Se subir as taxas de juro hoje, tal não fará descer os preços da energia.
Christine Lagarde
O problema é que a pressão dos credores para que o BCE as suba não cessa de se intensificar, com reflexos já nos mercados de dívida, por via do alargamento do diferencial entre as taxas de juro dos países centrais e as dos países periféricos. Este alargamento é o resultado da redução da compra de dívida pelo Banco Central, acompanhada do anúncio do seu fim em Junho próximo. A promessa de não subir as taxas de juro em 2022, feita há alguns meses, foi, entretanto, renegada. Sabendo nós que o Banco Central controla, se assim o desejar, as taxas de juro em todas as maturidades nos mercados de dívida, a pressão ascendente é tão política quanto política tem recentemente sido a situação de financiamento barato do Estado português.
A subida das taxas de juro é, de resto, uma forma ineficiente e injusta para resolver os eventuais problemas inflacionários. A quebra do investimento e da procura, em geral, e o aumento do desemprego, em particular, são os mecanismos recessivos que daí resultariam, em especial nas periferias europeias endividadas. As respostas têm de ser sectoriais, como a pressão nos preços, mas estas respostas colocariam em causa a sabedoria económica convencional. Por exemplo, se queremos ter energia mais barata, então controlemos publicamente este sistema de provisão, insistamos no controlo de preços, na senda das tarifas eléctricas reguladas, e invistamos maciçamente nas energias renováveis. E, claro, façamos tudo para que a guerra seja superada por uma solução política negociada, que evite também a escalada sancionatória em curso.
Mais um excerto do artigo que o Paulo Coimbra e eu escrevemos para o Le Monde diplomatique - edição portuguesa.
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