"Gostaríamos que em Itália surgisse uma lista cidadã, de cidadãos activos, uma lista de pessoas que escolhem Tsipras como um candidato para a presidência da Comissão Europeia. Não é fácil, porque temos muito pouco tempo para criar algo. Para fazer isso, precisamos de toda a intelegência de Tsipras, aquela que lhe permitiu formar uma coligação entre as várias áreas da esquerda grega. Uma coligação com prioridades bem definidas. É claro que não deve ser uma mera coligação dos antigos partidos de esquerda radical, porque ela não teria nenhuma hipótese de sucesso. Precisamos de algo maior, algo para sacudir a consciência da sociedade, indo além das margens muito estreitas das formações políticas existentes. Com o objetivo de unir as forças da sociedade afectadas pela crise".
Poucas semanas antes era lançado o manifesto (no diário Il Manifesto) que transcrevo abaixo. Um texto pouco habitual num país que se habituou a ver na Europa o modo de transcender as suas tensões e contradições internas:
Poucas semanas antes era lançado o manifesto (no diário Il Manifesto) que transcrevo abaixo. Um texto pouco habitual num país que se habituou a ver na Europa o modo de transcender as suas tensões e contradições internas:
"Ao Presidente da República, Giorgio Napolitano
Ao Presidente do Conselho de Ministros, Enrico Letta
Ao Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso
Ao Governador do Banco Central Europeu, Mario Draghi
A crise já dura há seis anos. Provocada por trinta anos de neoliberalismo, agrava, por sua vez, a pobreza e a desigualdade. Multiplica o exército dos desempregados. Destrói o Estado-Providência e desmantela os direitos dos trabalhadores . Compromete o futuro das gerações mais jovens . Produz uma regressão intelectual e moral geral. Mina os fundamentos das constituições democráticas que nasceram no pós-guerra. Alimenta o ressurgimento nacionalista e neo-fascista.
Concebida como um sinal de esperança, uma Europa unida, árbitro da cena política continental, representa hoje, aos olhos da maioria das pessoas, um poder hostil e ameaçador. E a própria democracia surge como um mero simulacro, ou pior, um engano perigoso.
Para quê? É a crise, como é habitual repetir-se, a causa imediata de tal estado de coisas? Ou são as políticas orçamentais que, por recomendação das instituições europeias, os países da zona do euro implementam para lhe fazer face, em conformidade com os princípios neoliberais? Nós acreditamos que esta última é a verdade.
Estamos convencidos de que a política económica adoptada pelos governos europeus, longe de combater a crise e promover a recuperação económica, fortalece a primeira e impede a segunda. Os tratados europeus prescrevem uma austeridade financeira que é incompatível com o desenvolvimento económico, bem como qualquer política redistributiva, de equidade e de progresso. Os sacrifícios impostos a milhões de cidadãos não só resultam em pobreza e sofrimento, mas, deprimindo a procura, também impedem o crescimento económico. Desta forma, a Europa, a região do mundo potencialmente mais avançada e próspera, arrisca-se a entrar numa trágica espiral de destruição.
Isto não pode continuar. É urgente mudar de rumo, atribuindo às instituições políticas, nacionais e comunitárias, a tarefa de implementar políticas expansionistas, e ao Banco Central Europeu a função prioritária de estímulo ao crescimento.
Se a obrigação de um equilíbrio orçamental surgiu até aqui como uma escolha forçada, manter essa atitude constituiria um erro imperdoável e seria a responsabilidade mais grave que uma classe dominante poderia assumir perante uma sociedade que tem o dever de proteger."
Encontrar o justo equilíbrio entre utilizar o principal espaço de democracia ao nosso dispôr - o nacional - e juntar forças com quem não desiste de uma Europa de progresso: eis um dos grandes desafios dos nossos tempos.
1 comentário:
Há um processo mais avançado em curso em Espanha, à volta da Izquierda Unida, embora de resultado ainda incerto. E em França uma dinâmica semelhante já vinha de trás. Há que continuar a tentar.
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