sexta-feira, 14 de março de 2008

O mito do mercado livre

Vale a pena ler o artigo de Tiago Mendes sobre o salário mínimo (via Destreza das Dúvidas). Talvez ajude a perceber algumas das causas profundas da purga na Atlântico. O seu liberalismo, económico e social, sempre foi demasiado impuro. No entanto, esta sua formulação parece-me infeliz e reveladora: «A liberdade económica de quem emprega é essencial, mas nem sempre um dado entre nós. Ainda abundam, entre alguma esquerda, os discursos exclusivamente ‘éticos’, reveladores de um total desconhecimento sobre como funciona um mercado livre e que proporcionam efeitos contrários aos desejados. Legislar nem sempre é a melhor solução».

Alguns notas: (1) «a liberdade económica de quem emprega» tem como contrapartida necessária a vulnerabilidade de quem é empregue; (2) a economia, como sublinham os economistas institucionalistas, em especial Warren Samuels, é sempre estruturada por um sistema de regras que gere as interdependências da vida económica, ou seja, um sistema de regras que define quem é que pode impor custos sobre quem, quem é que pode coagir quem, como é que a «liberdade» é repartida e quem é que a ela está exposto; (3) o mercado, qualquer mercado, é sempre uma construção política mediada por valores, ou seja, é o governo que tem de definir a estrutura que atribui direitos e as correlativas obrigações (John Commons): «legislar» não é uma opção; (4) assim, falar de «mercado livre» para caracterizar uma dada estrutura é deixar que a ideologia e os valores «contaminem» a análise; (5) isto é o resultado de uma insuficiente reflexão nas ortodoxias económicas (e em algumas heterodoxias) sobre a relação necessária da economia com a ética e com a ideologia e sobre a natureza plástica das instituições que definem o perfil de um dado sistema económico capitalista - direitos de propriedade, contratos, mercados; (6) quando se pretende fazer apenas «economia positiva», fechando a porta às impurezas, estas entram sempre pela janela sob a forma de pressupostos não escrutinados; (7) só a partir daqui é que a «análise positiva» sobre os padrões que podem ser gerados por diferentes regras pode prosseguir de forma satisfatória; (8) Este livro recente discute com grande clareza e rigor analítico estas importantes questões. Hei-de voltar a ele.

6 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Meses e meses a tentar demonstrar a primazia do marxismo, e depois vê-se o resultado quando os jogadores de futebol cubanos pedem asilo político nos EUA.

Estes episódios, tal como o do Nureyev e as tristes fugas do muro de Berlim fazem a vossa verborreia cair como uma maçã podre ;)

Anónimo disse...

nao é asilo politico, oh verborreico, é asilo economico. ca tambem ha muitos que fojem do pc para a direita.

IDEAL COMUNISTA disse...

A ideologia da liberdade de mercado, do liberdade do empregador, esconde a supressão da liberdade do vendedor de trabalho, do empregado.
A oposição ao salário mínimo em nome da concorrência é a oposição aos direitos humanos em nome da apropriação unicamente privada das mais valias.
A defesa do fim do salário mínimo em nome de que há sempre alguém disponível para trabalhar por um salário inferior é a defesa da barbaridade e da submissão à fome.
As "tretas" da liberdade são só para alguns - os que comem à conta do trabalho dos outros. Quando este defendem a sua liberdade os donos do regime chamam a GNR.
E tudo isto é parecido num pseudo-socialismo como o cubano, numa ditadura pró-fascista como a chinesa, em Portugal, nos Estados Unidos ou no Irão.
Até porque os regimes capitalistas de Estado também têm burguesia, por pequena que seja.

L. Rodrigues disse...

Não sei, filipe melo sousa,
neste blog vejo muito mais vezes invocar Keynes do que Marx.

Tem a certeza de que está a usar todas as suas capacidades cognitivas quando faz comentários desses?

Se estiver, diria que é motivo para preocupação. Essa mania de que tudo o que está à esquerda de Friedman é "Comuna" tem laivos de patologia, na minha modesta opinião.

Anónimo disse...

Filipe Melo Sousa

Para mim cuba é o que é... está ma
à vista a pobreza, a muitos níveis, que lá se vive. Não há regimes políticos perfeitos... existem uns melhores que outros...

Agora meu caro, do alto da sua sapiência pueril, o amigo já postula certezas históricas, como se estas fossem objectivas. Tenha lá calma.

Já o estou a ver a comandar uma qualquer ilha do Atlântico... cheio de certezas do caminho a seguir que quem não partilhasse do seu "sonho" lá teria que saltar do barco, digo ilha. E já agora, aos imigrantes o que lhes chama?

Anónimo disse...

"Meses e meses a tentar demonstrar a primazia do marxismo"

quem é que está a tentar demonstrar a primazia do marxismo?