quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Bater com a cabeça quatro vezes
1. Mario Monti sabe que é preciso mudar, na prática, a forma de actuação do BCE para manter intacta essa máxima expressão da constitucionalização supranacional do capitalismo neoliberal que dá pelo nome de euro, através de uma intervenção decidida do BCE que ancore expectativas e evite, pelo menos temporariamente, a subida das taxas de juro da Itália e da Espanha para níveis incomportáveis. Diz Monti que, caso contrário, o tiro monetário sairá à Alemanha pela culatra. Bom, há sinais económicos disso. É claro que Monti apoia a austeridade e a neoliberalização, os dois elementos reais que estão a favorecer a corrida para o fundo, e que são também parte da chantagem de um Draghi que não pôde ir ao encontro da elite monetária internacional em Jackson Hole por causa do “excesso de trabalho”.
2. Para lá da ideologia, que esquece até a história recente do Bundesbank na compra de obrigações, e da pressão imperialista às periferias, o que justifica a associação, feita por Weidmann, secundado por Merkel, entre as funções de um banco central como credor indirecto de última instância dos Estados e a “droga”? Bom, droga só se for a que os operadores dos mercados financeiros consomem. De resto, a elite alemã já está a fazer contas para lá do euro, só pode, o que pode ser, aliás, a melhor forma de acelerar o seu fim. Pensam já não em termos de federalismo monetário, mas na exposição do Bundesbank à periferia que entrará em incumprimento.
3. A Espanha prepara-se para uma intervenção externa, que reforçará a dose de austeridade, encolhendo um mercado que vale para nós quase tanto como o mundo que existe para lá da zona euro. Regastes regionais, fuga de capitais, provando que a convenção “um euro num banco espanhol não vale o mesmo do que um euro num banco do centro” está bem de saúde, e consequências recessivas da austeridade criam os perfeitos maus ventos.
4. Entretanto, neste canto, a direita e muitos editores, directores e subdirectores de economia, criaram dois novos indicadores económicos todos qualitativos e tudo: o de intenções económicas de um governo de quem a troika gosta e o do diz que os analistas financeiros internacionais falam bem de nós. Esqueçam a taxa de desemprego ou a recessão, esqueçam o défice como variável endógena. O que conta são vagos sentimentos. Servirão para alguma coisa face ao peso do que se conta? Bom, sabemos que a única forma de evitar o caminho grego é evitar as políticas que foram até agora prosseguidas e apoiadas. É por esse volte-face que o governo tem de ser avaliado. Trata-se de começar a negociar com uma troika feita para pensar em termos dos interesses das elites do centro. É que estamos também no plano inter-nacional.
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3 comentários:
E de resto:
para os limites da intervenção:
algo:
http://libertystreeteconomics.newyorkfed.org/2012/08/interest-on-excess-reserves-and-cash-parked-at-the-fed.html
Só para que não se perca o fio à meada.
1. Historicamente a moeda é uma mercadoria, as duas coisas não se distinguem. Moeda=ouro/prata. A moeda tb podia ser um símbolo Moeda=conchas. Mas o espírito assim não quis.
2. Depois apareceram os cambistas. Começaram a fazer registos e a moeda já não precisava de circular propriamente. Moeda=registo + moeda=ouro.
3. A determinada altura a moeda sentiu necessidade de ser tornar fiduciária circulando. Disse: reserva (ouro) + notas (fides). Então, supostamente o banco individual constituía "reserva" a partir de "recursos" e com o remanescente emitia notas (crédito).
4. Os bancos centrais apareceram tardiamente. Porquê? O que é um BANCO CENTRAL?
5. Hoje mantemos a dita "reserva fraccionária", mas tal não passa a)de um esqueleto histórico b) de um arranjo contabilístico c)de um instrumento moderno d) de uma mistificação.
6. Modernamente (quer dizer, à maneira Schumpeteriana): o Crédito é uma realidade advinda: "ex-novo" ou "ex-nihilo". Basicamente porque a operação moderna regista uma dupla entrada: credita no seu balanço o "contrato de crédito" e debita "a conta corrente do cliente". Voilá: assim se dá a CRIAÇÃO DE MOEDA. Do nada. E isto é actual e factual.
7. Hipótese: a necessidade de recursos seria assim verificada "ex-post" e não "ex-ante" (embora na aparência isto esteja invertido). Os recursos seriam uma realidade económica e já não financeira! (gosto desta abordagem). Os recursos seriam apurados no geral da operação económica e não num particular financeiro (um banco, sistema bancário). Cool.
8. Agora o Banco Central. O pináculo do sistema ou um banco como os outros? No papel, a sua especificidade advém de ser o fornecedor monopolista da base monetária. É isto que o define historicamente, e actualmente (talvez já só no papel). A base são notasemoedas + reservas (inscrição no sistema de pagamentos).
9. Historicamente também, o BC é um banco de refinanciamento. Chamava-se o "redesconto" e hoje o BCE p.e. ainda lhe chama (no papel) "refinancing operations". A diferença entre financiamente e refinanciamente? É o que vamos apurar.
10. O BC historicamente então é o emissor da base. Como emite base? Bom, por definição (histórica e teórica) por troca. Troca activos dos balanço dos B Comerciais por notasemoedas e reservas (neste caso o processo pode ser mais diluído). E porque é assim? Porque os BC são (e serão sempre?) entidades da CONTRAPARTIDA, contabilísticas (da dupla entrada), comerciais.
11. Ora, o BC pode no entanto não usar a troca (operação de compra e venda) e fazer a (outra) CRIAÇÃO DE MOEDA. No fundo, actuar como diariamente qualquer outro banco comercial. Assim, faz uma inscrição de dupla entrada: com colateral mas sem troca. Inscreve "Crédito" no Activo e inscreve "Deposit" no Passivo. Porque os balanços têm q manter as identidades e correspondências, o Banco Comercial inscreve !agora é que é a porra!: "Disponibilidade junto do BC" no Activo e "Depósito de BC" no Passivo".
12. Os nomes podiam ser tudo ou os nomes são tudo? Há pelo menos duas categorias de nomes para os quais precisamos de encontrar as equivalências certas: porque embora a teoria se faça em nome da CATEGORIA UNIVERSAL, os nomes dos balanços da FED,do BoE ou do BCE não são os mesmos. O negativo está nos nomes (assim como o positivo).
13. No entanto, e para fechar: a diferença substancial. O FED e o BoE andam a comprar títulos e a pagá-los nominalmente com reservas. O BCE anda a criar títulos e a pagá-los nominalmente com reservas. Vide 10) e 11). Na verdade o BCE cria mais um título sombra (corresponde a um financiamento indirecto). Agora, o mais curioso é que 10) é a função histórica e e tradicional dos BCs e 11) é a outra.
14. O BCE levou-nos já para a fase pós-histórica da economia e ninguém parece ter-se dado conta disso.
13a. Na verdade o BCE está a financiar o quê. Anda o BCE a financiar alguma coisa? Anda alguem a financiar o quer que seja? Nâo parece, porque os agregados de crédito estão estagnados ou em retrocesso e o produto estagnado ou em recessão.
13.b Risquem já onde se diz "corresponde a um financiamento indirecto". Vou tentar reelaborar.
13.c Vejamos o caso de Portugal. Agora os Bancos Comerciais têm lá uma entrada no Passivo onde diz "Depósitos (empréstimos) do BC". De acordo com o que disse. A contrapartida disto devia ser "Depósitos NO BC". E Seria. Seria. Não está, porque esses "depósitos/empréstimos" foram substituir "empréstimos de instituições financeiras". Historicamente os BComerciais refinanciavam-se a partir do Activo (basicamente para cobrir pagamentos). Hoje foram refinanciar-se para cobrir o Passivo (basicamente para o mesmo). Logo, operámos uma SUBSTITUIÇÃO onde conceitos económicos como financimento ou refinanciamento não precisam de ter lugar. (mantém-se a hipótese de 7.)
13d. O que acabámos de descrever tem a sua condensação verificável nos saldos por liquidar do TARGET2. Os "depósitos do BCE" ficam nos balanços da periferia, os "depósitos no BCE (reservas)" ficam no centro. Uma razão para toda esta embrulhada (ie, condução da política) poderia ser a baixa unificação, e nela a inexistência no Euro de um equivalente do US Treasury Security, esse MAGNÍFICO TANGÍVEL.
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