terça-feira, 6 de julho de 2021

Economia Política do Euro


Este livro de Sergio Cesaratto, com tradução para inglês publicada em 2020, é um precioso contributo para uma análise crítica, rigorosamente fundamentada, da armadilha insustentável que é a União Económica e Monetária. Um livro obrigatório para os académicos que se reivindicam da Economia Política e para todos os cidadãos que pretendam aprofundar o seu conhecimento da economia enquanto instituição profundamente articulada com o Estado e a cultura de cada país. Deixo-vos uma pequena amostra que traduzi da página 261.

"O facto é que uma união monetária de países economicamente heterogéneos só pode sobreviver se for baseada na união política, nomeadamente na vontade dos membros mais ricos de ajudar os membros mais pobres através de um grande orçamento federal redistributivo e de um banco central que sustente a política  orçamental federal, enquanto os estados locais mantêm os seus orçamentos equilibrados: por outras palavras, as restrições orçamentais de Maastricht fariam sentido se fossem completadas por um grande orçamento federal redistributivo. É claro que os membros mais pobres, sustentados por transferências federais, são um mercado para os membros mais ricos. Mas este mercado precisará sempre de esmolas dos povos dos estados ricos. Estes últimos pensarão duas vezes em aderir a uma união política com tais consequências e, de facto, na Europa isso nunca acontecerá. Preferem emprestar, não dar, aos Estados mais pobres, embora a história ensine que o resultado dos empréstimos é muitas vezes uma crise de dívida.

E então, Prof? Assim, na ausência de qualquer inclinação para a união política, teria sido melhor que todos os Estados da Europa mantivessem as suas próprias moedas e fizessem acordos para estabilizar as taxas de câmbio, que poderiam ser ajustadas quando os "fundamentais" já não as justificassem. Seria necessário assegurar que as taxas de câmbio fixas não estimulam os empréstimos internacionais que culminam numa crise da dívida, e corrigir as assimetrias da governação do sistema monetário europeu. A tragédia é que o mercantilismo alemão continuaria a ser um problema neste contexto. Porém, tentar governá-lo com uma moeda única, foi o clássico salto da frigideira para o fogo."

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