segunda-feira, 23 de maio de 2022

Meia dúzia


1.
Estima-se que os grandes capitalistas, de sectores que vão da alimentação à energia, estejam hoje 453 mil milhões de dólares mais ricos do que há dois anos. O fenómeno global tem declinações nacionais: por cá, as Paulas Amorins e os Soares dos Santos deste desgraçado capitalismo têm motivos para sorrir. É que nem um modesto imposto extraordinário à italiana os irá perturbar, quanto mais controlos de margens e de preços. 

2. O governo continua apostado em fingir que as taxas de juro dependem do cumprimento de regras orçamentais perpetuamente austeritárias, da infame credibilidade junto dos “mercados”. Toda a gente sabe que as taxas de juro dependem das decisões políticas do Banco Central Europeu. Tal fingimento serve um propósito: naturalizar a brutal redistribuição do trabalho para o capital em curso, à boleia da perda de poder compra que está a ser imposta aos trabalhadores do sector público. 

3. Os EUA parecem apostados em bloquear qualquer solução diplomática na Ucrânia, em nome de uma guerra sem fim que lhes permita exportar gás e armas sem fim para a Europa, ao mesmo tempo que reforçam a subordinação política da UE à NATO, ganhando balanço para o confronto com a China. E isto quando o enfrentamento das alterações climáticas, certamente a maior ameaça à segurança, depende da cooperação entre estes dois países.

4. Um insuspeito ex-chefe do Estado-Maior do exército garante-nos o seguinte: “Grande parte dos avultados apoios financeiros à Ucrânia são para pagar às indústrias de defesa, nomeadamente à americana, o armamento que lhes é fornecido. Sabemos, no entanto, os lucros astronómicos que aquelas indústrias conseguem e a vantagem que têm com o prolongamento das guerras.” 

5. Os governos alemão e francês, apesar de atrelados à NATO, ou seja, aos EUA, tentam salvar uma réstia de autonomia, dadas as consequências, incluindo económicas, do prolongamento da guerra. São logo admoestados pelos guerreiros de sofá nacionais, bem representados na Assembleia da República. “Não contribui para o isolamento da Rússia Macron e Olaf Scholz estarem a falar com Putin ao telefone”, garante o sempre intrépido Marcos Perestrello do PS, imaginando-se certamente em Washington. 

6. Marcelo até diz que Portugal é beneficiário líquido da situação. Confunde Portugal com alguns círculos de negócios. A miopia de classe da elite dominante é estonteante. Uma economia frágil e dependente, sem instrumentos de política decentes, será profundamente afetada, a começar na perversa subida da taxa de juro pelo BCE.


3 comentários:

Anónimo disse...

As regras perpetuamente autoritárias desta velha europa têm de ser afrontadas e obviamente que essa afronta não virá dos partidos que no passado e no presente insistem em não cumprir a constituição. Quando a igualdade não é o objetivo a lógica coletiva de um lugar deixa de fazer sentido, não por acaso as pessoas vivem a atropelar-se umas ás outras, as pessoas sentem que tudo é cada vez mais escasso e o papel dos governos é e tem sido naturalizar esta realidade. O progresso é visto como uma utopia, vejam bem ao que chegamos...

Anónimo disse...

António Costa guardado por Neo-Nazis em Kiev.........VERGONHA.

Anónimo disse...

Vivemos numa época de macartismo épico. A economia do ódio defendida por Úrsula Van der Leyen e por Joe Biden é anti-Rússia. Biden já ameaçou também a China.
O Campo de Tortura de Guantánamo é o coração e a alma da NATO. O macartismo épico acha que parece mal falar da tortura em Guantánamo, porque é uma barbárie democrática.
Os neoconservadores querem um Mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos, militarmente e economicamente.