terça-feira, 13 de novembro de 2007

O futuro do socialismo depois de Hayek

Nikolai Bukharine afirmou um dia que o grande adversário do marxismo é a «escola austríaca» de economia. Referia-se provavelmente à crítica de Bohn-Bawerk à teoria marxista do valor e da exploração. Bukharine teve a oportunidade de frequentar o seu famoso seminário em Viena antes da revolução bolchevique o tornar «o favorito de todo partido». No século XX, F. Hayek, cujas obras Bukharine já não teve oportunidade de estudar, encarregar-se-ia de mostrar até que ponto era verdadeira a sua afirmação. Creio que, com Ludwig von Mises, é o adversário intelectual mais poderoso de todos os socialismos. A ideia central de Hayek é que só uma ordem de mercado é capaz de mobilizar e dar bom uso ao «conhecimento particular do tempo e do lugar» que cada indivíduo possui, dando-lhe a oportunidade e os incentivos para prosseguir livremente os seus planos e para realizar «explorações no desconhecido» de que todos acabamos por beneficiar. Hoje ninguém de esquerda o pode ignorar. Pensar o socialismo implica assim uma confrontação séria com a crítica de Hayek ao planeamento e com a sua defesa das virtudes epistémicas, políticas e morais do mercado.

É isso que faz Theodore Burczak. O resultado é um livro elegante que parte de uma crítica imanente a Hayek, integra a sua ideia do mercado como processo, repensa a teoria da exploração e usa diversos recursos teóricos (a teoria das «capacidades» de Sen e de Nussbaum, por exemplo) para defender um «socialismo hayekiano» centrado na democracia no espaço da produção e no desenvolvimento das capacidade humanas (mostrando que a justiça social não é uma «miragem»). Tenho alguns reparos a fazer a algumas escolhas metodológicas e teóricas e a um eclectismo intelectual excessivo. Acho também que aceita com demasiada facilidade a visão hayekiana, algo idealizada, do mercado. Mas há muito tempo que não lia um livro de economia política tão fascinante. Pelos vistos os meus adversários predilectos - «os austríacos» - concordam, visto que uma das suas associações científicas acaba de o considerar o livro do ano de «economia austríaca».

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