Não podendo recorrer à taxa de câmbio, nem à pauta aduaneira, nem ao apoio público
aos produtores nacionais, a forma mais simples de um governo promover a
competitividade económica do seu país é reduzir os custos para as empresas.
Entre esses custos, os mais relevantes são os salariais e os fiscais. Ou seja, no
seio da UE os governos são incentivados, na prática, a reduzir os impostos
sobre os lucros e rendimentos mais elevados, as contribuições das empresas para
a segurança social e os direitos laborais.
Neste processo, a capacidade financeira dos Estados degrada-se. Para tentar
compensar a perda de receita fiscal e contributiva, aumenta-se o peso dos
impostos indirectos (como o IVA) no financiamento dos Estados. Mas esses
impostos penalizam mais os mais pobres do que os mais ricos. Menos direitos
laborais, impostos mais regressivos e menos Estado Social resultam em
sociedades mais desiguais e menos coesas. Por isso, também, mais dispostas ao
conflito.
Por acção ou omissão, este plano inclinado está inscrito nas regras em
vigor na UE. Alterá-las já era difícil, uma vez que implicam mudanças nos
Tratados, o que exige unanimidade entre os Estados Membros. O alargamento da UE
para mais do dobro de países e as crises sucessivas que têm assolado a Europa
tornaram ainda mais improvável a obtenção de consensos para alterar aquela
deriva anti-social.
Não é preciso ser “antieuropeísta” (o que quer que isso signifique) para identificar
aquele viés no processo de integração europeia. Podemos e devemos valorizar o
contributo que a CEE deu para o regresso da paz à Europa, depois de séculos de
conflitos recorrentes. Podemos e devemos reconhecer nas instituições europeias elementos
cruciais de aprendizagem colectiva e de promoção do diálogo e cooperação entre
povos e entre Estados. Tal não significa que da UE só venha bem ao mundo, ou
que podemos transformá-la de repente em algo melhor só porque gostaríamos muito
que isso acontecesse. Ser céptico sobre o que é e o que pode ser a União
Europeia é uma questão de bom-senso.
O resto do meu texto pode ser lido no Público de hoje, em papel ou online.
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