O resultado foi apresentado por alguns jornais como uma poupança, mas a experiência da última crise diz-nos que este é um erro que se paga caro: em plena crise, a contenção orçamental não só é errada, como agrava a própria dívida pública. Na última crise, os países que aplicaram programas de consolidação orçamental (i.e. austeridade) mais acentuados foram os que viram a dívida pública em % do PIB crescer mais nesse período, como se vê no gráfico acima, publicado pelo economista Philipp Heimberger. Isso acontece devido ao paradoxo da poupança descrito por Keynes: se o Estado tentar poupar em contextos de incerteza elevada, em que as famílias e empresas também apostam na poupança e recuam nas decisões de consumo e investimento, todos acabam com menos rendimento, já que a redução da procura agregada tem como efeito a contração da atividade económica e da produção. É por isso que estes países foram também os que tiveram uma recuperação mais lenta após a última crise - é o resultado das cicatrizes deixadas pela austeridade.
Há outros dados que ajudam a avaliar a resposta à crise. A estimativa divulgada anteontem pelo INE aponta para que, em 2020, Portugal tenha tido a maior quebra do PIB de que há registo (uma queda de cerca de 7,6%), sublinhando que "a procura interna apresentou um expressivo contributo negativo para a variação anual do PIB, devido, sobretudo, à contração do consumo privado". Embora as medidas de confinamento e a restrição das atividades económicas expliquem boa parte do recuo no consumo, este também pode estar relacionado com a insuficiência dos apoios públicos às famílias, sobretudo tendo em conta que Portugal foi o país europeu que registou maior quebra salarial entre o 1º e o 2º trimestres do ano passado (foi de 13,4%, face à média europeia de 6,5%, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho). Enquanto as Finanças poupam nos apoios e continuam a dar prioridade à contenção do défice, a espiral recessiva de quebra do consumo e aumento das falências e do desemprego acentua-se. Com isso, o governo não só não responde aos problemas de quem perdeu rendimento no curto prazo, como se arrisca a agravar as vulnerabilidades da economia no longo prazo. O barato pode sair bastante caro.
7 comentários:
"a palavra de ordem no Ministério das Finanças continua a ser contenção"
É a mão invisível de Pedro Passos Coelho.
Não é a mão invisível de PPC. Essa mania de endeusar um medíocre e caceteiro troikista e mais além apenas serve para lhe fazer propaganda.
É a mão bem visível da governança neoliberal, subordinada a Bruxelas e à UE
Isto devia abrir todos os telejornais e ser o tema principal dos debates nos canais de notícias. Custa a crer a dimensão das “poupanças” num ano de pandemia! É um escândalo. Todos os portugueses deviam ficar indignados.
PS - em relação ao comentário anterior, poderia ser obra de PPC mas estamos em 2021. É a escola Centeno que não muda 1 centímetro nem com uma pandemia
Como é possível que tal continue a acontecer num governo socialista apoiado/sustentado pelo BE e PCP???
É o que dá termos um governo que obedece à UE
Pelo que é preciso mudar mesmo para um governo mais à esquerda. Simples.
Já agora, só mesmo a direita encavalitada no Chega , chama socialista a este governo
Correção.
Como é possível que tal continue a acontecer num governo do Partido Socialista apoiado/sustentado pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista Português???
Um personagem emenda a mão, depois de ter resvalado para a linguagem dum achegado ao chega
Só mesmo alguém assim, pode conseguir chamar "socialista" a este governo
Este emendar de mão é simultaneamente esclarecedor e cómico
Esclarecedor porque depois do apontar da sua boutade de direita extremista, se apressa a tentar corrigir o disparate, assim desta forma tão apressada
Cómico porque este é um governo que se mantém amarrado aos ditames da UE. E continua com a política que se vê. Mas lá na Holenda querem um governo assim mais como aquele governante holandês que nos insultou a todos.
E mandam-nos este canastrão impingir-nos o dote
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