segunda-feira, 4 de março de 2013

Outro país



Pode uma campanha do turismo sintetizar toda uma economia política da subserviência que está sendo planeada entre o Terreiro do Paço, a Almirante Reis, Bruxelas, Frankfurt e Washington? Pode. Diz-se que a nossa “vantagem comparativa” está no turismo e nos baixos salários que são a sua marca e esta campanha diz que é preciso estar literalmente de corpo e alma com isto, ou melhor, oferecer o corpo e a alma a quem nos visita. É realmente todo um investimento biopolítico que se espera, mas que nunca compensará o colapso do outro investimento.

Vá lá saber-se porquê, esta campanha vergonhosa recordou-me um influente artigo de Olivier Blanchard, agora economista-chefe do FMI, sobre Portugal. Depois de ter andado a dizer que os défices externos periféricos eram virtuosos, havia quem dissesse que eram irrelevantes, já que os mercados financeiros internacionais, como se sabe, só canalizam recursos eficientemente para a modernização produtiva, Blanchard chegou à conclusão que a Portugal, na realidade, só restava uma penosa desvalorização interna. Além disso, os portugueses deveriam esquecer tecnologias e outras modernices típicas de países desenvolvidos, devendo antes focar os esforços em servir bem os do Norte – a tal “Florida da Europa”.

É claro que as elites económicas portuguesas ficam em êxtase sempre que vêem um economista estrangeiro tão reputado a falar das nossas “vantagens comparativas”. Na realidade, desde David Ricardo que a conversa das “vantagens comparativas” serve para manter os povos que não estão no centro no seu subalterno lugar. Com a troika e o seu governo, o nosso lugar é claro. Quem quiser outro país terá obviamente de os derrotar e perceber bem as implicações disso, reconquistando os instrumentos de política que nos faltam para criar “espaço de desenvolvimento”.

Em contraste com a dominante economia política da subserviência, o Alexandre Abreu, por exemplo, propôs, na última conferência da rede economia com futuro, uma economia política do desenvolvimento para um outro país.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando falam no turismo , há quem sonhe tnsformar este país numa Cuba do tempo de Fulgêncio Baptista.