Nem o programa ‘máximo’, nem o programa ‘mínimo’, nem a exigência da impossibilidade utópica, nem a gestão do estado de coisas existente, mas antes um conjunto concreto de exigências estrategicamente formuladas para atingir o adversário no coração, ali onde as contradições da situação se tendem a concentrar, por forma a criar a alavanca necessária para alterar a correlação de forças. Questões como o incumprimento da dívida soberana, o desmantelamento da UEM e a confrontação com a sua autoritária fuga para a frente são o equivalente contemporâneo das exigências de paz, pão, terra e autogoverno popular de que dependeu o resultado do primeiro assalto aos céus no século XX. Urgentemente colocadas como questões de relevância imediata onde a crise está a ser mais duramente sentida – na periferia da Zona Euro, em particular na Grécia –, são centrais para o debate da esquerda no velho continente como um todo. Num tempo em que o pensamento estratégico se tornou cada vez mais raro, sobretudo à esquerda, e em que a crise do capitalismo inspira perplexidade e embaraço entre o que o que resta dos seus adversários organizados, em vez de gerar energias renovadas para travar novas batalhas, este livro merece ser reconhecido por aquilo que é: um grande acontecimento intelectual, combinando investigação académica rigorosa e inovadora com um compromisso político lúcido mas radical. [minha tradução]
Excerto da introdução de Stathis Kouvelakis a Crisis in The Eurozone, um livro saído no ano passado, da autoria de Costas Lapavitsas, Eugénia Pires, Nuno Teles e outros economistas do Research on Money and Finance, onde a questão da saída do euro é colocada com toda a clareza. A traduzir. De Lapavitsas, Pires e Teles, relembro também este artigo num Público de final de Março de 2010, já lá vão três anos. As ideias têm um caminho lento, mas não são inócuas. De resto, de Kouvelakis, teórico político marxista, dos da estrutura e da conjuntura, recomendo também um texto sobre a crise da formação social grega, onde indica de passagem algo que considero fundamental: é da fusão política da “questão nacional”, ou seja, a luta pela recuperação da soberania popular contra tutelas externas, com a “questão social”, ou seja, a luta pela distribuição e pelos direitos de quem trabalha, que se forma o material para as grandes transformações democráticas. Pistas para análises concretas que possam estar ao nível de muitas proclamações abstractas; pistas que serão certamente exploradas e debatidas no Segundo Congresso Internacional Karl Marx, que se realizará entre nós em Outubro e onde Kouvelakis será um dos oradores principais.
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