domingo, 14 de dezembro de 2025

Imprescindíveis


É o movimento sindical de classe a força mais organizada e dinamizadora da vasta frente social de resistência à política de direita.

Carina Castro, “Organização e espontaneísmo - alguns tópicos”, Vértice, Outubro-Novembro de 2013.

Graças à Greve Geral, as questões laborais irromperam num enviesado espaço público, donde costumam estar ausentes. Não há questões politicamente mais importantes numa sociedade de assalariamento generalizado. Afinal de contas, estamos a falar das condições de vida da maioria social, incluindo das suas liberdades. 

Como defendi numa intervenção na imprescindível emissão comunista da greve, estamos sempre a falar da distribuição de direitos e de deveres, ou seja, de liberdades. De facto, o sindicalismo de classe não promove apenas a igualdade, mas também a liberdade. E há falta de liberdade nos locais de trabalho. Só a ação coletiva liberta. 

Se depender do Governo, haverá cada vez mais direitos, cada vez mais liberdade, para as frações mais reacionárias do patronato, o que se traduz em cada vez mais discricionariedade. Esta é a consequência inevitável da redução dos direitos de quem cria tudo o que tem valor, da redução das suas liberdades. Globalmente, a liberdade diminui, dado que estamos a falar de transferências para a minoria. Esta tem mais poder, por sua vez, para transferir custos sociais para a maioria. 

Como defendi na apresentação do meu livro, em Setúbal, no dia a seguir à Greve Geral, o governo está agora socialmente isolado, apenas com os liberais até dizer chega ao seu lado. Os fascistas estão momentaneamente acossados, procurando disfarçar. Não haja ilusões sobre a natureza do seu projeto e de quem o criou e financia: capitalismo puro e duro, autoritário até à medula. 

Há aqui uma lição marxista para a esquerda brâmane, a que se desligou das relações sociais de produção, das classes trabalhadoras, em nome de “identidades”: o trabalho unifica politicamente como nenhuma outra dimensão da vida social e é condição necessária para um antifascismo consequente. 

Até Rui Tavares, a encarnação dessa esquerda, se deslocou a uma Zara, para falar à comunicação social à frente de um piquete. Como sempre, outros organizaram os, e participaram nos, piquetes. Nada é espontâneo, tudo tem de ser organizado pelos imprescindíveis. 

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