quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Atentismo económico


Como assinalou recentemente Ricardo Cabral, uma quebra realista de 8,5% do PIB nacional em termos nominais em 2020 será superior ao montante que o país receberá em subvenções do fundo europeu nos próximos anos: 18 mil milhões versus 15,3 mil milhões. 

Entretanto, confirma-se, uma vez mais, que o défice orçamental é uma variável endógena, dependente do andamento da economia que por sua vez o influencia por via dos estabilizadores automáticos e da variação discricionária de despesa: as receitas caem a pique, mas o governo tenta conter um crescimento da despesa pública que é absolutamente indispensável para, compensando o recuo sem precedentes da despesa privada, suster a queda do PIB. 

Cabral prescreve um aumento rápido do investimento público, que está nos valores mais baixos de sempre, o que faz todo o sentido, tendo também em conta o ambiente económico deflacionário e, consequentemente, as baixas taxas de juro. No entanto, os constrangimentos europeus foram de tal modo interiorizados que não se pode realmente esperar muito mais do que um atentismo económico contraproducente. Se é verdade que o investimento público só pode subir, nunca subirá o suficiente para fazer a diferença macroeconómica e nunca será dirigido por um Estado estratega com um mínimo de autonomia para fazer a diferença em termos sectoriais neste contexto estrutural.

Mas quem acompanhe a opinião dominante até pode ficar com a ideia que o país terá, graças à generosidade europeia, uma grande oportunidade para o desenvolvimento, a não desperdiçar, sendo só preciso garantir que o Estado português não gasta tudo em vinho. É a mesma ilusão europeísta de sempre, acompanhada do descontextualizado número dos milhares de milhões. 

A história diz-nos que desenvolvimento não virá do exterior, ainda para mais num contexto de crise sem precedentes, num país sem instrumentos decentes de política e submetido a um crescente controlo político pela burocracia europeia, e com uma elite que já desistiu há muito de os recuperar, sujeitando-nos assim a uma vulnerabilidade e frustração cada vez maiores.

4 comentários:

Anónimo disse...

A ilusão desta união europeia de merceeiros vai sair cara a todos os europeus.
A desintegração será "festejada" com mais um banho de sangue.

JE disse...

União europeia de merceeiros?

Isso é como chamar meninos de coro holandês a quem é abutre de alto coturno. E é um insulto aos merceeiros, honrada e velha profissão

E cara a todos os europeus? Mas e os "europeus" a quem isto engorda?

(Já os "festejos" parecem coisa de outro coro.Por sinal também holandês)

Aleixo disse...

"...uma elite que já desistiu há muito de os recuperar..."

e, continua empenhada em blindar os centros de decisão.

Eles ADORAM (!) os constrangimentos europeus.

Nem com o COVID, a digitalização chega aos centros de decisão.

É só olhar... para os partidos políticos!

Eles gostam é de intermediários!

JE disse...

O "aleixo" adora...

repete há anos as mesmas bojardas...o mesmo paleio enjoativo sobre os partidos, adninistrando-nos como se fossem coisas todas iguais

Como se um joão pimentel ferreira fosse igual a um honesto trabalhador que vive do seu esforçado trabalho.Ou um aldrabão fosse igual a um cidadão impoluto

" Os políticos são todos uns privilegiados e uns corruptos. O André Ventura é que está lá a bater-lhes forte. Quando alguém aponta uma crítica generalizada aos políticos, ao estilo “são todos farinha do mesmo saco”, a primeira questão que se deve colocar é “qual é a sua alternativa?”. É que uma posição, legítima, é apontar o comportamento oportunista e corrupto de uma determinada personalidade. Outra é estendê-la a toda a comunidade política eleita. Este argumento é sempre perigoso porque pretende espalhar a lama sobre todos os eleitos e, por extensão, sobre a própria democracia. O corolário do argumento é que precisamos de deitar toda essa tralha fora e eleger o salvador, o chefe, que irá expurgar o sistema de todos os seus podres e males (não soa nada a fascismo, pois não?). Nunca esclarecem por que motivo o chefe e os seus correligionários, uma vez eleitos, não teriam exatamente as mesmas pulsões corruptas de que acusam os outros."

Diogo Martins há dias. No alvo


É só olhar para o travesti holandês e ver como este actua