quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Coragem na calamidade


É uma das notícias do dia: o Governo admitiu hoje recorrer a privados se SNS não conseguir responder a aumento de casos. 

Não é só o número de casos, mas também os outros casos, a saúde e a doença para lá pandemia. A questão política central está então na concretização da palavra recorrer. 

Uma coisa é recorrer como sinónimo de requisitar a capacidade instalada no sector privado, passando o Estado a controlá-la pelo tempo que for necessário, fazendo uso, como já se sugeriu, das possibilidades abertas pelo Decreto-Lei n.º 637/74, realmente um tempo em que a lei era mais claramente um instrumento ao serviço da criação uma outra economia política, ao serviço do povo.

Outra coisa, e temo bem que seja esta, é recorrer como sinónimo de andar a criar publicamente mais uma oportunidade para a expansão e para os lucros de um dos mais sórdidos negócios privados, público-privados, aliás.

Haja coragem e decência no início de mais este estado de calamidade. Tem de haver Serviço Nacional de Saúde, na, e para lá da, pandemia.

5 comentários:

Anónimo disse...

É inqualificável se este governo decidir que os poucos recursos que este país tem devem ser entregues aos privados. Lucro na saúde é o outro nome para serviços não prestados.

Tavisto disse...

A desfaçatez dos subscritores da “carta dos bastonários” está bem expressa nesta frase:

“o lockout decretado em abril pelo Governo para tentar evitar ao máximo os contágios pôs as nossas vidas totalmente em suspenso. Essa paragem súbita, potencialmente fatal para a economia e que, paralelamente, fez disparar as listas de espera, criou um escudo artificial que não podemos correr o risco de repetir. Nesta segunda fase da pandemia, o SNS sofrerá toda a pressão da procura sem esta proteção, o que ameaça ter consequências dramáticas para os doentes confrontados com um SNS sem mãos a medir”

Todos nos lembramos que a referida paragem foi, nos moldes em que ocorreu, uma exigência dos especialistas, secundados rapidamente por Marcelo e Miguel Guimarães, entre outros. Um confinamento tão apertado não era defendido pelo Conselho Nacional de Saúde Pública e Jorge Torgal, na qualidade de presidente, foi bem sovado por isso.

Agora, de forma oportunista, põe-se de fora assacando toda a responsabilidade ao Governo pela crise sanitária e económica, daí resultante.

E tudo para quê? Não para salvar o Serviço Nacional de Saúde mas para instituírem de vez o Sistema Nacional de Saúde.

Anónimo disse...

O estado sustenta negócios privados que, sem os euros do contribuinte, estariam FALIDOS.
Convinha ver quais destes privados têm calotes nos bancos por pagar, antes de lhes entregar quaisquer serviços, pois é o contribuinte que está a pagar o regabofe dos 25 biliões que desapareceram em 2008.

Jose disse...

« uma oportunidade para a expansão e para os lucros de um dos mais sórdidos negócios privados»

Qual a diferença de um médico no seu consultório e 50 médicos num hospital privado em termos de Sordidez?
E quanto àquele posto de enfermagem na esquina da minha rua?

Paulo Marques disse...

Os médicos no privado são mais caros por causa de toda a cambada de parasitas intermediários que precisa do seu pedaço da conta do paciente. Mas só até não ser muito complicado, isso tem muitos riscos que é melhor deixar para o estado.