Temos de subir muitos metros até voltarmos a ver a luz
Fica aqui a minha entrevista ao Dinheiro Vivo sobre a Grécia, a austeridade e as alternativas. (A transcrição da gravação não é a melhor possível, mas dá para perceber a ideia.)
9 comentários:
Anónimo
disse...
Boa resposta no Expresso ao merdas do Taborda da Gama, filhinho família de um dos maus presidentes que a AR teve nos últimos anos, mas ainda assim visto como presidenciável por gente que devia ter juízo.
Ricardo Paes Mamede tem vindo a ter um discurso que faz todo o sentido. Pega no bisturi e vai por aí, corta a direito. Do ponto de vista técnico, parece ser perfeito. Mas tropeça naquilo a que lhe falta o jeito, ou a formação, ou incapacidade de análise, ou porque já tenha assimilado os conceitos básicos da teoria do arco da governação.
Quando afirma "tem havido uma postura, do BE e do PCP, de não assumir responsabilidades de governação. Nenhum destes partidos alguma vez apresentou-se para governar. A intervenção tem sido típica de um partido de protesto - muito útil e importante - mas limitativa. Quando querem ver um partido a governar nunca pensam no BE e no PCP." ignora que, sendo isso o que o eleitor pensa, não há condições objectivas para aqueles partidos fazerem parte do poder. A questão é pois da correlação de forças, mais do que a postura dos partidos.
De facto, há uma consciência política muitos diversa entre o povo português e o grego. Quando o PCP, em Março de 2011, recusa receber a troika tal acto foi repudiado, em bloco, por "toda a gente"; quando o Syrisa, recentemente toma posição semelhante, 70% do povo grego apoiou o gesto.
Gostava que Ricardo Paes Mamede discorresse sobre as seis linhas de orientação propostas pelo PCP e sobre as condições objectivas de ter outra resposta que não a de serem irrealistas, pois a essa luz, também o seriam (e são) algumas das propostas do Syriza... O PCP e o BE, um e outro, um ou outro, serão poder quando o povo português quiser e, por razões que Paes Mamede até pode entender, por enquanto ainda não quer.
Existe a possibilidade de virem a ocorrer diversas variantes sobre este comflito que opõe a Grécia ao Eixo dominante da UE que tem a colaboração de outros Governos dos quais sobressai o português.Uma possibilidade é a Grécia ceder à democracia da chantagem e o país continuar até ao esgotamento total dos seus recursos materiais e humanos. Se assin for Grecia a curto prazo ficará numa situação pior do que quando terminou a 2º guerra mundial,depois da ocupação Alemã, tornando a situação no mediterrâneo ainda mais perigosa da que se encontra hoje , numa instabilidade que vai da margem Norte à margem Sul e do Leste ao Oeste. Outra possibilidade é a expulsão da Grécia do Euro. Em qualquer dos casos o cenário é de nuvens negras não só para a Europa do sul como para toda Europa. Não nos podemos esquecer de dois factores importantes a Grécia tem hoje um Governo de Esquerda e está localizada geográficamente numa zona muito importante, fazendo parte da rota do petroleo. Pode vir a ser alvo de um processo de destabilização com vista ao derrube do actual Governo Grego.
não há da minha parte qualquer falta de vontade de perceber as posições do PCP, acredite. Se tenho algum problema politico, é mesmo o contrário.
Num momento como o actual, a passagem do seu comentário em que escreve "sendo isso o que o eleitor pensa" é tudo menos uma questão menor. Gostemos ou não(e eu não gosto particularmente), a maioria das pessoas vota para eleger um governo. O que significa que aqueles que não são capazes de convencer os eleitores de que existem para governar abdicam, à partida, dos votos da maioria dos eleitores. Dessa forma estamos condenados a ter razão o resto da vida, sem que isso sirva para nada de relevante na vida da maioria das pessoas.
Não quero mitificar o Syriza. É um partido composto de seres humanos, como todos os outros, com as suas potencialidades e contradições. Há um aspecto, porém, que valorize muito: a enorme flexibilidade táctica que tem revelado, que faz daquele partido maior esperançana actualidade para o povo grego e para os povos europeus. Podemos elogiar, com propriedade, os partidos da esquerda portuguesa por muita coisa. Flexibilidade táctica não é uma delas.
Sim, Ricardo, mas é tolice, para não dizer desonestidade intelectual, dizer que o PCP (do BE falarão outros) tem uma postura "de não assumir responsabilidades de governação", que "nunca se apresentou para governar", que a sua "intervenção tem sido típica de um partido do protesto", "muito útil e importante, mas limitativa", que, à exceção desta última ressalva, parecem afirmações saídas diretamente da boca de António Costa (até onde vai o mimetismo!).
O PCP apresenta-se sempre para governar e associa sempre o necessário protesto à busca de soluções e à proposta construtiva.
O PCP sempre defendeu que um governo de esquerda é uma necessidade imprescindível para abrir um caminho de progresso e justiça social para o país (e, no contexto atual, até mesmo para retomar o crescimento e recuperar o bem-estar social roubado aos portugueses).
Sempre se manifestou inteiramente disponível para, com outros partidos, organizações, movimentos, personalidades, constituir um governo que trave a política de direita e ponha em prática a política de esquerda que o país precisa.
Mas precisamente isso, uma política de esquerda, não a política de direita que, no fundamental, o PS em alternância com o PSD, com ou sem CDS, têm levado a cabo ao longo de décadas, para desgraça do nosso povo e do nosso país.
É uma pena que não retire da tática do Syriza a lição mais importante, aquela que lhe permitiu chegar ao governo como uma força transformadora, ou pelo menos uma vontade transformadora, de esquerda.
Não se aliar ao Pasok (o exato equivalente grego do PS). Não fazer acordos com o Pasok. Não se comprometer com o Pasok. Nem quando se era uma força muito pequena e parecia longe chegar ao governo, nem quando se era uma força grande e se estava à beira de conquistá-lo.
O mesmo para o caso português. Não branquear as gravíssimas responsabilidades do PS, pelo contrário, denunciá-las. Não alimentar ilusões no PS, combater a orientação e a prática política do PS (sem prejuízo de convergir, com o PS tal como com todos, em tudo o que possa beneficiar o nosso povo).
Naquilo que mais determina a vida coletiva do país, nas grandes questões estruturais, e infelizmente não só, responsáveis pelo subdesenvolvimento e degradação do país, os socialistas (cá o PS, lá o Pasok) juntaram-se aos conservadores (cá o PSD e CDS, lá a Nova Democracia).
Se há coisa que o Syriza percebeu muito bem foi isso mesmo. Nunca alimentou a mais pequena ilusão nos socialistas. Visto que os admira, pudesse essa grande lição fazer-lhe algum proveito.
as minhas inquietações sobre o posicionamento dos partidos à esquerda do PS, em que sempre votei, vêm de muito antes de haver António Costa na liderança do PS (veja, por exemplo, aqui: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2011/03/como-vamos-construir-o-caminho-para-o_6674.html).
Cada um tira as conclusões que lhe parecem mais acertadas sobre o caso grego. Eu valorizo a capacidade do Syriza para adaptar o seu discurso - e até rever o seu programa - de modo a tornar-se uma alternativa credível de governo, sem traír o que há de importante na sua intervenção. Sem isso nunca teria chegado ao governo. Já viu algum partido da esquerda portuguesa a fazer isso?
O anónimo dá por acertada a táctica adoptada pelo PCP e pelo BE - e parece que não vê outra possibilidade para quem não concorda consigo que não seja estar rendido ao PS. Pergunto-me se também acha que o Syriza se rendeu a alguém quando aprovou o programa de Salónica, propondo aos eleitores gregos um conjunto de medidas que não se afastam do que o Financial Times vinha defendendo para a Grécia.
Eu não o vejo a si como estando rendido a nada (não procure na minhas palavras expressões coomo "conforto do protesto", não as vai encontrar), apesar de não concordar consigo e de estar convencido de que se a esquerda portuguesa não arrepiar caminho, continuaremos a avançar de derrota em derrota. É que se estamos à espera da Pasokização do PS para convencermos os nossos concidadãos que é possível governar de outra forma, bem podemos esperar sentados.
Caro Ricardo Paes Mamede, podia até dizer que em larga medida o anónimo lhe respondeu o que lhe teria respondido. Mas acrescento duas coisas:
- a primeira, tem a ver com a tal flexibilidade táctica que, no meu entendimento, só pode existir depois (e não antes) de se "conseguir terreno" para poder ser aplicada e exercida na negociação de cedências que não comprometam a estratégia. Caso contrário, há o enorme risco de incorrer no tacticismo e, assim, não diferir muito da marca deixada pelo PS CDS e PSD;
- a segunda, tem a ver com a sua expressão "Pasokização do PS" como se esta ainda não tivesse acontecido. Não é preciso esperar o quer que seja a não ser a tomada de consciência por parte dos humilhados e ofendidos. E estes, tal como o Ricardo teve oportunidade de ouvir do (excelente) testemunho da médica grega presente no Prós-e Contras, são menos orgulhosos e terão muito menos genica que o povo grego.
Com certeza, isso é uma banalidade, qualquer partido, de esquerda ou não, distingue o seu programa político de fundo do seu programa a curto e médio prazo, nomeadamente do seu programa eleitoral, distingue a sua estratégia da sua tática, adapta a sua orientação, o seu discurso, as suas reivindicações e as suas propostas à conjuntura presente.
Para responder diretamente, claro que vi. Por exemplo, o PCP, que como é sabido tem como objetivo supremo a construção da sociedade comunista, antes disso luta por etapas intermédias, por uma rutura com a política de direita, por uma alternativa política de esquerda, por uma democracia avançada e pelo socialismo, com caraterizações e objetivos específicos para cada uma.
Por exemplo, embora desdobrada em múltiplas mediadas, pode-se sintetizar a sua proposta de uma política patriótica e de esquerda para o país:
- na renegociação da dívida, dos seus montantes, juros e prazos;
- na promoção e valorização da produção nacional e na criação de emprego;
- na recuperação para o controlo público de sectores e empresas estratégicas, designadamente do sector financeiro;
- na valorização dos salários, pensões e rendimentos dos trabalhadores e do povo;
- na defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, designadamente dos direitos à educação, à saúde e à protecção social;
- numa política fiscal que desagrave a carga sobre os rendimentos dos trabalhadores e das micro, pequenas e médias empresas e tribute fortemente os rendimentos e o património do grande capital, os lucros e a especulação financeira;
- na rejeição da submissão às imposições do Euro e da União Europeia, recuperando para o País a sua soberania, económica, orçamental e monetária.
É claro que na constituição de uma alternativa governamental com outras forças políticas há acertos e compromissos entre todos e o adiamento desta ou daquela proposta “mais avançada”, que aliás têm ritmos e exigem consensos diferentes, não constituiria decerto obstáculo a um entendimento. Só essa enorme margem de manobra e as diversas orientações das várias forças interessadas nessa alternativa bastariam para tornar disparatada a afirmação de que acuso de estar rendido ao PS quem não concorda comigo ou com a tática do PCP e do BE.
Não pode é haver – e isso sim, é uma vergonhosa rendição – a convergência para a continuação, no fundamental, da persistente política de direita, apesar de embrulhada por enquanto com retórica de oposição, como o PS, e só um ceguinho não vê, se prepara para fazer, aliás com cada vez menos pudor de o mostrar, como na recusa de uma reestruturação dos montantes, e mesmo de qualquer reestruturação, da dívida ou nas suas ridículas leituras “inteligentes” do tratado orçamental.
Partindo do princípio de que o leu, e que percebeu o seu evidente caráter propositivo para umas eleições que então se reclamavam, darei o desconto do enorme exagero de confundir o conjunto das medidas – e não apenas de algumas delas – do programa de Salónica do Syriza com qualquer coisa próxima do que o Financial Times vem defendendo para a Grécia (que aliás convém não tomar como as opiniões individuais expressas por este ou aquele colunista).
E sim, a pasokização do PS português, entendida como a diminuição eleitoral do PS, como sucedeu com o seu congénere grego, seria desejável e um grande progresso do quadro político partidário português. Em termos políticos, não há grande solução governativa enquanto não houver uma substancial alteração da correlação de forças entre o PS e os partidos à sua esquerda (especialmente da CDU, a mais sólida e consequente), com o esvaziamento eleitoral daquele em benefício destes.
Não sou irrealista e não espero sentado, faço por isso. Como não esperou sentado o Syriza em 2009, quando tinha 4,6% dos votos e o Pasok quase 44%. Quando não se rendeu a entendimentos com o Pasok, isto é, sejamos claros, à continuação da política de direita, que viria a dar, lá como cá, na política da troika, e preferiu “AVANÇAR de derrota em derrota” (vendo bem, nem é má expressão) do que “RECUAR de vitória em vitória”.
Entre "recuar de derrota vitória em vitória" e "avançar de derrota em derrota" havemos de encontrar o caminho justo, que consiga dar respostas que as pessoas compreendam e em que se revejam.
9 comentários:
Boa resposta no Expresso ao merdas do Taborda da Gama, filhinho família de um dos maus presidentes que a AR teve nos últimos anos, mas ainda assim visto como presidenciável por gente que devia ter juízo.
Ricardo Paes Mamede tem vindo a ter um discurso que faz todo o sentido. Pega no bisturi e vai por aí, corta a direito. Do ponto de vista técnico, parece ser perfeito. Mas tropeça naquilo a que lhe falta o jeito, ou a formação, ou incapacidade de análise, ou porque já tenha assimilado os conceitos básicos da teoria do arco da governação.
Quando afirma "tem havido uma postura, do BE e do PCP, de não assumir responsabilidades de governação. Nenhum destes partidos alguma vez apresentou-se para governar. A intervenção tem sido típica de um partido de protesto - muito útil e importante - mas limitativa. Quando querem ver um partido a governar nunca pensam no BE e no PCP." ignora que, sendo isso o que o eleitor pensa, não há condições objectivas para aqueles partidos fazerem parte do poder. A questão é pois da correlação de forças, mais do que a postura dos partidos.
De facto, há uma consciência política muitos diversa entre o povo português e o grego. Quando o PCP, em Março de 2011, recusa receber a troika tal acto foi repudiado, em bloco, por "toda a gente"; quando o Syrisa, recentemente toma posição semelhante, 70% do povo grego apoiou o gesto.
Gostava que Ricardo Paes Mamede discorresse sobre as seis linhas de orientação propostas pelo PCP e sobre as condições objectivas de ter outra resposta que não a de serem irrealistas, pois a essa luz, também o seriam (e são) algumas das propostas do Syriza...
O PCP e o BE, um e outro, um ou outro, serão poder quando o povo português quiser e, por razões que Paes Mamede até pode entender, por enquanto ainda não quer.
Existe a possibilidade de virem a ocorrer diversas variantes sobre este comflito que opõe a Grécia ao Eixo dominante da UE que tem a colaboração de outros Governos dos quais sobressai o português.Uma possibilidade é a Grécia ceder à democracia da chantagem e o país continuar até ao esgotamento total dos seus recursos materiais e humanos. Se assin for Grecia a curto prazo ficará numa situação pior do que quando terminou a 2º guerra mundial,depois da ocupação Alemã, tornando a situação no mediterrâneo ainda mais perigosa
da que se encontra hoje , numa instabilidade que vai da margem Norte à margem Sul e do Leste ao Oeste.
Outra possibilidade é a expulsão da Grécia do Euro.
Em qualquer dos casos o cenário é de nuvens negras não só para a Europa do sul como para toda Europa.
Não nos podemos esquecer de dois factores importantes a Grécia tem hoje um Governo de Esquerda e está localizada geográficamente numa zona muito importante, fazendo parte da rota do petroleo. Pode vir a ser alvo de um processo de destabilização com vista ao derrube do actual Governo Grego.
Caro Rogério Pereira,
não há da minha parte qualquer falta de vontade de perceber as posições do PCP, acredite. Se tenho algum problema politico, é mesmo o contrário.
Num momento como o actual, a passagem do seu comentário em que escreve "sendo isso o que o eleitor pensa" é tudo menos uma questão menor. Gostemos ou não(e eu não gosto particularmente), a maioria das pessoas vota para eleger um governo. O que significa que aqueles que não são capazes de convencer os eleitores de que existem para governar abdicam, à partida, dos votos da maioria dos eleitores. Dessa forma estamos condenados a ter razão o resto da vida, sem que isso sirva para nada de relevante na vida da maioria das pessoas.
Não quero mitificar o Syriza. É um partido composto de seres humanos, como todos os outros, com as suas potencialidades e contradições. Há um aspecto, porém, que valorize muito: a enorme flexibilidade táctica que tem revelado, que faz daquele partido maior esperançana actualidade para o povo grego e para os povos europeus. Podemos elogiar, com propriedade, os partidos da esquerda portuguesa por muita coisa. Flexibilidade táctica não é uma delas.
Sim, Ricardo, mas é tolice, para não dizer desonestidade intelectual, dizer que o PCP (do BE falarão outros) tem uma postura "de não assumir responsabilidades de governação", que "nunca se apresentou para governar", que a sua "intervenção tem sido típica de um partido do protesto", "muito útil e importante, mas limitativa", que, à exceção desta última ressalva, parecem afirmações saídas diretamente da boca de António Costa (até onde vai o mimetismo!).
O PCP apresenta-se sempre para governar e associa sempre o necessário protesto à busca de soluções e à proposta construtiva.
O PCP sempre defendeu que um governo de esquerda é uma necessidade imprescindível para abrir um caminho de progresso e justiça social para o país (e, no contexto atual, até mesmo para retomar o crescimento e recuperar o bem-estar social roubado aos portugueses).
Sempre se manifestou inteiramente disponível para, com outros partidos, organizações, movimentos, personalidades, constituir um governo que trave a política de direita e ponha em prática a política de esquerda que o país precisa.
Mas precisamente isso, uma política de esquerda, não a política de direita que, no fundamental, o PS em alternância com o PSD, com ou sem CDS, têm levado a cabo ao longo de décadas, para desgraça do nosso povo e do nosso país.
É uma pena que não retire da tática do Syriza a lição mais importante, aquela que lhe permitiu chegar ao governo como uma força transformadora, ou pelo menos uma vontade transformadora, de esquerda.
Não se aliar ao Pasok (o exato equivalente grego do PS). Não fazer acordos com o Pasok. Não se comprometer com o Pasok. Nem quando se era uma força muito pequena e parecia longe chegar ao governo, nem quando se era uma força grande e se estava à beira de conquistá-lo.
O mesmo para o caso português. Não branquear as gravíssimas responsabilidades do PS, pelo contrário, denunciá-las. Não alimentar ilusões no PS, combater a orientação e a prática política do PS (sem prejuízo de convergir, com o PS tal como com todos, em tudo o que possa beneficiar o nosso povo).
Naquilo que mais determina a vida coletiva do país, nas grandes questões estruturais, e infelizmente não só, responsáveis pelo subdesenvolvimento e degradação do país, os socialistas (cá o PS, lá o Pasok) juntaram-se aos conservadores (cá o PSD e CDS, lá a Nova Democracia).
Se há coisa que o Syriza percebeu muito bem foi isso mesmo. Nunca alimentou a mais pequena ilusão nos socialistas. Visto que os admira, pudesse essa grande lição fazer-lhe algum proveito.
Caro anónimo,
as minhas inquietações sobre o posicionamento dos partidos à esquerda do PS, em que sempre votei, vêm de muito antes de haver António Costa na liderança do PS (veja, por exemplo, aqui: http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2011/03/como-vamos-construir-o-caminho-para-o_6674.html).
Cada um tira as conclusões que lhe parecem mais acertadas sobre o caso grego. Eu valorizo a capacidade do Syriza para adaptar o seu discurso - e até rever o seu programa - de modo a tornar-se uma alternativa credível de governo, sem traír o que há de importante na sua intervenção. Sem isso nunca teria chegado ao governo. Já viu algum partido da esquerda portuguesa a fazer isso?
O anónimo dá por acertada a táctica adoptada pelo PCP e pelo BE - e parece que não vê outra possibilidade para quem não concorda consigo que não seja estar rendido ao PS. Pergunto-me se também acha que o Syriza se rendeu a alguém quando aprovou o programa de Salónica, propondo aos eleitores gregos um conjunto de medidas que não se afastam do que o Financial Times vinha defendendo para a Grécia.
Eu não o vejo a si como estando rendido a nada (não procure na minhas palavras expressões coomo "conforto do protesto", não as vai encontrar), apesar de não concordar consigo e de estar convencido de que se a esquerda portuguesa não arrepiar caminho, continuaremos a avançar de derrota em derrota. É que se estamos à espera da Pasokização do PS para convencermos os nossos concidadãos que é possível governar de outra forma, bem podemos esperar sentados.
Caro Ricardo Paes Mamede, podia até dizer que em larga medida o anónimo lhe respondeu o que lhe teria respondido. Mas acrescento duas coisas:
- a primeira, tem a ver com a tal flexibilidade táctica que, no meu entendimento, só pode existir depois (e não antes) de se "conseguir terreno" para poder ser aplicada e exercida na negociação de cedências que não comprometam a estratégia. Caso contrário, há o enorme risco de incorrer no tacticismo e, assim, não diferir muito da marca deixada pelo PS CDS e PSD;
- a segunda, tem a ver com a sua expressão "Pasokização do PS" como se esta ainda não tivesse acontecido. Não é preciso esperar o quer que seja a não ser a tomada de consciência por parte dos humilhados e ofendidos. E estes, tal como o Ricardo teve oportunidade de ouvir do (excelente) testemunho da médica grega presente no Prós-e Contras, são menos orgulhosos e terão muito menos genica que o povo grego.
Com certeza, isso é uma banalidade, qualquer partido, de esquerda ou não, distingue o seu programa político de fundo do seu programa a curto e médio prazo, nomeadamente do seu programa eleitoral, distingue a sua estratégia da sua tática, adapta a sua orientação, o seu discurso, as suas reivindicações e as suas propostas à conjuntura presente.
Para responder diretamente, claro que vi. Por exemplo, o PCP, que como é sabido tem como objetivo supremo a construção da sociedade comunista, antes disso luta por etapas intermédias, por uma rutura com a política de direita, por uma alternativa política de esquerda, por uma democracia avançada e pelo socialismo, com caraterizações e objetivos específicos para cada uma.
Por exemplo, embora desdobrada em múltiplas mediadas, pode-se sintetizar a sua proposta de uma política patriótica e de esquerda para o país:
- na renegociação da dívida, dos seus montantes, juros e prazos;
- na promoção e valorização da produção nacional e na criação de emprego;
- na recuperação para o controlo público de sectores e empresas estratégicas, designadamente do sector financeiro;
- na valorização dos salários, pensões e rendimentos dos trabalhadores e do povo;
- na defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, designadamente dos direitos à educação, à saúde e à protecção social;
- numa política fiscal que desagrave a carga sobre os rendimentos dos trabalhadores e das micro, pequenas e médias empresas e tribute fortemente os rendimentos e o património do grande capital, os lucros e a especulação financeira;
- na rejeição da submissão às imposições do Euro e da União Europeia, recuperando para o País a sua soberania, económica, orçamental e monetária.
É claro que na constituição de uma alternativa governamental com outras forças políticas há acertos e compromissos entre todos e o adiamento desta ou daquela proposta “mais avançada”, que aliás têm ritmos e exigem consensos diferentes, não constituiria decerto obstáculo a um entendimento. Só essa enorme margem de manobra e as diversas orientações das várias forças interessadas nessa alternativa bastariam para tornar disparatada a afirmação de que acuso de estar rendido ao PS quem não concorda comigo ou com a tática do PCP e do BE.
Não pode é haver – e isso sim, é uma vergonhosa rendição – a convergência para a continuação, no fundamental, da persistente política de direita, apesar de embrulhada por enquanto com retórica de oposição, como o PS, e só um ceguinho não vê, se prepara para fazer, aliás com cada vez menos pudor de o mostrar, como na recusa de uma reestruturação dos montantes, e mesmo de qualquer reestruturação, da dívida ou nas suas ridículas leituras “inteligentes” do tratado orçamental.
Partindo do princípio de que o leu, e que percebeu o seu evidente caráter propositivo para umas eleições que então se reclamavam, darei o desconto do enorme exagero de confundir o conjunto das medidas – e não apenas de algumas delas – do programa de Salónica do Syriza com qualquer coisa próxima do que o Financial Times vem defendendo para a Grécia (que aliás convém não tomar como as opiniões individuais expressas por este ou aquele colunista).
E sim, a pasokização do PS português, entendida como a diminuição eleitoral do PS, como sucedeu com o seu congénere grego, seria desejável e um grande progresso do quadro político partidário português. Em termos políticos, não há grande solução governativa enquanto não houver uma substancial alteração da correlação de forças entre o PS e os partidos à sua esquerda (especialmente da CDU, a mais sólida e consequente), com o esvaziamento eleitoral daquele em benefício destes.
Não sou irrealista e não espero sentado, faço por isso. Como não esperou sentado o Syriza em 2009, quando tinha 4,6% dos votos e o Pasok quase 44%. Quando não se rendeu a entendimentos com o Pasok, isto é, sejamos claros, à continuação da política de direita, que viria a dar, lá como cá, na política da troika, e preferiu “AVANÇAR de derrota em derrota” (vendo bem, nem é má expressão) do que “RECUAR de vitória em vitória”.
Entre "recuar de derrota vitória em vitória" e "avançar de derrota em derrota" havemos de encontrar o caminho justo, que consiga dar respostas que as pessoas compreendam e em que se revejam.
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