Entrevista ao Público, 23/7/2018 |
Na entrevista que o ministro das Finanças deu ao Público, Mário Centeno refere por diversas vezes que as suas opções estão sustentadas no apoio dos portugueses, através de... estudos de opinião que foram realizados.
Para já, a referência aos estudos de opinião parece ter subjacente a ideia mirífica (e populista) de que é possível contornar o Parlamento e as instituições democráticas representativas - para governar em nome de "todos os portugueses". Essa ideia parte de outra: a de que a pessoa que escolhe as perguntas é aquela que é a mais capaz e competente de interpretar o espírito de "todos os portugueses". E assume assim um poder bem superior a "todos os portugueses": o de impor a sua pergunta.
Geralmente, porque essa pessoa "interpreta" o sentir do povo, tende a não levar a "votos" aquilo que pode ser realmente determinante para "todos os portugueses", quando não haja qualquer referência explícita nos programas partidários. Foi o caso do Tratado de Maastricht, da criação da moeda única - aliás, baseada num frágil estudo de impacto que convinha revisitar... - o Tratado de Lisboa ou o Tratado Orçamental. Nunca esses tratados foram a votos.
Finalmente, convinha lembrar que a fiabilidade dos estudos de opinião depende muito da forma como as perguntas são feitas. Veja-se o caso já citado noutro post deste blogue, em que, na série britânica Yes, minister, se mostra como se dirigem entrevistas para obter certos resultados.
Centeno fez o mesmo. No estudo de opinião que citou, perguntou-se aos portugueses: "Qual dos três eventos" - gosto muito da palavra eventos - "mais aumentavam a sua auto-estima: ganhar o campeonato europeu de futebol, a saída do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) ou ganharmos a Eurovisão". Não se percebe muito bem a escolha do conceito auto-estima, mas tudo bem. A resposta da maioria dos portugueses recaiu evidentemente em... PDE. A conjunção de três palavras pesadas como procedimento, défice e excessivo parece mesmo mau e então se sairmos disso, parece bem mais importante do que "ganharmos" a Eurovisão.
Agora, faça-se outra sondagem: "Qual dos casos lhe parece ser mais importante para si: ganhar como prémio uma tablete de chocolate Regina, beneficiar de um Serviço Nacional de Saúde eficaz ou que o défice orçamental suba umas décimas do PIB?"
Pois é...
16 comentários:
A esquerdalhada nunca gostou de contas certas! Contas certas não dá votos, bem pelo contrário! Julgava a esquerdalhada que o PS à boleia seria novamente o regabofe que nos levou ao resgate. Mas quis o fado lusitano que Centeno fosse liderar o Eurogrupo, que prima pelo respeito do défice, e não pode o presidente do Eurogrupo ser ministro de um país de perdulários onde reina a bandalheira financeira.
O que é que é mais importante para si - um estado social, ou estar no "clube da frente" dos financiadores de um disparate económico?
Oh, oh, e eu que ouço tantas vezes dizer que um Governo tem que governar escutando a opinião pública (seja lá isso determinado da maneira que for, recorrendo a sondagens ou ouvindo a rua onde tantas vezes a Esquerda gosta de descer), agora ouço o João Ramos de Almeida defender (e bem) a democracia representativa e a soberania do Parlamento (em contraste com a entrevista vergonhosa do 'revolucionário' ex-deputado Manuel Tiago que se pudesse mandava às malvas a AR, que é, segundo ele, um instrumento de classe).
Pois, pois, isso defende-se só quando dá jeito, não é? Aposto que se pudesse, o seu colega João Rodrigues ia logo atrás de Tiago, não era, mau grado as declarações pias sobre a soberania, que para ele é a da classe da nomenclatura comunista (a julgar pela admiração que alimenta pela URSS)...
Fazemos assim. O PCP que apresente uma moção de censura ao Governo de Costa, ou então chumbe o orçamento de 2019 e vamos lá ver como o povo vai reagir nas urnas, ok? É que Centeno, estranhamente para o MF, que é o controleiro da despesa pública e da cobrança de impostos, calha de ser o Ministro mais popular deste Governo. Por que razão será?
Caro anónimo e Jaime Santos,
Estou a rever o meu texto para incluir outra ideia.
Acho que, em geral, o Parlamento deve ser capaz de resolver os problemas. É para isso que ele lá está. Não a concertação social, nem o referendo. Mas acho que há assuntos em que os programas dos partidos não foram explícitos. Que eu me lembre nenhum programa partidário apoiou o Tratado de Maastricht, ou a política monetária de ligação ao marco alemão, ou a criação da moeda única, ou o Tratado Orçamental. E aí era importante ter ouvido o povo.
Gostaria também que, aqui, o debate se elevasse e que o leitor anónimo ou Jaime Santos sejam capazes de defender as suas ideias sem agressividade. É que não resolve nada, vai gerar comentários com agressibidades semelhantes e não contribuem para o debate do assunto em causa.
"não pode o presidente do Eurogrupo ser ministro de um país de perdulários onde reina a bandalheira financeira. "
Não, pode ser o testa de ferro de uma federação faz-de-conta onde reina a bandalheira financeira. Mas está tudo bem, rearma-se a Alemanha para por a coisa na ordem.
Se be percebo é importante ouvir o povo em questões iminentemente técnicas e de consequências dificilmente projectáveis.
Agora tirar consequências de darem ao PSD da troika e da austeridade a posição de partido mais votado e de entenderem que as desbundas orçamentais só trazem problemas, para eles ou para os que se lhe seguem, isso haverá de ser condicionado pelas decisões das nomenclaturas partidárias.
l
Paulo Ramos a demonstrar que tem a espinal medula bem maleável. Um cata-vento! Agora o Parlamento é soberano e deve reinar, no quadro do Estado de Direito Democrático? Já não é a vontade do povo! Oh João Ramos, então o Tratado de Maastricht e o Tratado Orçamental não foram aprovados pelo Parlamento, o mesmo Parlamento que é soberano e que deve reinar? Em que ficamos? Vale ou não vale! Haja coerência!
Em relação à entrevista de Centeno ao Público refere o ministro que "gostava mais de tratar de todos os portugueses, do que olhar apenas para os funcionários públicos." Mas os jornalistas não perdoam! Continuam na mesma mantra do funcionalismo! Irra que o Sérgio Aníbal e a Raquel Martins do Público fizeram um medíocre serviço público! Sim, eu sei, é que é "notícia", mas chiça, numa entrevista sobre o Orçamento de Estado de uma nação, fala-se apenas do funcionalismo? Essa entrevista é o traste ideológico que é Portugal. Eu contei: 23 perguntas são sobre funcionalismo e 3 são sobre impostos! Sintomático da balança de pensamento ideológico nacional!
Paulo Marques pergunta: "O que é que é mais importante para si - um estado social, ou estar no "clube da frente" dos financiadores de um disparate económico?"
Se para satisfazer um estado social cada vez maior, tivermos de pedir resgates ao FMI, que depois nos deixam sem dinheiro para o estado social, o que é que prefere?
Infelizmente o nível de debate para alguns ronda o patamar do lixo,para usar uma palavra pouco crua.
Isto também permite ver a qualidade destes neoliberais. Reproduzem o lixo ( mais uma vez o lixo) aprendido de forma fugaz nos lixos que frequentam
É uma pena.Mas também permite ver o que nos esperava se esta gente voltasse ao poder. E permite aquilatar do seu carácter cívico, ético e democrático
Ainda para mais com o cheiro de eleições...parecem uma matilha
Pimentel Ferreira está francamente atiçado. Deram-lhe ordens para fazer aqui o que passa a vida a fazer no Observador?
Um neoliberal a bufar contra o estado social. Aminha querida Nadia tem um verdadeiro problema E não são as ditas cujas da Matilde
Irra que esta malta so ladra e nada diz. Precisa/se explicador para decifrar a posta Lolol
As falácias da treta aí espalhadas pelo aonio Vitor Pimentel ferreira
O “resgate” pedido ao FMI foi por termos um Estado Social cada vez maior?
Este acha que o estado social são os bancos e os banqueiros. Ou as PPP (há por aí um fundamentalista a soldo destas que as defende de forma bem suspeita) Swaps? Dívida promovida por um euro ao serviço da Alemanha?
De como este Pimentel Ferreira pensa que pode repetir as bacoradas que debita no Observador é um mistério
A entrevista dada pelo Sr. Ministro dsa Finanças não veio trazer nada de novo . Uma teimosia ideológica pelo deficit como se fosse a unica variável macroeconomica . ficámos a saber aquilo que já sabiamos. Trata -se da apologia pura e dura do liberalismo e do monetarismo.Esqueceu-se de uma serie de coisas . esqueceu-se que a adesão ao Euro deu origem a uma fuga em massa de capitais e de cerebros e agora pretende angariar capitais a qulquer preço, aliás a um preço que vai sair muito caro ao País. .Esqueceu-se da desindustrialização e que o país se encontra em estagnação económica.
As pessoas acham que o quadro social e político não vai mudar. A democracia pode assumir muitas formas, e o mercado não é algo natural. Vamos ler Polanyi, e observar todas as formas possíveis da realidade pelo menos em pensamento e no coração. Alguns amigos suíços me têm feito pensar. Eles têm uma democracia muito mais viva que a nossa. Mesmo se alguns aspectos são francamente fascistas. Mas agora por exemplo estão discutindo se os bancos comerciais devem criar moeda (através do empréstimos), ou se essa função deve ser apenas do Banco Central. Sinto falta dessas discussões aqui. As pessoas em Portugal discutem apenas politiquice de café, não os essenciais.
Um pouco trapalhão essa dos aspectos suíços francamente fascistas
Um pouco trapalhona essa questão da criação da moeda
Um pouco inverosímel essa discussão nos cafés
Sim, ê preciso discutir mais a fundo. E sobretudo desmascarar e desmontar todo um discurso virado para o poder absoluto dos mercados e o endeusamento divino do Euro
Anónimo disse… 23 de julho de 2018 às 12:48 (anónimo? Já não estamos nos teus bolorentos e saudosos tempos do botas, podes abrir-te à vontade, não vais preso.)
Gostas mais dos direitolas dos submarinos e do gang do BPN, esse é que era o vosso bom tempo de disciplina, à moda do teu botas. Deves se calhar ter-te abotoado também nesses tempos de “contas certas” e estás com saudades e falta da mama do saque.
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