quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Rankings, escolas e contextos (I)

A publicação do ranking de escolas deu lugar, uma vez mais, às parangonas mediáticas e às análises fraudulentas do costume, como bem aqui assinalou o Ricardo Paes Mamede. Com honrosas excepções (em que se procura ir além das preguiçosas sentenças histriónicas, aduzindo explicações para os resultados), foi ver os meios de comunicação social à cata da «nata», salivando por identificar os melhores estabelecimentos de ensino: «Colégios continuam a dominar o ranking», escrevia o Sol; «Melhor escola do país é privada», sentenciava a TVI24; «Saiba em que lugar ficou a escola do seu filho», aconselhava o Expresso.

Tudo portanto como se as escolas fossem escolas sem as suas circunstâncias. Como se da comunicação social se não devesse esperar mais do que cumprir a função de um comentador desportivo, sentado na meta, a relatar uma espécie de prova de ciclismo (em que o asfalto, as sinuosidades e os declives do trajecto são iguais para todos). Em última instância (é esse o pressuposto latente que prevalece), como se os resultados dependessem, exclusivamente, das escolas, do desempenho dos seus professores e dos seus órgãos de gestão. Por isso, o critério e unidade de análise dos rankings é sempre o da própria escola (como se esta não estivesse vinculada a um território concreto, com características económicas, sociais e culturais específicas, que se reflectem inexoravelmente nos resultados escolares alcançados).

Ora, se analisarmos os dados dos rankings numa lógica territorial, convertendo para uma escala percentual as respectivas notações de resultados dos exames (0 a 5 no básico e 0 a 20 no secundário), e agregando de forma ponderada os valores obtidos pelas escolas em cada concelho (clicar no mapa para ampliar), obtemos padrões de distribuição que traduzem afinal, de modo muito claro, os desiguais níveis de desenvolvimento económico, social e cultural do país. Isto é, que mostram uma continuidade espacial dos melhores resultados num litoral mais urbanizado, com maiores níveis de instrução da população, com maior poder de compra e com maior acesso a bens culturais (note-se aliás que, nos concelhos do interior norte e centro e do sul, são em regra as capitais de distrito, ou concelhos com cidades médias, que escapam ao padrão de resultados negativos, abaixo da média nacional).

Os rankings constituem portanto, fundamentalmente, um retrato do próprio país e das suas diferenças de desenvolvimento, mais do que uma suposta capacidade intrínseca e vontade autónoma das escolas para alcançar (ou não) bons resultados escolares, como nos querem convencer os comentadores moralistas. Aliás, o que deverá ser considerada uma boa escola? Aquela que, situada num meio privilegiado, atinge resultados que a colocam no topo do ranking ou aquela que, posicionada no segmento final da ordenação hierárquica, obtém apesar de tudo resultados que superam as expectativas iniciais, tendo em conta as características sócio-económicas e culturais do meio em que se insere?

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