Por sua vez, os Estados sem soberania monetária estão entalados entre as forças desestabilizadoras da especulação, cujos principais mecanismos De Grauwe identificou em artigo académico, e intervenções do BCE, mas apenas no mercado secundário, ou empréstimos da troika com demasiadas perguntas e exigências contraproducentes. Esta diferença de tratamento foi ainda esta semana confirmada por Draghi, que recorre a todos os truques para evitar o que considera ser um pecaminoso financiamento directo a um Estado. Esta diferença está inscrita nos tratados, na ideologia do euro e do banco central “independente” do poder de que deve sempre depender, o democrático.
Este arranjo exprime a total captura do BCE e de todas as operações monetárias pelos interesses do capital financeiro, de que fala Joseph Stiglitz. É isto que está na base do que De Grauwe também denuncia: os mesmos bancos irresponsáveis que geraram a crise podem determinar o essencial da política económica, dificultando qualquer estabilização. Os termos de uma recapitalização indispensável e a transferência de custos para o público também aí estão para nos indicar que vivemos mesmo num regime fundado no comando do capital financeiro.
Quem furtou a moeda à soberania democrática sabia bem o que estava a fazer. Um tal de Vítor Gaspar foi dos que esteve em Maastricht, onde tudo se trancou, a “negociar” em nome de Cavaco. Faz agora vinte anos. Quem é que ainda quer celebrar o nascimento da pós-democracia?
4 comentários:
Pessoas como Francisco Louçã parecem ainda acreditarem nas virtudes da moeda única...
talvez que o problema não seja a moeda única, mas as regras criadas para o funcionamento do BCE... ou será que não estou a ver bem?
José M. Sousa, se me permite, o problema - segundo o post, e cuja posição subscrevo - reside na arquitectura do poder financeiro q foi montado e não na moeda única em si.
F.
E porquê, JMS? O problema näo está em haver uma moeda única, está na subserviência aos especuladores financeiros (nomeadamente os bancos).
A Finlândia é bem mais periférica que qualquer dos "periféricos" e está a dar-se bem com o Euro. Talvez porque já antes se dava bem com a Markka. Esta desvalorizou tanto ou mais que o Escudo em 1982, mas a evoluçäo daí para cá foi totalmente diversa. E Portugal estava a receber os milhöes diários da CEE em 1991, enquanto a Finländia mergulhou em crise por 3 anos--sem nunca "quebrar a moeda". Mesmo assim, a Finländia estava a anos-luz à frente de Portugal, e assim continuou nos 20 anos seguintes...
O problema näo é o Euro, mas as políticas. Sem Euro estávamos como a Hungria, o Fiorint está aqui está a servir de papel de embrulho, e já väo no 2.o plano de "ajuda" do FMI. Näo é 2.a tranche, é 2.o *plano*..
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