segunda-feira, 19 de maio de 2014

Leituras

 

«A saída limpa é uma divertida mistificação propagandística resultante do egoísmo da Europa, da montanha de dinheiro emprestado para almofadar 2015 e do excesso de liquidez nos mercados que prosseguem alegremente as suas guinadas. Tenho estado à espera que Montenegro explique que Portugal teve uma saída limpa, os portugueses é que não. Para esses a austeridade suja prossegue exactamente igual. Estamos muito mais pobres, super-endividados e igualmente submetidos aos humores dos mercados financeiros e aos rigores do ordoliberalismo europeu. A troika avisa que não volta, parece que tem um chicote muito comprido, não precisa de sair do sítio para nos chibatar. No entanto até Cavaco festeja a coisa, como se tivesse sido descoberto o caminho marítimo para o Redondo.»

Sérgio Sousa Pinto (facebook)

«Ninguém sabe da desgraça melhor do que os chefes, que vêm as arruadas vazias, os feirantes irritados e o povo aborrecido. Recorreram então, com a precisão de um relógio, ao último truque: acirrar a claque e, para isso, só se lembraram de uma ideia, fogo sobre Sócrates. (...) O cálculo é este: se já só resta pedir o voto da sua própria família, a raiva PSD e CDS a Sócrates deveria arrastar os apoiantes do governo para votarem no domingo. Se a reformada se esquecer da sua pensão e detestar Sócrates, está feito o milagre. Se o desempregado esquecer a sua vida e achar que deve ajustar contas com as derrotas do aparelho PSD de 2005 e 2009, então o partido está salvo. Portas faz de chefe de orquestra porque um guião é para seguir à letra.»

Francisco Louçã (facebook)

«Mistificação consiste em fazer alguém acreditar numa mentira. A mentira é que o processo da troika terminou com êxito, que Portugal tem hoje melhores condições para se desenvolver como país europeu e que a reforma do Estado proposta garante a criação de uma sociedade mais equitativa. (...) Portugal sai da Europa seguro pela trela curta do euro e do tratado orçamental. Não pode ir muito longe. Arranjará um lugarzito na soleira da porta da Europa, um país sem-abrigo por onde passarão regularmente as carrinhas da sopa humanitária. É digno de nós, como portugueses e como europeus, que não haja alternativas a este estado de coisas?»

Boaventura de Sousa Santos, A saída limpa... da Europa 

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