégia da Alemanha e a configuração da zona euro. Mas isto Vítor Bento, ao contrário de Krugman, não quer discutir. Percebo bem porquê…

11 comentários:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

A formulação "economia do medo" exprime sucinta e exactamente a orientação política das "elites" portuguesas e europeias. Parabéns pela felicidade da expressão.

Pascoal disse...

Uma coisa que eu não percebi quando vi o gráfico que o VB apresentava foi o valor 100 dado como referência tanto para a Alemanha como para Espanha.
Os espanhois, tal como os alemães ganham o seu salário em euros; os euros espanhois são ou não iguais aos euros alemães?
Que raio significa aquele 2000=100 para ambos?

rui fonseca disse...

" Mas isto Vítor Bento, ao contrário de Krugman, não quer discutir. Percebo bem porquê… "

E já experimentou colocar as suas conclusões nos posts que VB tem colocado no blog da Sedes acerca do assunto? Poderá constatar que VB geralmente responde aos comentários que lhe colocam.

Estou certo que VB lhe responderia.
Assim fosse o comportamento de alguns outros que o criticam.

João Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Rodrigues disse...

Obrigado José Luiz.

Pascoal,
Serve para comparar o crescimento dos custos unitários. Apenas o crescimento e mais nada: 100 em 2000 e 130 em 2008 = aumento de 30% dos cut's nesse período.

Rui,
Eu não costumo comentar os comentários. Mas leio sempre. E muitos postes são escritos com eles em mente. Preferências e tempo...
Vítor Bento que responda de blogue para blogue em vez de falar, de forma caricatural, dos críticos em geral: espantalhos...

Anónimo disse...

Mas afinal quem é este V.B.!?
Pelo andar da carrauagem deve ser outro que tal, uma espécie de Cavaco Silva mas careca, será.!?
Parece que sim.!?
Com gente desta estamos bem lixados, não há dúvida.
Ao Cavaco Silva esse,quem o ouvir falar até parece que ele não é de cá quando afinal é um dos grandes culpados pelas desgraças que se abateram sobre os portugueses.
Cá por mim tenho pena de não ter ido trabalhar para a CGDepósitos ou Banco de Portugal, os miseráveis cóis nacionais dos antigos e actuais "grandes homens e mulheres" deste país, porque assim ia buscar uma brutaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa pensão (vejam só, o Cola Cisne vg Mira Amaral, o Cavaco Silva, a Manuela F Leite e tantos outros "grandes vultos" da nossa praça, assim sempre dispostos, coitados, a fazer sacrificios pelo povo português.

Anónimo disse...

Vitor Bento é um que vem referido no i como putativo futuro governador do Banco de Portugal

Anónimo disse...

Ah.! Então é mais um aspirante a uma pensão choruda a conta do pessoal.!?
Á grande VB, assim é que é.!?
Mas será que isso - de putativo passar a efectivo - vai acontecer por obra e graça do espirito santo.! ou será porque o homem, como o papa, e a bendita água, também é bento.!
Esta foi boa, digam lá que não.
Os oportunistas vão fazendo o seu caminho. Veja-se, entre outros, o percurso impar do VC.

Anónimo disse...

Caros amigos

Os Blogs podem ser centros de conhecimento ou ... de ignorância e intolerância.
Podemos discordar ou concordar com as opiniões de outros, Vitor Bento incluido.
Não devemos é falar do que não sabemos, sem nos informarmos ou sem termos qualificações para tal.
Se o fazemos, acabamos invariávelmente a fazer ... figuras tristes!

LD disse...

João, não percebo a conclusão do teu texto. Qual o caminho afinal? Afastarmo-nos da moeda única? Tentar renegociar o valor de conversão escudos-euro? Não sei se seriam cenários benéficos. O 1º pela vulnerabilidade que isso traria à nossa economia (é diferente nunca ter entrado no euro, de sair à força) e o 2º pelo precedente que abriria aos restantes PIGS.
No reverso da medalha, opinas então que o crescimento salarial tem sido abaixo da evolução do nível de produtividade?

Anónimo disse...

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