terça-feira, 7 de agosto de 2007

A política operária também é uma política de alianças

Daniel Oliveira sobre o recente acordo entre o BE e o PS: «Numa cidade com a importância de Lisboa, um candidato por ele [BE] apoiado será testado no poder. Com alguma sorte e muito trabalho mudará alguma coisa concreta na vida de pessoas concretas. Para a próxima, em vez de votos descontentes terá, se merecer, alguns votos de contentamento. Bem sei que para quem procura a pureza na política será uma desilusão. Só que a pureza está destinada aos santos. E Deus nos livre dos santos da política. Ou são inúteis ou são perigosos». Concordo inteiramente.

Alguém é capaz de arranjar o comunicado («o acordo da vergonha») da Política Operária que bate forte e feio no BE? Gostaria de ver se existem mais argumentos para criticar à esquerda o acordo para além do recurso a processos de intenção resumidos num «querem mais é integrar-se no sistema para o governar melhor» (resumo das citações que constam do Público de hoje).

8 comentários:

Esquerda Comunista disse...

Da "Política Operária" não sei, mas recomendo-te a leitura dum artigo muito bom do Lenine, intitulado "Nenhum compromisso?" e que está publicado pelas Edições Avante na colectânea "Obras escolhidas".

Os revolucionários não enjeitam, por princípio, acordos com os reformistas. Tudo depende do TIPO de acordo e em que CIRCUNSTÂNCIAS se processa o mesmo.

Uma aliança de esquerda na cidade de Lisboa era e é a única solução para os problemas da cidade.

Mas neste caso, o PS meteu o Bloco no bolso! Do que nós estamos a falar é duma veração minoritária PS/BE que tem ainda de enfrentar uma maioria de direita na Assembleia Municipal.

O mesmo é dizer que os termos do acordo são letra morta. não valem sequer o papel em que foram escritos pois não há a mínima garantia de que aquilo que lá está venha a ser efectivamente aplicado.

Até agora, o Bloco não conseguiu nada a não ser o pelouro dos jardins e cemitérios, mas já fez um grande favor ao Costa.

De resto, duvido que os eleitores que votaram no Sá Fernandes desejassem ESTE acordo, NESTAS circunstâncias.

Voltaire disse...

Caro "Ladrão" O referido acordo está disponível para consulta no blog "Coimbra é Nossa", que se encontra na seguinte morada:

http://coimbraenossa.blogspot.com/

Espero que tenha sido utíl.

Diogo disse...

Completamente de acordo com o Rui Faustino: «De resto, duvido que os eleitores que votaram no Sá Fernandes desejassem ESTE acordo, NESTAS circunstâncias.»

O BE nunca mais terá o meu voto!

xatoo disse...

caro "ladrão" JR
a crítica ao "acordo da vergonha" feito pela P.O. que pede não existe online. É melhor comprar a revista (vende-se aqui) e ler.
Mas, como um radical é aquele que começa a crítica a partir da raiz dos problemas, é melhor começar a formar opinião do principio, a partir daqui:
"É impossível aprender seja o que for do Verão de 1975 se não se puser no centro da análise a oposição de interesses entre o proletariado e a pequena burguesia “revolucionária”. Isto parece insuportavelmente “sectário”. No entanto, o êxito demasiado fácil do 25 de Novembro obriga a examinar com mais atenção a política seguida pelo PCP, pela ala esquerda do MFA e pelos grupos da “esquerda revolucionária”.
ler o resto aqui

gentedelisboa disse...

Caro Rui: Enganas-te! Com o João e comigo já tens pelo menos 2 eleitores.

É verdade que o pelouro do Sá Fernandes não é absolutamente central na luta de classes (se bem que os nossos amigos eco-marxistas poderão discordar de nós), mas o que o BE conseguiu foi mais do que isso: Enquanto o acordo durar sabemos que as políticas municipais estão ancoradas à esquerda. A tua biblioteca não vai fechar ou ser entregue a privados e tu não vais para o olho da rua para reduzir custos.

Com o PS sózinho (com os socritinos a mandar), ou pior, com o PS em acordo político com a direita, tu e os teus colegas a recibo verde teriam muito mais razões para se procuparem.

Se achas que um acordo de políticas entre o BE e o PS dá origem a políticas iguais ás do PS ou (pior) iguais às do PS em acordo com o Carmona, então já não compreedo mesmo nada do teu raciocínio... Tens mesmo em muito baixa consideração quer o PS (não compreendendo que é uma realidade que ainda assim não é homogénea), quer sobretudo o próprio BE.

Se achas que o acordo necessitava da chancela dos nossos camaradas ultra-sectários do PCP, então tens mesmo o BE em muito má conta...

Quanto às circunstâncias, não direi que são as melhores, mas direi que são precisamente elas que nos empurram para o acordo.

Que sinal queres tu dar aos eleitores de esquerda nestas circunstâncias? "Nas autárquicas, o BE estará sempre na oposição, ao PSD ou ao PS, a não ser que o PCP e o PS se entendam num acordo programático" É isso? Mais vale dizer logo "em 2009, para uma política de esquerda na CML, votem PS ou PCP porque nós realmente não temos credibilidade nenhuma"

Ainda outra falácia: Vereação Minoritária PS/BE? Mas tu achas que quando formos taxar os proprietários de fogos devolutos, o PCP e a Rosta vão votar contra a maioria, juntamente com o PSD e Carmona?!

Ou tu achas que - como o BE "está no bolso" do PS - o BE não vai ter força para conseguir que a CML taxe a propriedade devuluta em dobro? Ainda assim, se assim pensas, com certeza não acharás que estamos mais próximos de consegui-lo assim do que o estando o PS só, ou com Carmona no executivo? Não? Porque falta o PCP para fazer toda a diferença?

Mais uma vez: É óbvio para mim que o PCP, num acordo de esquerda para a cidade, era muito importante. Mas nós não podemos ficar reféns da sua chancela! Eles estão numa deriva sectária que põe o Cunhal e o Luis sá à volta no túmulo e nós ficavamos à espera, não investindo um único cêntimo na construção de uma alternativa política de esquerda, nem sequer à escala da gestão municipal?

Não tenho dúvidas que não tens razão nenhuma! Ainda assim, acho que o Sá Fernandes devia dar o teu nome a um jardim. ;)

1 abraço
Bernardino Aranda

João Rodrigues disse...

Obrigado faustino e rui pelas referências. Concordamos Faustino: «Uma aliança de esquerda na cidade de Lisboa era e é a única solução para os problemas da cidade».

Não acho que o BE devesse fazer depender a sua participação num acordo da participação de outras forças (PCP e Roseta) ou da composição da AM. Acho que o BE tem de ser autónomo. É evidente que não há garantias que o acordo seja respeitado. Em política nunca há. Mas vale a pena lutar por ele e pelo que lá está escrito. Para o BE e para a cidade foi um avanço que respeita o compromisso eleitoral assumido.

gentedelisboa disse...

Caro Xatoo e outros: Para o Chico Martins, ao que parece, todo o compromisso é colaboração de classes. Todo o compromisso envolve desistir de lutar contra o status quo. A revolução tem de vir, um dia, sem concessões. É só para ela que devemos trabalhar, sem atracções fatais pelos esquemas mais conjunturais.

Como já se precebeu, enquanto comunista, não acho que essa seja uma via credível ou viável de se conseguir alguma coisa. Mas por isso estou envolvido com um partido, que concorreu às eleições, que procurou eleger 1 verador para o executivo e que disse que esse vereador fazia falta para fiscalizar mas também para fazer propostas, que tinha apresentado mais de 40 e que muitas foram aprovadas, inclusive por maioria, etc, etc.

Também é por aquilo que chico martins não está em nenhum partido nem terá votado em nenhum nestas eleições ou nas anteriores

O que não precebo é como é que se pensa ou se afirme que a maioria dos votos no Sá Fernandes (ou mesmo uma parte significativa de votos, mesmo sendo minoritária) tenha votado nele "ao engano", desejando que ele não participasse nos jogos de correlação de forças dentro do executivo que determinam o poder e se remetesse, por princípio, para a oposição, independentemente da eventual convergência programática que lhe fosse proposta...

Por incrivel que pareça a alguns, as pessoas votam nos partidos para ver se as suas propostas são implementadas e se os seus candidatos governam!

Bernardino Aranda

xatoo disse...

caro JR
1 - discordamos, disse: "Uma aliança de esquerda na cidade de Lisboa era e é a única solução" - este raciocicio parte de um pressuposto errado, que "é de esquerda" seja lá o que isso fôr dentro do paradigma neoliberal. Quer-nos explicar? o que é ser de esquerda neste contexto? e o que é que a direita faria se fosse eleita? não seria a mesmissima coisa? - por acaso a base em que se fundam ambas as gestões não partem do mesmo entendimento de motor económico: o uso da propriedade dos solos para especular com urbanizações de utilidade duvidosa? feito de modo mais soft ou mais à-má-fila como Carmona/PSL? - a diferença é de estilos, é de mera ocultação da opinião pública das questões essenciais.
2 - O segundo passo que este governo da cidade vai dar é desanexar os terrenos sob jurisdisção do Porto de Lisboa. Provavelmente não se atreverão para já a aprovar projectos megalómanos nesses espaços para uso de politicas ao serviço de elites transnacionais. Mas deixam tudo preparado e em aberto para o próximo executivo o fazer. Com um ou outro partido no poder. Sempre quero ver o que é que o Zé vai dizer sobre isso. Zero, vai uma aposta?
3 - Finalmente, aquilo que o JR pediu era a crítica da Politica Operária ao acordo PS-BE ( e não uma cópia do acordo ps/be em si) - está aqui, incluida neste post que escrevi ontem. Faça favor.