quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Richard Wilkinson: o vídeo


A que já fizemos referência aqui e no qual Wilkinson sugere que a prosperidade de um país decorre da existência de uma relação dialética - de mútuo benefício - entre crescimento económico e equidade social, contrariando assim as teses que defendem que o combate às desigualdades apenas pode ter lugar depois de se alcançar uma situação de crescimento da economia (coisa que, em regra, nunca é reconhecida, ficando sempre postergada para as calendas gregas).

(Com um agradecimento à Joana Lopes, pela ajuda na colocação desta versão legendada em português, que a Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida produziu).

5 comentários:

João Carlos Graça disse...

Caro Nuno Serra
Muito obrigado por ter postado este vídeo. Digamos que este ano só hoje é que senti o "espírito de São Martinho"... Chegou atrasado, mas, graças a si, lá chegou.
Em matéria de história das ideias, não haja duvidadas de que a “economia política”, e depois a “economics”, são importantíssimas em tudo isto, como terrenos preferenciais para afirmação de discursos legitimadores das “desigualdade entre os homens”.
1º) Via Revolução Francesa (acoplagem da “égalité” à “liberte”), com prolongamento directo ou indirecto para o utilitarismo, "the greatest happiness of the greatest number" (Bentham), etc. os ideais igualitários fazem sem dúvida progressos. Dique: a EP, com a afirmação de que, se acaso se distribuísse as riquezas, isso faria os pobres menos pobres no curto prazo, sim, mas via aumento da natalidade (Malthus) ou via aumento do consumo à custa da poupança (Mill pai e filho, Senior). Tal facto traria um travão ao progresso técnico, logo as vantagens anular-se-iam. Recorde-se que mesmo para o Mill filho, supostamente o mais melancólico e "soft-hearted" de todos eles, igualdade e aumento da riqueza, aliás tal como igualdade e liberdade, estão entre si em relação de trade-off, não de complementaridade. A essência do tão decantado "liberalismo" de JS Mill é aí mesmo que reside...
2º) Os ideais igualitários apesar de tudo progridem: Marx, claro, e tantos outros. O sufrágio vai-se alargando. Mais: a própria "revolução marginalista", com as famosas utilidades decrescentes, parece dar argumentos aos igualitários. Mesmo com Jevons, e mais ainda com Walras, filho de quarante-huitard e semi-communard... E bom, se é aí que está a nova infiltração, é aí que aparece o novo dique: Pareto e a "ordinalidade" ou “não comparabilidade” das utilidades. Pareto e os argumentos igualitários reduzidos a "derivações". Pareto e a pretensa perpetuidade inultrapassável (ou "fisicalidade") da suposta regra dos "80-20"...
3º) As coisas avançam quand-même, e a própria sociologia torce de facto o nariz ao conde Pareto (importando-o de facto muito menos que a EP, entretanto virada "economics"). O carácter social do consumo e das "wants" marshallianas impõe-se à consideração... E bom, aí temos novo dique, ou novos diques. De um lado, Lionel Robbins e os "filo-austríacos" com a economics definida como aplicável até mesmo a "cada homem enquanto ilha", sem necessidade de quaisquer transacções, tratando da mera optimização das necessidades assumidas como meros "dados", etc. Do outro, e como tirada semi-sociológica, Schumpeter e a "heterogonia de objectivos". O consumo é social? Seja. Mas ser social significa ser uma luta, uma tensão interminável... "o homem fez-se para lutar", como diz o LM Cintra no filme do M Oliveira (“Non, ou a vã glória…”). Sem isso seríamos menos do que homens, ou "últimos homens"...
(CONTINUA)

João Carlos Graça disse...

(CONTINUAÇÃO)
Bem, e assim já cheguei a Fukuyama, claro. Ao lado fica, pode dizer-se, toda a tradição hegeliana, de Kojève a Franck Fischbach, à qual seria decerto interessante considerar, à laia de cotejo.
Uma última nota: a prudência política, as luvas politicamente assépticas, ia dizer a auto-censura do conferencista, ao ter o cuidado extremoso ou o pudor de sublinhar que trata de "democracias de mercado", whatever that means...
Creio que seria interessante quanto a isso, e por contraste, verificar:
1) O que se passou na Rússia pós-soviética (a dimensão da hecatombe torna-se-nos menos óbvia por gritante censura política na formatação das nossas percepções);
2) A percepção por parte desta gente, os russos, quanto à (im)possibilidade de fazer reverter as coisas precisamente graças à (ou apesar da) existência de regimes multipartidários. Em suma: em que medida a Rússia actual é uma democracia, “de mercado” ou não. E, já agora, “e nós, pá?”;
3) O que tem acontecido, por afinidade ou por contraste, com a China, com regime monopartidário e oficialmente socialista. Neste caso, porém, relembrar uma ressalva do conferencista: comparar países razoavelmente desenvolvidos é uma coisa; compará-los com países pobres, subdesenvolvidos (eufemisticamente: “em vias de desenvolvimento”) pode ser uma outra bem diferente…
Ah, por fim, recordar a famosa máxima Rawlsiana: a produção de desigualdade é legítima só e só se ela se traduzir num benefício mesmo para os grupos que, em virtude da adopção da regra produtora da desigualdade, ficarem na posição menos "well-off" (regra do "maximin"). Não sugiro isto para venerar Rawls, claro. Mas para o usar simultaneamente "de fora", como critério para ajuizar o resto, e "de dentro", procurando explicá-lo também a ele em virtude do resto...
Ah, mas basta de palavreado. Muito obrigado pelo post, Nuno!

Nuno Serra disse...

Caro João Carlos Graça,
Eu é que agradeço este suculento e estimulante comentário, repleto de pistas interessantes.
Um grande abraço,
Nuno

Anónimo disse...

Excelente post vou partilhar nas redes, vou muitas vezes ver as conferencias TED, não sei como deixei escapar esta. É impressionante a nosso posição nos gráficos, é quase sistematicamente no pior "lado".

Mais uma vez parabéns.

Anónimo disse...

os números para as taxas de encarceração parecem-me errados. Neste ponto Portugal apresenta valores que são cerca de 20-25% inferiores ao da Espanha ou Reino Unido. Um diferencial facilmente perceptível, mas que não se encontra no gráfico apresentado por esse sujeito. Isto sugere que o autor pode ter estado a martelar estatísticas que se enquadrem na sua teoria - algo pouco abonatório da sua já fraca reputação entre as profissões que trabalham com estatísticas sociais - economia, sociologia, ou ciência política.