segunda-feira, 8 de julho de 2013

A política de Gaspar continua...


O mesmo título pela quarta e última vez, mas agora com reticências. Este governo continua e continua, como Maria Luís Albuquerque já confirmou a quem manda a partir do exterior. Bom, a análise política tem de dar toda a atenção às determinações socioeconómicas da política neste capitalismo dependente, internas e sobretudo externas, e que neste contexto nem sequer foram ou são em última instância. A análise política tem de ser economia política.

Um das coisas mais impressionantes do miserável enredo político em curso, volto a sublinhá-lo, é a forma como Portas misteriosamente se esqueceu da sua base, errar é humano, como se esqueceu de avaliar bem os interesses capitalistas dominantes que sempre teve em consideração nas suas várias vidas. Levou uma lição nos telefonemas irados que recebeu dos donos disto. Agora está irremediavelmente preso ao governo, respondendo pela política deste como nunca. O reforço de Portas não é um sinal de força, mas sim de fraqueza, até porque perdeu toda a margem de manobra, toda a simpatia que a sua duplicidade anterior tinha suscitado entre os que andaram e ainda andam iludidos, assumindo uma hipótese benigna, com a narrativa da outra austeridade, aquela que não seria excessiva. O destino de Portas é agora o de um governo que contará sempre com o apoio de Cavaco, o qual nunca se enganou em relação aos interesses que contam e que não suportam eleições para já. Há que prender Seguro ao segundo resgate que aí vem. Só com documento assinado irá para o governo.

A força do actual governo continua a estar mesmo nos tais interesses com classe e nos aparelhos ideológicos que mobilizam, onde se inclui uma igreja com uma hierarquia sempre disposta a só deixar entrar pela porta principal quem conta. Os interesses são os dos credores, internos e sobretudo externos, em primeiro lugar, mas também os do grande capital industrial que ainda anda por aí e cujas tensões e sobretudo imbricações com o capital financeiro Pires de Lima simboliza. Agora vai ter de os gerir politicamente no modo evolução na continuidade de um capitalismo sem acumulação. Moreira da Silva, por sua vez, dará um ar de capitalismo esverdeado e modernaço que é sempre útil para disfarçar as predações já em curso e as que já estão sendo planeadas.

Já agora, notar a unidade programada da direita para as eleições europeias: faz todo o sentido, até porque sabem que os arranjos europeus realmente existentes e os que realmente existirão garantem a hegemonia da sua política. Poiares Maduro já provou saber entoar os amanhãs europeus que cantam e que ainda encantam uma esquerda destinada a ser permanentemente derrotada no que importa: precisamente na questão da hegemonia.

Nada de novo. O novo só pode mesmo surgir com o protagonismo político de outras classes, as subalternas, com uma outra articulação ideológica entre o económico e o político, com outro bloco histórico, com um movimento que funda a questão social e a questão nacional, nacional-popular, em suma.

3 comentários:

jvcosta disse...

"a análise política tem de dar toda a atenção às determinações socioeconómicas da política neste capitalismo dependente, internas e sobretudo externas, e que neste contexto nem sequer foram ou são em última instância. A análise política tem de ser economia política."

Concordo e já o tenho dito no meu "No moleskine", mas há que ter cuidado com más interpretações. Estamos a ver, à direita, a menorização da política face à "capacidade técnica" dos Gaspares e outros tecnocratas, como se a sua teoria e prática não fossxem profundamente políticas.

Carlos disse...

Lúcido e dramático. E tenho pouca esperança, confesso, que o Povo português tenha a força de resistência e de luta para alterar este Estado de Coisas. É um Povo amordaçado e que se deixa apaticamente manietar: veja-se as baixíssimas taxas de adesão à greve geral por parte dos trabalhadores do sector privado - é caso para perguntar: estão à espera do quê? É urgente reconquistarmos as bases materiais da nossa soberania. Mas tal só será possível se rompermos esse círculo mafioso que nos governa desde o 25 de Abril, e cujos pilares principais são o PS e o PSD (fazendo o CDS o papel de Vaca Sagrada): os 1º e 2º lugares das eleições deveriam ser entregues aos outros partidos que não estes. (na AR temos o PCP e o BE, fora da AR temos vários: PCTP/MRPP, POUS, etc). Mas teremos Povo para isto?!

Aleixo disse...

Para vencer esta luta entre a vontade e interesse da maioria (apeada!)
- ainda por cima,seduzida pela ilusão! -
e a vontade e interesse da minoria instalada no (Ferrari do) Poder,

a estratégia de combate é determinante.

A Esquerda só terá hipótese de vencer, se perceber que não pode aceitar jogar em casa do adversário!

Lutar na Europa,

- neste patamar,a minoria está ainda melhor calçada!Ferraris... Bentleys...Concordes !!! -

sem primeiro, ganhar cá em casa??!!

A Esquerda está obrigada a fazer a "reforma estrutural" do sectarismo ideológico...do estigma populista, proteccionista.

Se reivindico representar, não posso preterir!