terça-feira, 6 de setembro de 2011

Naturalmente

Os labirintos intelectuais que inspiram a política de austeridade em curso têm de ser lembrados. João Galamba assinala a extraordinária declaração de Vítor Gaspar, que parece que anda a tentar “naturalizar a catástrofe” de um desemprego de dois dígitos: “Na audição parlamentar de sexta feira, Vítor Gaspar disse que em 2015 a economia portuguesa estaria no pleno emprego. Donde se conclui que este governo acha que 12.3% é a nova taxa natural de desemprego.” A chamada taxa natural de desemprego foi pensada para impedir qualquer política económica de combate sério à crise, agitando o papão da geração de inflação e atribuindo o desemprego, no fundo, a um misto de falta de fibra das vítimas da crise, o vão trabalhar malandros, mimadas por direitos laborais e por sindicatos, a tal “rigidez”. As palavras são todo um programa. Bom, depois de todas as reformas da troika, o pleno emprego será, uma vez mais, o que a ficção labiríntica do mercado quiser. Centenas de milhares de desempregados? Seja. Nunca se esqueçam que a taxa de desemprego nacional era de 4% no fim do milénio e que desde aí tivemos uma série de contra-reformas laborais. O desemprego triplicou? É porque não retiramos direitos aos trabalhadores, para os dar aos patrões, com a velocidade requerida e de forma tão natural quanto a sede da utopia do trabalho reduzido a mercadoria descartável e cada vez mais barata, numa economia cada vez mais medíocre para todos, trabalhadores e patrões. A evolução da procura que se registou durante este período foi certamente um detalhe. E continuará a sê-lo no labirinto da troika e de um governo subalterno. Só sabem instituir políticas que aumentam a taxa de desemprego, naturalmente...

2 comentários:

Anónimo disse...

E você o que é que faria? Com qual dinheiro?

Anónimo disse...

http://bilder-livros.blogspot.com/2010/11/crise-financeira-global.html