segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Leituras
«Olhando de forma objectiva para as pretensões Gregas, o que está a ser pedido são duas coisas: que a Europa reconheça que o ajustamento grego foi um fracasso, não porque os gregos não cumpriram, mas porque foram longe demais na austeridade; e que a Europa permita libertar recursos orçamentais para combater a gravíssima crise económica e social do país. Independentemente dos detalhes da proposta, trata-se de uma pretensão inteiramente razoável.
Num certo sentido, os Gregos limitam-se a pedir uma política orçamental mais amiga do crescimento e do emprego (e compatível com a razão). Ou seja, os Gregos não querem uma coisa assim tão diferente daquilo que a Comissão Europeia e o próprio BCE dizem querer para toda a Europa. Não sei se a proposta grega é ou não excessiva, mas tenho a certeza que o plano que foi acordado pelo anterior governo grego com os seus parceiros europeus fracassou, é inexequível e, por isso, tem de ser radicalmente revisto.»
João Galamba, Falemos de leituras inteligentes
«O que se pretende [Syriza] é um alívio substancial, mas não escandaloso, do fardo dos excedentes primários (ou seja, dos excedentes relativos ao pagamento dos juros), reduzindo as transferências para os credores de 4,5% para 1-1,5% do PIB. E também flexibilidade para alcançar esses excedentes, através de uma fórmula que inclua mais receita e menos cortes na despesa (austeridade). Ora, isto constitui uma abordagem tímida por parte destes radicais de esquerda: o que pedem são coisas absolutamente razoáveis. (...) De facto, toda a gente sabe que a dívida grega não pode ser paga na totalidade (...), restando apenas a questão de saber como se poderá gerir um valor inferior ao do pagamento total da dívida. (...) É por isso que eu não sei com que base pode a Alemanha rejeitar esta proposta da Grécia. Se a posição alemã é a de que a dívida deve ser sempre paga na totalidade, sem qualquer alívio substantivo (...), então a noção de que a Alemanha compreende a realidade está errada. (...) Neste momento, a proposta do Syriza é sensata. O próximo passo cabe aos credores.»
Paul Krugman, Quem é que não está agora a ser razoável?
«O poder na União Europeia está hoje em Berlim. Melhor: está em Angela Merkel e Wolfgang Schauble e, depois deles, em todas as suas correias de transmissão, desde primeiros-ministros e governos submissos, a economistas, universitários, analistas e comentadores, cada qual mais fundamentalista que o anterior. Ora o primeiro-ministro e o ministro das Finanças gregos, Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis, fizeram algo tão simples como colocar no topo dos seus interlocutores europeus o Parlamento, a Comissão e os Estados membros sem discriminação. É algo tão natural que ninguém se devia surpreender. Mas como nos últimos anos os líderes fracos que governam a Europa (e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que ocupou o cargo durante uma década) deixaram que o eixo do poder se movesse para a Alemanha sem qualquer oposição, a decisão grega surge quase como uma afronta à ordem estabelecida. Mas não. A ordem que existia até agora é que não é normal. (...) E por isso todos nós, europeus, temos de agradecer a Tsipras e a Varoufakis por estarem a devolver aos europeus o orgulho de pertencerem ao clube mais solidário e democrático do mundo.»
Nicolau Santos, Esparta não se rendeu a Xerxes. E não se renderá a Berlim
«Os adversários do Syriza, que são os "ajustadores inevitáveis", sabem que se deu um ponto sem retorno. Nós sabemos disso e eles sabem que nós sabemos que eles também sabem. Mas um ponto sem retorno não significa que o caminho seja unívoco, apenas que as coisas já não voltam para trás. Mesmo que, no fim de tudo isto, o Syriza seja varrido da governação, os gregos remetidos para uma maior pobreza, e os alemães e os seus aliados e colaboracionistas tenham conseguido domar a "revolta" grega, a paz podre destes últimos anos não mais voltará. (...) Eu também tenho um desejo simples e modesto, com muito poucas ilusões. Desejo que as coisas corram bem para os gregos, que eles comecem a sair do buraco infernal em que foram colocados, e que possam, pelo seu acto corajoso de votar contra o statu quo, mostrar que a ditadura da "inevitabilidade" é um deserto mental perigoso, útil para se subordinar Portugal aos poderes europeus e alemães, fragilizar a democracia e empobrecer os portugueses. É por isso que a milhas do Syriza se pode saudar a mudança que o Syriza trouxe a um mundo estagnado e pantanoso, maldoso e desigual. Não preciso de explicar mais nada, pois não?»
José Pacheco Pereira, Uma intensa nuvem de desejos
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5 comentários:
Porque será que a solidariedade é tão desejada (agora só) pelos povos do sul?
Será que os seus governos têm governado como os de Berlim e agora mudaram de rumo, passando portanto a ser a Merkl a culpada?
O resultado da boa governação grega vai dar frutos antes do verão?
1 -
«Não sei se a proposta grega é ou não excessiva» !!!!!!!
Tantas certezas, tantas sentenças, e há dúvidas sobre o óbvio!
Não se pasme, é Galamba.
2 -
Mais um demagogo que torna evidente que como nãu se paga a dívida também não há que pagar juros.
Não há perpétuas para ninguém, dixit.
3 -
Democrático mesmo é os gregos decidirem ficar com os meus impostos e o que se deseja é que quem elegemos nos carregue de impostos para dar aos gregos.
Todos estes cretinos continuam a pensar que sempre serão outros a pagar o pato!
4 -
O "buraco infernal em que foram colocados" os gregos já explica tudo.
Quem é pobre é sempre coitadinho, vítima das maiores malfeitorias, seja ladrão, madraçp ou simplesmente estúpido.
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