Em julho, a taxa de inflação homóloga - que compara o nível geral de preços deste mês com o mesmo mês do ano passado - atingiu os 9,4% em Portugal. É o valor mais alto dos últimos 30 anos, sendo preciso recuar a novembro de 1992 para encontra um valor semelhante. A subida dos preços a um ritmo a que já não assistíamos há várias décadas está a afetar a maioria das carteiras. Mas o impacto não é igual para todos.
Um estudo publicado em julho por economistas do FMI estima que o aumento médio do custo de vida nos países europeus seja de cerca de 7% ao longo do ano. No entanto, os impactos variam consoante a classe social. Na esmagadora maioria dos países, o aumento do custo de vida para os 20% mais ricos é menor que o dos 20% mais pobres, como se vê no gráfico acima. O motivo é relativamente intuitivo: os grupos de menores rendimentos gastam maior proporção dos seus salários em eletricidade, gás e bens alimentares, onde a inflação se tem concentrado.O que estes dados nos mostram é o impacto distributivo da inflação. Em Portugal, enquanto a maioria das pessoas vê o seu poder de compra diminuir significativamente porque os salários não acompanham a escalada dos preços, os acionistas das grandes empresas têm recebido dividendos recorde à boleia dos lucros extraordinários em setores como o da energia, o da grande distribuição ou o da banca. Mas o governo português continua a não parecer muito interessado em medidas redistributivas, como a tributação dos lucros extraordinários (que já está a acontecer em países como Itália, Espanha, Reino Unido, Bélgica ou Grécia) ou a promoção de aumentos salariais pelo menos em linha com a inflação.
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