Na sua crónica semanal no Expresso, Daniel Oliveira mobiliza o conceito de porno-riquismo, que forjei em artigo no Le Monde diplomatique - edição portuguesa para dar conta do consumo conspícuo na época das desigualdades pornográficas. E isto desde que os ricos, ali para 1989, deixaram temporariamente de ter medo de novo. Fá-lo agora para criticar o falocentrismo de milionários norte-americanos, os que vão ao espaço enquanto trabalhadores são compelidos a urinar em garrafas nos seus armazéns.
Hoje, até alguns socialistas de direita, como Seixas da Costa, acham que ninguém tem nada a ver com a forma como esta gente gasta o seu dinheiro, no que se enganam redondamente. Em primeiro lugar, as fortunas resultam do trabalho de outros e do concurso de Estados e por isso têm de ser alvo de escrutínio público. Em segundo lugar, as grandes fortunas transmutam-se em poder político, pelo que os seus usos e abusos são bem públicos.
E há mais lugares, muitos mais, claro. Isto não vai vai lá só com a força de argumentos, requerendo-se também argumentos de força.
6 comentários:
Em linguagem serena. É essencial escrutinar a forma como qualquer milionário enriquece. É importante perceber se o dinheiro foi obtido de forma legal, se todos os deveres fiscais foram cumpridos. Por outro lado, deve existir um corpo legislativo suficientemente rigoroso para impedir que o dinheiro ganho venha a ser utilizado para “compra” de poder político, nomeadamente para formatar as leis em seu favor. Depois de tudo isto, a riqueza deve ser “envergonhada”? Só na filosofia “woke”.
Jeff Bezos tem um iate tão grande que vem acompanhado com outro mais pequeno, e o iate mais pequeno tem um heliporto!
"Jeff Bezos' superyacht is so big it needs its own yacht"
https://edition.cnn.com/2021/05/10/business/jeff-bezos-yacht/index.html
No comment...
O raciocínio do Francisco Seixas da Costa, sofre da petição de princípio de que enferma qualquer social-democrata: atribui ao Estado e ao corpo institucional que o serve, uma posição de equidistância entre indivíduos que, fruto de uma mera equiparação estatutária de natureza jurídico-política, são considerados iguais entre si. Partindo daí, tudo se resolve por via da lei e da justiça, naturalmente. Que essa equiparação jurídica não conduz de modo algum a que todos os sujeitos partilhem a mesma posição de homens e mulheres livres e iguais entre si, sabemo-lo pelo menos desde os alvores do século XIX e da por muitos assim chamada "questão social". Surpreende por isso é que em pleno séc. XXI, alguns que se reclamam para si a condição de sociais democratas e socialistas, insistam nessa falácia absoluta, desmontada aliás e com a simplicidade que o contexto exigia, nesta dicotomia aqui trazida pelo João Rodrigues, entre os poucos que não têm limites e os muitos para quem a liberdade não passa de um conto de fadas. Agora, o Francisco Seixas da Costa vai-me fazer o favor de não invocar como argumento o carácter mais judicioso e empreendedor de uns (o empreendedorismo, é de facto e à evidência, uma manifestação preclara de doença infantil do sistema capitalista) contra o desmazelo e preguiça de outros. É que depois de Adam Smith, houve um barbudo bem conhecido que deitou por terra esses contos infantis para adultos adormecidos. Não Francisco, não se iluda (se é que está iludido), nem nos tente iludir, que já somos todos crescidos. Não são anacronismos circunstanciais do sistema capitalista que conduzem a estas insuportáveis aberrações (e de tantas outras aqui poderíamos falar, valha-nos Deus): estas aberrações são o fruto consequente de um sistema e das suas insanáveis contradições e entropias. A única reforma que nos pode valer, é por conseguinte a sua superação.
Sem falsos moralismos nem invejas pouco edificantes, valeria a pena monitorizar aqueles que donos disto tudo nunca foram capazes de deixar lugares estratégicos na banca, surripiando aquilo que era dos que trabalharam arduamente, apesar de terem idade para para se "reformarem" douradamente. Agora que são chamados a uma espécie de justiça, dizem que não têm saúde e são dementes. Grandes cidadãos.
Caro Francisco Seixas da Costa, em linguagem serena deixe-me dizer-lhe que o facto de o dinheiro dessas pessoas ter sido conseguido de forma legal e os impostos terem sido cumpridos não deve ser satisfatório para validar do ponto de vista da justiça social todos os excessos destas pessoas.
Amazon had to pay federal income taxes for the first time since 2016 — here’s how much
Amazon had sales income of €44bn in Europe in 2020 but paid no corporation tax
Amazon founder and CEO Jeff Bezos paid a true tax rate of 0.98% as his wealth grew by a staggering $99 billion between 2014 and 2018; he reported just $4.22 billion in reported income during the same period.
Como pode observar nas ligações acima, aquilo que naturalmente também sabe, o que é pedido a cada um em termos de impostos não é igual para todos. Ainda que estas coisas sejam do conhecimento público vale sempre a pena dar uma vista de olhos. Serenamente ainda, a
crítica é mais do que natural e a pessoas com a sua responsabilidade e imagem ficaria muito bem o aplauso à crítica em vez da tentativa de cobertura das desigualdades.
João Castro
Mas qual serenidade?
Chama invejosos, medíocres e etc. a quem se atreva a criticar um multimilionário que paga mal, força o pessoal a mijar em garrafas para não parar, proíbe e esmaga sindicatos.
E ainda faz de conta que não sabe que esses privilégios são comprados aos políticos que legislam.
E ainda usa o argumento do pagamento de impostos que usam os que se piram com as massas que ganham cá para bancos e sedes nas Caimões - que pagaram os impostos que tinham de pagar -
Se isto não merece respostas ordinárias -
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