No Negócios, Nuno Aguiar e Rui Peres Jorge informam-nos que, segundo a OCDE, Portugal foi o país que mais liberalizou os despedimentos desde 2008, acentuando de resto uma tendência anterior; entre 2007 e 2012, a economia portuguesa perdeu um milhão de postos de trabalho e registou, em 2011 e em 2012, uma queda, respectivamente, de 6% e de 3,9% da remuneração salarial média. Só em 2013, poderão ser 220 mil empregos eliminados. É claramente preciso, em nome do “interesse nacional” aprofundar este sucesso neoliberal, esta combinação de austeridade recessiva e de reformas “estruturais” regressivas.
Entretanto, o Banco que não é de Portugal mostra-se preocupado – apesar das “reformas estruturais”, já que nunca reconhecerá que também é por causa das ditas – com o declínio estrutural da economia portuguesa. Há uma palavra estruturante do declínio que nunca é mencionada: euro. O que é mencionado, e bem, no relatório de Verão (p. 14) é o seguinte:
“No que diz respeito à componente empresarial do investimento, projeta-se uma queda de 8.0 por cento, após uma acentuada queda em 2012 (-12.1 por cento). A forte contração da procura no mercado interno e a estagnação da procura externa (…) deverão induzir o adiamento de decisões de investimento por parte do sector empresarial, em particular tendo em conta a existência de capacidade produtiva por utilizar na generalidade dos subsectores produtivos (…) A queda acumulada da FBCF [investimento] empresarial de 2009 a 2013 deverá ascender a 35 por cento, com implicações sobre a evolução do stock de capital, podendo dificultar a incorporação de inovação tecnológica e, por conseguinte, afetar o crescimento do produto potencial”.
No fundo, a conversa sobre a modernização em curso é uma fraude. O salvífico longo prazo, onde operariam apenas as forças ditas reais da oferta, não passa de um encadeamento de curtos prazos determinado pela procura. De resto, e em relação às previsões do Banco, Sérgio Aníbal diz hoje, no Público, o essencial:
“Apesar de reconhecer a existência de riscos, o Banco de Portugal manteve ontem inalterada a expectativa de que o país vai conseguir evitar uma espiral recessiva e, tal como tinha feito sem sucesso em 2012, repete a aposta de que a retoma da economia irá acontecer no ano que vem imediatamente a seguir (…) [É] fácil de concluir que nas suas previsões, o banco assume que, por cada euro de austeridade, o impacto na economia será claramente inferior a 1 euro. Isto é, o multiplicador da austeridade no PIB será, em 2014, inferior a um. Esta é uma premissa que, como se tem mostrado ao longo desta crise, se pode revelar arriscada. O FMI foi o primeiro a avisar que, em período de crise, o multiplicador pode ser bastante mais alto. E, ainda durante este mês, um estudo publicado por economistas do Banco de Portugal apontava para que o multiplicador poderia, no caso dos cortes de despesa, chegar a dois, isto é, por cada euro de austeridade, a economia perderia dois euros.”
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