segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Política económica e economia política


O pretexto é a eliminação dos feriados, mas o artigo de Rui Peres Jorge no Negócios vai mais longe, sendo de leitura altamente aconselhável para quem queira perceber os erros sistemáticos do Governo que tão caro estão a custar ao país: "Em plena crise de emprego e procura, o Governo insiste no erro de aumentar o número de horas de trabalho, ao arrepio das boas práticas internacionais (talvez a Alemanha, que fez exactamente o contrário, possa também ser consultada na frente laboral). Todos os indicadores disponíveis mostram que a capacidade utilizada na economia está em mínimos históricos, o que significa que simplesmente não há procura e muitas empresas estão a meio gás. É por isso que um aumento do número de horas não levará a um aumento da produção. Conduzirá sim a despedimentos da mão-de-obra que ficará em excesso, isto num momento em que mais de um milhão de portugueses já não tem trabalho - e em que as contas públicas bem dispensam mais encargos com apoios sociais." Mais um pretexto para cortar nos apoios sociais.

Perante isto, o melhor que podemos dizer é mesmo que as políticas erradas se devem a teorias económicas erradas na base de diagnósticos errados da situação. Também podemos dizer que o governo sabe o que está a fazer. O relaxamento face ao aumento do desemprego significa que compreenderam bem a economia política do pleno emprego, formulada por Michal Kalecki em 1943: "Num regime de pleno emprego permanente, a ameaça de despedimento deixaria de desempenhar o seu papel como medida disciplinar (...) As greves por aumentos salariais e por melhorias nas condições de trabalho criariam tensões políticas (. . .) A 'disciplina nas fábricas' e a 'estabilidade política' são mais apreciadas pelos homens de negócios do que os lucros." Onde se lê fábricas, leia-se também escritórios, balcões, etc.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não podemos partir do pressuposto que quem aplica certo tipo teorias económicas defende um mundo igualitário ou que acha que todos os cidadãos têm o direito a uma mesma liberdade.
É extraordinariamente difícil afirmar com alguma segurança que o diagnóstico feito por alguém de uma determinada situação está incorrecto pois o propósito é na maioria das vezes o aspecto menos visível da interpretação.
Separar o discernimento da má intenção é importante mas será a ingenuidade o principio para a construção "perfeita"?

Dias disse...

(ainda sobre o Carnaval que prá aqui vai)

“…os senhores da troika vão naturalmente ignorar a eliminação dos feriados, como aliás fizeram com a meia hora de trabalho adicional…”

Também me parece que a troika terá outros “interesses”, que não esses. Passos Coelho, naquele seu tom deslumbrado a roçar a subserviência, acha que não: “ o que é que a troika iria pensar, ela a trabalhar e o país a descansar…”.
Análise económica sobre a irrelevância dos feriados? Isso não interessa nada. Populismo em doses maciças é o que é preciso (hoje lá foi mais uma farpa aos seus “amigos de estimação”)

Anónimo disse...

A eliminação dos feriados vai em linha com a mentalidade vigente..
muitas horas no trabalho.. e a produtividade pouco interessa..
Tenho muita pena de ver assim o nosso País numa espiral descendente.