Jornal Público, 19/4/2012 |
Há dez anos, o Ministério da Economia do primeiro Governo Passos Coelho/Paulo Portas, coordenado pelo ministro Álvaro Santos Pereira (actual director dos estudos nacionais da OCDE), apresentou um estudo que visava sustentar a política levada a cabo. Neste caso, tratava-se de tornar mais barato despedir ao reduzir as compensações por despedimento, supostamente aproximando-as do nível médio europeu.
O objectivo declarado era tornar o emprego mais fácil, por ser mais fácil despedir. Mas na realidade o objectivo era o de promover uma redução salarial, com vista a melhorar a competitividade geral da economia, de modo a promover uma expansão das exportações. A medida abordada no estudo integrava, pois, um conjunto articulado de medidas que fragilizaram a segurança no emprego, reduziram o preço do trabalho, acentuaram o tempo de trabalho (parte desse acréscimo deixou de ser pago e o que foi pago soifreu um corte substancial), transformaram dias de descanso em dias de produção, fragilizaram o papel sindical, fragilizaram a negociação e a contratação colectiva e, no final de tudo, reduziram as compensações por despedimento e cortaram a duração e o montante do subsídio de desemprego, como forma a obrigar os despedidos a aceitar salários menores, tudo sob a "bandeira" de acabar com a subsídio-dependência.
O objectivo foi atingido. Mas agora quem defendeu essas medidas chora pelo facto de os salários mínimos se aproximarem dos salários médios e que os baixos salários estão a contaminar a economia. Mas o grosso das medidas então aprovadas ainda vigora, produzindo os mesmos efeitos.
Entretanto, nesse mesmo dia, a guerra era revelada.
Jornal Público, 19/4/2012 |
Não há guerras diferentes. As guerras geram mais guerra. Já nessa altura se dizia isso, mas tal como agora de pouco serve. A política externa dos diversos países, mesmo das ditas democracias liberais, são dos aspectos menos escrutinados pelos povos e menos abordados nas campanhas eleitorais. E quando as guerras são para ser lançadas, as opiniões públicas são devidamente preparadas pela comunicação social, por forma a que se aceite a violência bélica. Tudo é facilidade, os combates são para demorar pouco tempo. A vitória é rápida, cirúrgica e certa. Ninguém vai morrer. Apenas os "maus". As imagens distribuídas provam-no.
Os problemas vêm depois. A divulgação das imagens que contrariam as imagens oficiais são estigmatizadas, tidas como crimes ou violação do segredo de Estado e, nalguns casos, prendem-se os "insurrectos". As comunicações e a correspondência são diariamente violadas. E, no final, ninguém esquece os mortos, o caos e a destruição criada. "Destruição criada" é uma contradição diabólica, quase parecida com aquele grito de 1936 - "Viva a morte". A guerra continua. A guerra é permanente.
3 comentários:
A treta do costume e a espoja sobre a barbaridade russa...confere!
"As guerras geram mais guerra."
Se for uma guerra nuclear deixa de haver guerras...
Talvez continue a existir guerra, podem ver que tipo de guerras e sociedade vão existir nos filmes Mad Max.
Tenho a certeza que a Ana Gomes e outros "esquerdas" euro-liberais que andam a tentar meter a NATO em confronto directo com a Rússia vão ser muito felizes no mundo pós-apocalipse nuclear…
“os combates são para demorar pouco tempo” – esta é a propaganda que os panfletos de propaganda de “referência” difundem, a realidade é que a guerra é para durar o máximo possível porque essencialmente a guerra é um negócio, a NATO é parte deste negócio.
A NATO não mais é que um esquema que os interesses que dominam os EUA e o seu Estado, os que produzem armamento, arranjaram para manter o negócio da guerra sempre a bombar! Estes interesses adoram a guerra no Iraque, na Líbia, na Síria, no Afeganistão e agora adoram o que se está a passar na Ucrânia!
Caro José,
Se a desatenção pagasse imposto, o José estaria depenado. Mas neste caso eu acho que quer se mostrar desatento para melhor vender o seu peixe enviesado.
Vamos ser claros: abominamos todas as guerras porque não há nada mais estupidamente destruidor e mortífero do que uma guerra que tudo arrasta consigo, sobretudo os povos envolvidos, tudo geralmente em proveito de meia dúzia de pessoas que lucram com essas guerras. E então nesta o rol é claro, se não quiser estar tão "desatento" ao que interessa.
Mas neste caso, Putin é capaz de ser um rapaz muito mais da sua lavra do que da nossa, a julgar, primeiro, pelas ideias económicas que estiveram na base da destruição nos anos 90 de um país como a Rússia - "ajudadas" pelos rapazes norte-americanos nomeadamente do FMI sempre tão diligentes a querer desmembrar a propriedade pública e entregá-la a "oligarcas" que, toda a gente sabe, são bem mais eficientes do que os Estados. Veja-se a eficácia com que exportam capitais desnatados do Estado (ou seja dos russos) para contas pessoais em offshores controlados pelo mundo ocidental...
Aio José, que distraído anda...
Nessa questão das apropriações privadas dos bens públicos, há muito que contar. Se calhar há muitos mais agressores do que aqueles que tanto gosta de invocar. E não há esponjas suficientes no mundo para limpar tamanha carnificina.
Têm é melhor imprensa...
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