segunda-feira, 28 de julho de 2008

Há limites

Nunca pensei ler um artigo de Francisco Sarsfield Cabral intitulado os limites do mercado. Mas a crise tem destas coisas. Chegou mesmo a hora de arrefecer todos os entusiasmos mercantis. Ainda bem. Só assim podemos avançar. Definitivamente, a variedade anglo-saxónica de capitalismo hoje existente não é o último estádio do desenvolvimento. Aqui ficam alguns excertos mais significativos do seu artigo no Público: «A falta de confiança que prevalece nos mercados financeiros já levou a várias intervenções estatais. E haverá ainda outras, para evitar danos maiores na economia. Não é reconfortante para quem esperava que o mercado, por si só, tudo resolvesse (. . .) Esta crise põe termo ao ciclo de euforia pró-mercado iniciado com o colapso do comunismo, no tempo de Reagan e Thatcher. Tal como a depressão dos anos 30, a actual crise não significa o fim do capitalismo. Mas, tal como aconteceu há 70 anos, alguma coisa mudará (…) Ali [EUA] os gastos em saúde (14% do PIB) são praticamente o dobro dos europeus (8%). Mas, na América, a comparticipação estatal é muito mais baixa, empurrando os americanos para caríssimos seguros privados e deixando mais de 40 milhões sem qualquer seguro de saúde, por falta de meios. Acresce que no sector dos seguros poderá rebentar, depois do subprime, uma nova crise financeira. Mas como fazer reformas sociais, se os EUA atravessam uma crise económica? Bom, as reformas de Roosevelt com o New Deal concretizaram-se numa crise muito pior». Nem mais.

4 comentários:

Pedro Bingre do Amaral disse...

Na verdade, justiça seja feita a Sarsfield Cabral — é porventura o mais socialista dos cronistas liberais portugueses. Dir-se-ia que admira Mill enquanto discrepa de Friedman.

Luís Oliveira Martins disse...

Só lhe faltou mesmo dizer: "Volta Keynes, estás perdoado"...

O que o economista britânico inspirador do "New Deal" nos deixou como obra (prima), continua a ser actual: necessidade de evitar os excessos das economias de mercado; estabilizadores automáticos; evitar disctursos dicotómicos radicais, tantos os pró-mercado ou como os anti-mercado.

F. Penim Redondo disse...

O João Rodrigues diz:

"Nunca pensei ler um artigo de Francisco Sarsfield Cabral intitulado os limites do mercado"

O João Rodrigues também podia dizer:

"Nunca pensei ver-me ao lado do Sarsfield Cabral irmanado na preocupação com o destino do capitalismo"

Valha-nos ao menos que Sarsfield nos garante: "Tal como a depressão dos anos 30, a actual crise não significa o fim do capitalismo"

Ufa, desta já nós escapámos...

Agora a sério, acham mesmo que estes problemas todos do sistema se devem ao mau comportamento dos agentes do mercado ? Eles estão a fazer o mesmo de sempre, a tentar ganhar a maior quantidade de dinheiro que for possível.
Por que é que isso já foi progresso e hoje já não é ?

Esta é que é uma boa pergunta.

Tiago disse...

"Nunca pensei ler um artigo de Francisco Sarsfield Cabral intitulado os limites do mercado"


Suspeito que nunca terás lido o FSC com atenção. Ele pode ser conservador, de direita e essas coisas todas.

Mas não é, nunca foi, um fundamentalista neo-liberal. Enquadra-se muito mais na democracia-cristã germânica. É claramente uma pessoa preocupada com o "bem comum" e com preocupações sociais. Claramente está mais preocupado em entender o mundo do que em fundamentalismo ideológico.

Tudo isto faz de FSC uma raridade em Portugal. Uma raridade que merece ser ouvida e acarinhada (mesmo que discordando).