sábado, 18 de fevereiro de 2012

Economia política

Através da produção de uma ideologia justificativa, que proclama com frequência não existirem alternativas à atual praxis económica, por exemplo, este mecanismo insinuaria nas pessoas as normas do comportamento correto de um modo tão impercetível quanto o ar que respiram. O sentimento de impotência que este discurso está preparado para inocular nas pessoas é frequentemente acompanhado, ademais, por um outro tipo de mensagem que o sistema necessita de transmitir para ultimar a produção da referida ideologia justificativa, o medo. Com efeito, de modo a obrigar as pessoas a não sair da linha, o discurso económico dominante necessita de produzir uma série de ameaças, ou melhor dizendo de evocar um conjunto de potenciais perdas em que os indivíduos incorrerão caso não respeitem as normas do dito comportamento correto. Uma das ameaças mais correntes na economia global contemporânea é provavelmente a da deslocalização de empresas e consequente transferência de postos de trabalho.
(…)
Nas próximas páginas examinaremos as múltiplas facetas do papel desempenhado pela economia, pela ciência económica, na desconstrução da sociedade dos direitos humanos. Constatar-se-á que esta ciência, e em especial a sua corrente dominante, tem contribuído, precisamente, para a produção dessa ideologia justificativa referida mais acima. As lógicas sobre as quais assentam os discursos da economia e dos direitos humanos são, em muitos aspetos, contraditórias, encarando a economia os direitos humanos como um conceito concorrente, como uma restrição ao desenvolvimento da sua própria lógica, muito particularmente no que concerne aos direitos económicos, sociais e culturais. Procuraremos, assim, mostrar como este conflito, e as suas lastimáveis sequelas, não decorrem tanto de se fazer de modo errado a economia certa, mas de se fazer de modo certo a economia errada.

Excertos da introdução do livro Economia Política dos Direitos Humanos, acabado de ser lançado, da autoria do economista Manuel Couret Branco da Universidade de Évora. Fica prometida uma recensão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como é bom saber-se novas da Universidade de Évora.
Como é importante para o país que "as Universidades" de Évora continuem a 'produzir' conhecimento e a apostar na investigação.
Como é primordial para o Alentejo a Universidade de Évora existir!
FGL