terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Não é propriamente liberdade

No dia em que o frio chegou não tínhamos aquecedor. Os dias que se seguiram foram passados dentro de cobertores e mantas. Para estética do inverno não estava mau. Fechados em casa, ficámos reféns do isolamento térmico possível, cortesia de décadas de um negócio da construção em Portugal. Por vezes, parecia que lá fora a temperatura era mais agradável. Porém, o confinamento obrigou-nos ao sedentarismo e os pés e as pernas gelaram, a humidade instalou-se sobre os ombros e as mãos só encontraram conforto dentro das mantas. O frio paralisou-nos dentro da nossa própria casa. 

A generosidade de um amigo trouxe-nos um pequeno aquecedor a óleo que instalámos na sala. Não foi preciso muito tempo para o quadro da luz avisar que há que estabelecer prioridades: ou aqueces a casa ou lavas a roupa, as duas ao mesmo tempo é que não vai dar. Não é propriamente liberdade de escolha. Há uns anos, com uma vida um pouco mais desafogada, pouco antes da entrada da troika, cheguei a pagar perto de 200 euros de eletricidade no mês de Janeiro. Agora, cá por casa, um confinamento geral no inverno ameaçava os nossos rendimentos e ignorar os consumos energéticos por causa do bem-estar não era uma opção.

Não deixem de ler o resto do artigo de Jorge C. no AbrilAbril. 

Começa e acaba numa primeira pessoa do plural familiar para muitos; pelo meio mostra que há, que pode haver, sociedade, mais do que indivíduos e suas famílias isoladas, vulneráveis, perante o grande capital. Para isso, é preciso política democrática, para que as pessoas não acabem nelas mesmas, é preciso um nós contra um eles. Eles também são empresas como a EDP, e os que a privatizaram, empresas que foram furtadas ao controlo democrático, com lucros privados e com custos sociais transferidos para tantas famílias privadas da liberdade que é positiva. 

E isto para não falar na falta que faz o investimento público, um grande programa de isolamento térmico de casas por essa país afora: questão de justiças social, ambiental e laboral. Já que isto está tudo ligado, atentem nos batedores da direita, os que querem furtar ainda mais liberdade aos de baixo, transferindo-a para os de cima. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Mt bom.
“ Ê preciso um nós contra um eles”.