sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Zé faz a diferença? (II)

As reacções a este acordo também contribuem para que esteja convencido do seu acerto. Na extrema-direita, por exemplo, multiplicam-se os sinais de preocupação em relação à eventual perda de capacidade de intervenção do Bloco de Esquerda à escala nacional. Algo que, agora com mais seriedade, parece também preocupar certos sectores de esquerda. Acho esta ideia da contaminação da intervenção por acordos, que serve de justificação ao PCP para recusar compromissos políticos com o PS na capital, bizarra. Em primeiro lugar porque os termos concretos deste acordo ancoram a política municipal à esquerda e contrariam tendências fortes à escala nacional. Em segundo lugar, estou convencido que este acordo, em vez de enfraquecer a oposição de esquerda às políticas neoliberais do PS à escala nacional, lhes dá um novo fôlego e credibilidade. Porque mostra a todos que esta não é movida por nenhuma posição de princípio contra o PS, mas é antes o resultado de uma séria avaliação das consequências negativas das políticas adoptadas.

O Bloco pode também superar assim a ideia feita de que é apenas uma força de protesto sem qualquer capacidade de influenciar o que quer que seja. Em suma, acho que este acordo ajuda a romper com uma situação que só favorece a direita dentro e fora do PS. De facto, nada é mais negativo, do ponto de vista político e eleitoral, do que a ideia de que uma força política ancorada à esquerda está por princípio contra convergências por medo de ser contaminada pelo poder e pelas abdicações ideológicas que este acarretaria. Quem tem confiança nas suas ideias não tem medo do poder político quando a oportunidade para a ele ter acesso se lhe apresenta. Lisboa ainda pode ser um interessante laboratório político.