quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Tornar a pobreza visível


A redução da pobreza infantil no Reino Unido sempre foi uma das proclamadas ambições do novo trabalhismo. Era pesada a herança de Thatcher. O Reino Unido tinha, como ainda tem hoje, das mais elevadas taxas de pobreza infantil da Europa. A tendência de ligeira redução inverteu-se no ano passado quando o número de crianças pobres aumentou em cem mil. Quando uma em cada três crianças está nesta situação sabemos que o neoliberalismo fracassou. Um estudo publicado hoje revela o fenómeno em toda a sua extensão. Escolhas trágicas como resultado da falta de recursos - refeições que se saltam, casas por aquecer. Mas ao menos aqui o fenómeno é conhecido. Os jornais falam disto. Publicam-se estudos e relatórios. O assunto faz parte da agenda política. Já em Portugal, o fenómeno permanece largamente invisível. Do ponto de vista do governo «socialista» percebe-se bem que assim seja. Seria muito embaraçoso ter de admitir que as suas políticas têm, pelo menos, perpetuado este problema. Notem que eu gostava bem de ser contrariado neste assunto. Com estudos que mostrem que estou errado. E que a pobreza infantil tem afinal diminuido nestes anos de crise. Seria a melhor demonstração de uma aposta política.

3 comentários:

Pedro Sá disse...

Trata-se de um falso problema. O problema é a pobreza, ponto. Não merece mais atenção por ser infantil ou deixar de o ser.

João Rodrigues disse...

Por uma lado tem razão. Por outro lado, há várias razões, que hei-de desenvolver numa posta em breve, para destacar a pobreza infantil. Razões de principio e instrumentais. Que têm que ver com questões de vulnerabilidade, dependência e possibilidades de desenvolvimento pessoal e intelectual e com os nossos sentimentos morais em relação a estes assuntos. O mesmo raciocinio se aplica aos idosos. Mas por agora chega.

Pedro Sá disse...

Pois parece-me que a questão se torna clara a partir do momento que toda a vida humana tem a mesma dignidade. Nem mais, nem menos.

Se há coisa que sempre me irritou até às últimas foi a enunciação das, p.ex., "25 vítimas, incluindo 10 crianças", como se a vida desses 10 valesse mais que a dos outros 15.