quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
A superioridade moral com sangue nas mãos
Putin é um crápula e a sua guerra é infame. O conflito que agora começa é um miserável espetáculo de perdas humanas por conveniência do imperialismo russo.
Dito isto, as virgens morais das sanções económicas também querem isolar Israel do comércio e das transações financeiras internacionais? Ou o bombardeamento diário de casas na faixa de Gaza merece o vosso relativismo? O quilo moral da criança despedaçada de Gaza está mais baratinho do que o das crianças de Kiev, não é?
Geopolítica não são índios contra cowboys. São impérios a disputar áreas de influência e nenhum deles é puro. Todos se aliam à pior escumalha se isso significar a conservação da sua influência. Às vezes entram com tanques, outras matam líderes eleitos, outras ainda apoiam Estados que fazem o trabalho sujo em seu nome.
O único caminho sem sangue nas mãos é o não-alinhamento. Os apoiantes de Putin são abjetos. Mas tanto como aqueles que se sentam nas cimeiras da NATO e se dizem democratas e pelos direitos humanos. Falta a paciência para o desequilíbrio mediático no tratamento destes assuntos.
O sentimento de impotência para acudir ao povo ucraniano faz com que alguns se deixem encantar pela fábula das guerras que pretendem a paz e a democracia. Sempre que foram tentadas, falharam. A transformação necessária não vem de nenhum tipo de contra-invasão externa. Isso é só adicionar guerra à guerra. A transformação emancipatória só pode provir dos próprios povos.
Não ao expansionismo russo, não à NATO. Não à guerra, sim à paz.
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11 comentários:
Passou mais tempo a arrengar contra a NATO do que contra a Rússia.
Neste momento, a razão está do lado de cá, mas o Diogo Martins aproveita para fazer mais um exercício de whataboutism.
E já agora, se Putin é aquilo que diz, o que está ainda a fazer aqui, a compartilhar este espaço com quem apoia o Presidente Russo, com o pretexto de defender um mundo multipolar?
Vá-se embora, se ainda tem vergonha na cara!
Parabéns, Diogo Martins, pelo seu texto. Está muito americano.
Merece até um «pin» da CNN pelo exemplo que está a dar aos seus colegas aqui neste blog pró-russo ou soviético.
O «American Club of Portugal» deseja-lhe sinceras felicitações a si e a toda a sua família.
P.S. Excelente a gravura que pôs de um britânico e de um francês a trincharem o Mundo entre si. De facto, tem muito a ver com a realidade que estamos a assistir.
Sim a paz,mas que paz?
Aqui vai a posição do PCP perante a escalada de guerra, tal como foi assumida hoje mesmo na AR (vídeo e texto da intervenção de João Oliveira
https://www.youtube.com/watch?v=2gF2LEFA52o
https://www.pcp.pt/defender-paz-travar-escalada-de-confrontacao ):
"(...) O Governo dos Estados Unidos e o complexo industrial-militar americano são os verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa e estarão certamente dispostos a sacrificar até ao último ucraniano ou europeu para a promover.
Por outro lado, registamos o recente discurso de Putin, com afirmações que incorporam concepções próprias da Rússia czarista e que criticam decisões que, no quadro da União Soviética, resolveram a questão das nacionalidades reconhecendo os direitos dos povos e garantindo a paz por mais de 70 anos. Sendo hoje a Rússia um país capitalista, o seu posicionamento é determinado no essencial pelos interesses das suas elites e dos detentores dos seus grupos económicos e apesar de os orçamentos militares dos países da NATO serem dez vezes superiores ao da Rússia, não é expectável que a Rússia, cujo povo conheceu na história colossais agressões, venha a considerar aceitável que o inimigo esteja acampado nas suas fronteiras ou lhe faça um cerco militar por via de um ainda maior alargamento da NATO.
Tal como não é expectável que a Rússia aceite que o mesmo resultado seja alcançado por via da acção do regime xenófobo e belicista instaurado na Ucrânia na sequência do golpe de Estado de 2014 e que envolveu o recurso a grupos fascistas e que nunca, até hoje, cumpriu os acordos de Minsk (1).
Foi este o caminho que foi seguido para trazer o mundo até aqui e é este o caminho que o PCP condena".
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(1) https://www.un.org/press/en/2015/sc11785.doc.htm
Diogo Martins, a sua solidariedade para com o povo palestiniano merece elogios. Já o mesmo não se pode dizer do restante texto, a começar pela reles insinuação contida no título. A sua visão é, na verdade, pouco menos unilateral do que aquilo a que se assiste diariamente em qualquer tv. Aí, será normal. No "Ladrões de bicicletas" esperar-se-ia um pouco mais de honestidade. Olhe para um mapa onde estejam assinaladas bases da NATO, e depois pense (se for capaz) que sentido tem, nesse contexto, falar do "expansionismo russo" como principal problema e único responsável pela actual situação.
«E já agora, se Putin é aquilo que diz, o que está ainda a fazer aqui, a compartilhar este espaço com quem apoia o Presidente Russo, com o pretexto de defender um mundo multipolar?»
Por uma vez na vida, esta frase de Jaime Santos faz sentido.
Sim, Diogo Martins, devemos chorar pelas crianças de Kiev, como também usar a criancinha palestiniana no texto, pois dá mais impacto e comove os Jaimes Santos e os Artures Neves que andam por aí.
Esta guerra nada tem a ver com batalhões ucranianos que andam fardados com suásticas nazis e siglas das «SS» nos seus camuflados (a 14.ª divisão, mas conhecida pela «Galizien»), a aterrorizar as regiões de Donetsk e Lugansk há oito anos, nada disso. Nem terá a ver com crimes de guerra praticados nas mesmas regiões e que até levaram ao silêncio do Diogo Martins durante esse tempo. Tal como não tem nada ver com a provocação de pessoas que fazem a saudação nazi e evocam o líder Stepan Bandera, coautor de massacres praticados contra russos, polacos e judeus, na grande guerra; porque essa guerra o povo do Diogo Martins não a sofreu e nem quer saber disso para nada. É lá com eles, não é assim?
Esta guerra, afinal, tem a ver com o expansionismo da Rússia e com esse crápula do Putin.
Tem toda a razão nisso, Diogo Martins, nem que para isso tenha de usar as crianças de Kiev no seu texto - as criancinhas de Kiev, com tochas iluminadas em qualquer manifestação em memória por Stepan Bandera.
Excelente o seu texto, Diogo Martins.
Apenas falta analisar se desarmar a Ucrânia significa libertá-la do sentimento neonazi que domina o seu exército e que foi há pouco tempo armado pelos EUA e pela NATO, como também perceber se existirá punição para os que fizeram o golpe de Maidan, alguns deles integrados no exército ucraniano (uma espécie de para militarismo igual ao que existe na Indonésia).
Se a Rússia combate o fascismo e nazismo com armas, fará um bom trabalho por si, Diogo Martins? Ou será que é melhor desconsiderar tudo o que estão a fazer, em comparação aos crimes já cometidos pelo governo sediado em Kiev?
A propósito de equivalência multipolar:
– A paz não é a ambição dominante do Homem enquanto indivíduo, muito menos enquanto homem, muito menos enquanto homem de poder que o mesmo é dizer de lutador pelo poder.
– A paz é ambição do género humano, na sua organização compósita de género e de agrupamentos em famílias e nações.
– E só porque as democracias são as únicas que dão voz ao género humano na sua expressão colectiva, é que os poderes em democracia podem ser fortes sem maior risco de serem sempre ou por mais tempo violentos ou inimigos da paz.
A equiparação de poderes sempre proposta por certa esquerda, é a atávica e fixada luta contra os símbolos do poder capitalista, e sempre se fixam com particular naqueles que por praticarem a democracia política não podem deixar de reconhecer-lhes valores morais e cívicos que lhes atrapalham a doutrina que defendem e que, bem sabem, sempre ter que ser fundada em práticas autoritárias em períodos alegadamente transitórios mas que sempre se eternizam em dominação e terror.
É assim por muito boas razões que Putin aparece como mais próximo propiciador de uma qualquer transição para esse modelo de sociedade do que qualquer sociedade democrática.
A Rússia combate o fascismo? Ninguém diria, tendo em conta o apoio contínuo às "repúblicas populares" de Donetsk e Luhansk, a hipotética confederação Novorrossyia, que por acaso é um projecto neo-nazi e cujo grande ideólogo, Aleksandr Dugin, é um dos fundadores do grupo neo-nazi Partido Nacional Bolchevique e um dos grandes pensadores do "eurasianismo", uma espécie de nacionalismo étnico mal parido... Deixem-se de imbecilidades e de brincar à geopolítica burguesa. Não há aqui ninguém a "apoiar" (como se isso fizesse alguma diferença), a não ser as classes trabalhadoras no fogo cruzado de facções fascistas e governos burgueses. O resto é paleio roto de liberais a brincar à política.
Este Jose é lírico. No fundo, também está com o batalhão «Azov» (e memória da divisão «Galizei») no cerco à cidade de Mariopol. O desespero dos homens da extrema direita sofre por saberem que vão acabar em breve. Na Ucrânia é uma questão de tempo. No caso do José perdura até ao momento em que o próprio se apercebe que os seus atos e palavras são insignificantes.
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