quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Para onde vamos guiados pelo PIB


O PIB (produto interno bruto) é uma medida da “riqueza” criada e distribuída durante um ano numa dada unidade territorial, normalmente um país. Uma boa pergunta, que deixaremos para depois: que riqueza é esta que o PIB mede?

Interessa-nos agora constatar que o PIB se tornou na medida do nosso sucesso ou insucesso. Todos os esforços são justificados pelo impacto que podem ter no PIB, as políticas são boas ou más conforme contribuem ou não para aumentar o PIB.

Mas comparemos o PIB a um velocímetro acoplado aos comandos de um navio. O que chamaríamos a um comandante que navegasse orientado apenas pela leitura desse dispositivo? Não menos do que louco. Capitães destes podem fazer-nos navegar (a grande velocidade) na direcção errada. O comandante precisa também (pelo menos) de uma bússola, já para não falar de um mapa.

Está finalmente em curso um importante debate internacional acerca do PIB, dos seus defeitos e de outras medidas de desempenho económico e social que o possam substituir ou complementar. Este não pode ser um debate de especialistas, embora nele devam participar especialistas. O que está em causa é saber se a riqueza que o PIB mede é o único bem que procuramos e como é que outros bens que procuramos podem ser medidos e tidos em conta na navegação. Verdadeiramente o debate é acerca dos bens que colectivamente queremos perseguir.

Curioso: a Ciência Económica a contas com valores...

8 comentários:

Diogo disse...

Murray N. Rothbard [Professor de economia e liberal da Escola Austríaca] fala da gigantesca fraude bancária que os bancos comerciais privados têm vindo a praticar até aos nossos dias:

"Desde então, os bancos têm criado habitualmente recibos de depósitos, originalmente notas de banco e hoje depósitos, a partir do nada [out of thin air]. Essencialmente, são contrafactores de falsos recibos de depósitos de activos líquidos ou dinheiro padrão, que circulam como se fossem genuínos, como as notas ou contas de cheques completamente assegurados."

"Os bancos criam dinheiro literalmente a partir do nada, hoje em dia exclusivamente depósitos em vez de notas de banco. Este tipo de fraude ou contrafacção é dignificado pelo termo reservas mínimas bancárias [fractional-reserve banking], o que significa que os depósitos bancários são sustentados apenas por uma pequena fracção de activos líquidos que prometem ter à mão para redimir os seus depósitos."


Em face destas declarações de Murray N. Rothbard, gostaria de conhecer a opinião dos economistas deste blog sobre este post:

Para estoirar de vez com os bancos comerciais

Pedro Viana disse...

Tal debate é essencial, e só peca por não ter sido iniciado há mais tempo. Não me deixa no entanto de espantar que, a nível internacional, quem mais tem utilizado o seu peso político para exigir tal debate tem sido Sarkozy. Onde estão os políticos de Esquerda? Infelizmente, o fetichismo do crescimento económico existe tanto à Esquerda como à Direita. Talvez até mais à Esquerda, pois esta mais facilmente abraça a mudança (a qual à primeira vista parece potenciada pelo crescimento económico) do que a Direita (conservadora). Gostava de ver a Esquerda, em particular em Portugal a afastar-se de tal fetichismo, mas ainda não vi indícios disso a nível do discurso político.

Anónimo disse...

Nem de propósito, ouvi hoje Nicholas Stern argumentar em favor do mesmo. Por exemplo, como a teoria do crescimento económico não contempla o fortalecimento das instituições ou os avanços tecnológicos. Se tomarmos em conta o discurso da comunidade climática (a climate comunity, por assim dizer), temos muitos exemplos: escolhas fundamentais do foro ético feitas por uma sociedade não são obviamente contabilizáveis, apesar de muitas vezes constituirem investimentos no futuro.

Passa tudo por um forma CBA de ver a economia...

José M. Sousa disse...

O debate aliás já se estende à própria ideia da viabilidade do crescimento. Muitos já defendem que o necessário é tratar de uma estratégia de "decrescimento sustentável", por difícil que seja.
Para 2010, realizar-se-à a II Conf. Internacional sobre o Decrescimento em Barcelona.

Pedro Viana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Viana disse...

Já agora aproveito para chamar a atenção para este recente artigo no website Ecologist

e para o livro

Prosperity without Growth?

Dias disse...

“Para além do PIB” é um debate crucial.
Mas não basta que a CE e o Parlamento Europeu acolham simplesmente a organização de conferências para o efeito, é preciso mudar. Sobretudo não esquecer que nos países e nas suas terras vivem pessoas, que há um tecido social, que há vida “além do mercado”.
PS: boa agenda em Barcelona :Decrescimento.

Anónimo disse...

http://books.google.com/books?id=BkUJVb-V0vQC&printsec=frontcover&dq=Geoffrey+Martin+Hodgson&hl=pt-PT#v=onepage&q=&f=false