A Alemanha quer reescalonar a dívida pública grega, adiando os prazos de reembolso da dívida em sete anos. Estendem-se os prazos e organiza-se um novo empréstimo europeu, obrigando os credores privados a partilhar os custos. O BCE opõe-se. Qualquer reescalonamento da dívida só com a participação voluntária dos credores.
A racionalidade do governo alemão é simples. Através do reescalonamento permite-se mais tempo à Grécia para pagar as dívidas e garante-se que os custos deste alargamento dos prazos não sejam só suportados pelos governos europeus, através do novo empréstimo, obrigando os credores privados a suportar ligeiríssimos custos (ficam com um activo com o mesmo valor, mas menos líquido). O BCE resiste a tal arranjo pela possibilidade de tal reescalonamento obrigatório poder equivaler a um “evento de crédito”. Um “evento de crédito” é um eufemismo para incumprimento (que obviamente pode tomar muitas formas). Tal evento poderia accionar os famosos CDS (Credit Default Swaps), seguros de títulos de crédito, obrigando ao pagamento por parte de quem os vendeu. Vale a pena lembrar que a AIG foi à falência pelos CDS que foram accionados depois da falência do Lehman Brothers. Ou seja, o BCE receia as perdas que um “evento” destes pode trazer e os riscos de contágio nos mercados de dívida pública (como Portugal). O reescalonamento poderia, segundo o BCE, transformar-se num incumprimento mais profundo e generalizado. E, aqui chegados, vale a pena lembrar que o BCE é um dos grandes detentores de títulos de dívida dos países da periferia. Um incumprimento generalizado colocaria o BCE numa situação muito complicada de solvabilidade – falência técnica - e implicaria uma obrigatória recapitalização por parte dos estados membros, com a Alemanha à cabeça…
Assim, temos a Alemanha a não querer arcar com todos os custos de um novo empréstimo e o BCE a defender os interesses do sistema financeiro europeu (e os seus). A Grécia não tem voto na matéria, condenada que está à austeridade suicida. Até se fartar…
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