Desenho de Winsor McCay (1867–1934), o genial autor de “Little Nemo in Slumberland”
(clicar para ampliar)
As fronteiras da alteridade não são apenas linhas imaginárias tracejadas no quotidiano dos indivíduos, dos grupos e das sociedades. São também superfícies catastróficas – de mudança súbita e radical – que transformam pessoas, objectos, lugares, animais, deuses, antepassados… em operadores simbólicos capazes de produzir e veicular sentidos para o mundo. São também, portanto, narrativas que comportam sequências para as transformações dos vários elementos constitutivos do campo em que, contextualmente, nos posicionamos, bem como para as relações entre eles. Por isso podemos detectar regularidades, surpreender padrões, coleccionar e comparar a medida do nosso próprio espanto, na sua historicidade e na determinação das suas condições de possibilidade.
Sabemos que os domínios ctónicos e os domínios celestes – por oposição ao espaço terrestre habitado pelos humanos – representam frequentemente espaços de alteridade de onde emergem potências invisíveis, fontes de transcendência e de poder. Para os Araweté da Amazónia, os deuses – Mai – retiraram-se para o subsolo (e para o céu), tal como os Tuatha Dé Dannan na épica irlandesa, ou as Moiras que, entre nós, habitam o subsolo guardando tesouros e riquezas inimagináveis, aguardando por amor puro e verdadeiro que as liberte… Mas independentemente da sua variabilidade cultural, estas cadeias simbólicas – onde a riqueza tem estatuto de oposição, diferença, alteridade… e se associa ao subsolo, à morte e ao mal – revelam, sobretudo, os contornos invisíveis do imaginário económico do ocidente, as estruturas profundas (e as margens…) que possibilitam uma compreensão holística do capitalismo e dos seus fundamentos comportamentais.
Sem comentários:
Enviar um comentário