segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pedalar

Nunca se desiste. Derrota política não é derrota intelectual. Distinção que importa sempre manter perante uma austeridade cada vez mais assimétrica e que vai tornar a economia cada vez menos civilizada. Há ideias com lastro de que não temos razões para abdicar, mesmo que sejam minoritárias, até porque o que parece impossível poderá bem tornar-se inevitável: da auditoria à reestruturação. Mas há muito mais para pensar sobre economia e para lá dela. Muita pedra para partir. Muita descoberta dos melhores entrelaçamentos com movimentos sociais emergentes, que permitam transformar ideias em forças materiais, muito maior disponibilidade e abertura para todas as convergências que dêem esperança às pessoas numa governação alternativa. Aqui está o fulcro da reflexão a fazer: pensar em sujeitos políticos que favoreçam reencontros entre as esquerdas. Partindo, por exemplo, da defesa dos serviços públicos ou da transparência democrática para a criação de condições que permitam afastar toda a esquerda dos compromissos suicidas com o programa inviável da troika e assim viabilizar politicamente alternativas robustas. Vamos precisar de muita filosofia da conjuntura e de muita economia política da estrutura. Muita pedalada.

7 comentários:

Afonso disse...

Era bom que pedalassem todos em frente e não em circulos,não?

Dias disse...

Derrota política não é derrota intelectual, também acho. Saudades daquele “socialismo” que nos serviram são nenhumas.

A minha leitura sobre as coisas: a governação de Sócrates não se reduziu nem se esgotou no instante “milagroso” chamado PEC IV. A principal causa da queda do governo foram os 6 anos de governação (tergiversante e truculenta), não o chumbo de mais um PEC como alguns pretendem fazer crer.

Antes nunca se tinha visto “socialistas” assim, a malhar a torto e a direito, fortes com os fracos, preservando protecção e regimes de excepção conforme as conveniências.
A misturada entre a política e os negócios, entre o público e o privado, atingiu o ponto máximo com o PS de Sócrates. Deputados socialistas com assento parlamentar em nítida incompatibilidade, PPPs ruinosas para o erário, ajustes directos obscuros e favorecimentos concursais, empresas públicas e municipais cuja criação não foi mais que a usurpação do público (Até a popular EMEL lá abriu o “seu” parque de estacionamento, com supermercado PD e restauração!).

Tudo o que se passou no consulado de Sócrates não tem nada a ver com um Estado social de que ele se dizia defensor, sobretudo em campanha.
Adeus, é consolação pequena. A indiferença mostrada pela abstenção e o facto de a maioria dos cidadãos se continuar a fascinar mais pelo estilo que pelas ideias – o 4º poder ajuda ao espectáculo, foi ainda o registo dominante. Encostar a bicicleta, era o que faltava!

mario gomez oolivares disse...

mas qual é o projecto intelectual?, se li bem, era defender, defender os desgraçados e fracos, os desempregados, os precarios, defender a economia portuguesa , os idosos,etc, com uma solução alternativa ao projecto psd-ps-cds, a reestructuração da dívida, se calhar ainda mais, sair do euro (PC), achas que alguem sem ser economistas ou curiosos cultos percebeu disso. Não so houve derrota intelectual, como houve derrota política, se falou para 30 % dos portugueses quando muito, e se falou mal, não houve proposta que o pessoal perceva como realizável, acho que é preciso estudar psicologia social a sério, o estaremos em siberia toda vida, o povo não muda a menos...., é isso que temos que perceber

Anónimo disse...

Nunca se desiste, de facto.

Mas é triste e frustrante. Chega a ser até revoltante...

Anónimo disse...

O PS não voltará ao poder nestes próximos trinta anos. Até porque não perceberam porque razão perderam as eleições. Sócrates e o PS instalaram um clima de medo por toda a parte. Os funcionários do partido tomaram o aparelho de estado e vigiaram de forma pidesca todos os serviços públicos e toda a comunicação pública e até alguma privada. O discurso economicista do BE contemporizou com o terrorismo político socialista, atribuindo todas as desgraças aos banqueiros, esquecendo ou fingindo desconhecer que a causa do regime do medo teve um nome PS/Sócrates.
Desvaziado de um discurso ideológico político o BE refugia-se no economicismo e, como tal,uma visão estreita da sociedade e, por isso, somará daqui para o futuro derrotas sob derrotas.
"Uma derrota política não é uma derrota intelectual"
Ora, deixem-se de tretas, isso faz-me lembrar aqueles que perdem os jogos de futebol, mas depois dizem que venceram moralmente. Uma derrota política é uma derrota intelectual, porque é o intelecto que definiu estratégias e alianças erradaas. Os autores deste blog, tal como o BE, não perceberam ainda o que estva em jogo e não entenderam a essência do regime "socialista".

Não posso estar mais de acordo com o post do D., H.
Antes nunca se tinha visto “socialistas” assim, a malhar a torto e a direito, fortes com os fracos, preservando protecção e regimes de excepção conforme as conveniências.

antónio m p disse...

Derrota política é perder a coragem de lutar em todas as condições e, sobretudo, perder as convicções, perder a razão - creio que é neste sentido do primado da razão que o João fala da vitória intelectual.

Dito isto, há que interpretar em que aspectos é que se perdeu a confiança dos eleitores e eu atrevia-me a sugerir que o PS perdeu sobretudo porque foi um mentiroso obsessivo, e o BE porque enveredou por "alegres" aventuras. O que o eleitor mais aprecia é o respeito por ele, como é natural. As impressões pesam muito na consideração do eleitor, confrontado com estratégias e discursos labirinticos.
Digo eu que não tenho que confrontar-me com a sua aprovação...

Maria José Vitorino disse...

Pedalemos, mas não em círculos. O medo e a arrogância como estilo politico devem ser assinalados, e, sobretudo, contrariados com atitudes persistentes inversas por parte da esquerda, ou das esquerdas. Não ter medo, não querer medo, não ser medo. Ouvir e falar para ser ouvido/entendido (e não para SE ouvir) e ganhar crédito junto dos outros, que são não apenas os que connosco concordam mas muito, muito, todos os que não concordam.
Concordo que a questão dos serviços públicos é essencial, mas não pela rama (se são públicos são bons se nãp são são maus), mas centrando o ponto no direito universal à qualidade e à transparência do uso de património de todos - dinheiro dos impostos incluído.
Esta é uma bicicleta pesada? Pois, mas também se a soubermos usar ganha depois mais velocidade.
Obrigada pelo blog