terça-feira, 4 de maio de 2010

Crise I - Somos todos gregos



Os presentes ataques especulativos sobre os títulos de dívida dos países do Sul da Europa deram origem a uma onda de análises nos média que se esforçam em defender que Portugal não é Grécia. Somos muito diferentes! O nosso défice é mais baixo, a nossa dívida pública também e, além disso, somos honestos, não aldrabamos as contas públicas - das ruinosas parcerias público-privadas que facilitaram a desorçamentação, dos créditos fiscais vendidos por Ferreira Leite ao Citigroup, ou da integração de fundos de pensões na Caixa Geral de Aposentações já ninguém se lembra. Não devíamos pois a ser agrupados com os mandriões e aldrabões gregos, implicitamente merecedores do seu actual purgatório. Grego, só mesmo o nome do nosso primeiro.

Claro que quem entra nesta defesa patriótica de Portugal contra a injustiça dos mercados de capitais, se esquece de outras diferenças dos gregos: o maior crescimento económico (a rondar os 4% na última década), o maior crescimento da produtividade e dos salários reais, o menor endividamento externo líquido (quase 100% do PIB em Portugal, contra menos de 75% do PIB na Grécia).

A situação conjuntural que Grécia hoje atravessa é mais grave, devido à quantidade de dívida pública que este país precisa de refinanciar no curto prazo, no entanto Portugal (e já agora a Espanha) estão no mesmo barco. Este discurso procura na verdade mistificar as causas estruturais da actual crise: uma assimétrica integração monetária europeia, com enormes custos para a competitividade externa aos países do Sul, cujas deficiências se tornaram salientes com a crise financeira internacional de 2007-2009 e consequentes aumentos de endividamento público (sem os quais nos encontraríamos numa “Grande Depressão”). Esta mistificação, que aponta uma intelectualmente insustentável defesa da responsabilização individual dos países (como se a partilha da actual crise fosse uma mera coincidência temporal), torna-se mais grave quando é assumida pelo Governo. Ao mesmo tempo que Portugal se procura distâncias da Grécia, qualquer esperança de acção concertada e solidária ao nível europeu parece condenada a miragem.

O gráfico, retirado do New york Times, mostra o endividamento externo de alguns países europeus. A Grécia, com um PIB maior do que Portugal, está menos endividada.

1 comentário:

João Aleluia disse...

Outra vez a questão do cambio de adesão!

10 não é suficiente para os preços ajustarem?

A economia Portuguesa já estava a perder competitividade muito antes da entrada no euro, e muitas das exportações que então existiam só eram mantidas com desvalorizações competitivas semestrais! É deste tempo que você tem saudades?

É verdade que os sucessivos governos contribuiram para um mais lento ajuste dos preços, mas isso é culpa dos governos Portugueses e não da UE nem do BCE. Tal como também é culpa dos governos Portugueses o expansionismo orçamental suicida da ultima decada. Gastamos cada vez mais, mas investir a numa educação a serio que produza trabalhadores qualificados, nada! Acabar com o cancro das autarquias que são responsaveis por metade da despesa publica, nada! Investir numa reformulação do sistema judicial que facilite o bom funcionamento economico, nada! Reestruturar o sistema de saude e de segurança social de modo a torná-los eficientes e sustentaveis, nada, etc... Mas a culpa é dos estrangeiros...