terça-feira, 16 de agosto de 2011
Quem trava a corrida para o abismo?
Da minha crónica no i da semana passada:
Desde que as ideias neoliberais passaram a comandar a política económica, nos anos 80 do século passado, os governos de todas as cores políticas abandonaram o objectivo do pleno emprego e abraçaram o credo da "globalização feliz". Através da acção do FMI, do Banco Mundial, da OCDE e da União Europeia, o modelo do crescimento económico baseado nas exportações transformou-se na receita universal para os males de qualquer economia, ao mesmo tempo que a competitividade foi promovida a objectivo central da política económica.
A abertura às importações de países asiáticos, onde as condições salariais, sociais, ambientais e institucionais permitem preços imbatíveis, reduziu substancialmente a indústria europeia e expulsou definitivamente do mercado de trabalho largos milhares de cidadãos. A agenda de Lisboa, centrada no conceito de "economia do conhecimento" e na promoção da competitividade pela inovação, constituiu um manto ideológico que foi usado para ocultar uma dura realidade. A de que só algumas economias, muito poucas, estão em condições (têm instituições, competências, recursos) de escapar à concorrência pelo preço num mercado globalizado. Em boa parte da Europa, o crescimento do emprego precário em serviços de baixa produtividade foi o reverso da desindustrialização. Liderada pela finança, e comandada pelo imperativo do lucro de curto prazo, a globalização encaminhou os excedentes das economias vencedoras da globalização para as deficitárias onde o crescimento foi sustentado a crédito. A grande recessão que começou nos EUA em 2007 e se estendeu à Europa em 2008 é pois o triunfo da globalização, um processo em que comércio e finança são interdependentes.
Sem vontade política para continuar a garantir empréstimos, a parte da Europa que até agora beneficiou da globalização impõe agora à Espanha e à Itália a receita da austeridade e da baixa generalizada dos salários na ilusória expectativa de que a especulação contra o euro terminará. Em nome da competitividade no mercado global, agravam-se as políticas recessivas e reduz-se o Estado-providência a um Estado-assistência. Em sintonia com o neoliberalismo norte-americano, a Europa dá o seu melhor para que a grande recessão regresse e, desta vez, se transforme mesmo numa depressão.
Mas a história é um processo aberto. Marcada pelo desemprego e pela frustração dos seus projectos de vida, a juventude europeia tem dado sinais de que não se conforma com o programa de regressão social em curso. Talvez ainda seja possível congregar forças sociais e políticas que travem esta corrida para o abismo. Quem sabe?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
A seguir ao Estado-Assistência vem o Estado-Penal (o tal "Estado-Mínimo").
A juventude já está a reagir a este contexto, emigrando ao ritmo de mais de 50.000 por ano.
A abertura às importações de países asiáticos e não só, necessárias devido ao desaparecimento por razões ambientais da indústria pesada europeia
e da indústria mineira poluente
por extrair radioisótopos ou minérios raros ....
levou a que essas empresas ou falissem ou se transferissem para países onde as condições salariais, sociais, ambientais e institucionais permitem mão de obra em quantidade barata porque pobre mas com aspirações a ter bens
a preços imbatíveis, reduziu substancialmente a indústria europeia? reduziu?
já nos anos 80 por razões várias nomeadamente a falta de pessoal para andar ao carvão levou a indústria mineira e os altos fornos a irem para outros lados
Bhopal foi em 1984
a guerra às fábricas de fertilizantes e pesticidas começou em 59...
e expulsou definitivamente do mercado de trabalho largos milhares de cidadãos....
e nos países que reconverteram a indústria?
e falta a parte do desabar empresarial por falta de renovação das máquinas ferramentas
pelas greves sucessivas e aumentos sucessivos do binómio-carvão aço
e em Portugal pela liquidação da metalomecânica por ser tosca...e ser mais fácil abatê-la que renová-la
a indústria da sapataria portuguesa continua a competir com vantagem com a chinesa ou thai
não compete com a adidas porque nunca conseguiu criar marcas desportivas com sucesso
nem tem $ para a publicidade em larga escala
mas em chapéus sabões e sapatos
e em muita da manufactura têxtil
tanto portugueses como espanhóis
continuam a exportar...
logo há muitas falhas nesse abismo
talvez se torne um declive suave
Porque a actividade extractiva em Portugal ao contrário da chinesa
nunca apostou numa fase industrial de extração do minério e sua exportação em barra lingote ou produtos trabalhados
Do mesmo modo que nunca tivemos uma verdadeira indústria agro-alimentar ao contrário da europa restante
nem uma rede de distribuição e venda dos nossos produtos têxteis
ao contrário de muitos outros
porque os chinks não nos esmagam pelos preços apenas
são muito melhores na logística
e na eficiência dos processos
não são jap's nem alemães mas pra lá caminham
E quanto a custos a indústria de fertilizantes chinesa
paga salários anuais de 3000 a 4000 dólares
7 a 15000 para pessoal dirigente e técnico
o que é mais do que em muitas das
firmas do leste europeu...
e a fixação do azoto pelos processos inventados in 1915 consome muita energia....
logo....poder-se-ia fazer o mesmo raciocínio para muitos países com salários mais baixos para onde a china exporta
tal como Portugal já excedeu os 90 mil milhões de dólares de PIB dos anos 90
também a china tem fileiras de profissionais muito bem pagos...
por isso se aceleramos para o abismo é porque não desenvolvemos travões...
compreendido?
nah
A mina de Jales fechou por arrufos grevistas
A da urgeiriça por toxicidade laboral e falta de investimento
Cameco e a Healthgate continuam a explorar tobernite na Austrália e noutros países onde a estrutura de mineralização é semelhante à da urgeiriça...Austrália tem maiores salários que nós e nem todas as minas são a céu aberto
logo os custos de exploração são pouco competitivos em relação ao 3º mundo
mas não exportam concentrado
vulgo yellow bolo...
o mesmo raciocínio se podia fazer quanto à SAPEC e à muito subvencionada quimigal que cairam no dito abysmo
pela competição com espanhóis a ganharem salários de 20 mil euros anuais
contra 700 x 14 dá quanto?
perdemos para os baixos salários espanhóis?
foi? não sabia...
Pois, o estado penal...um exemplo:
Os EUA têm mais de 800 complexos prisionais por estrear e cada um deles comporta 20.000 indivíduos.
porque será?
Mas aos povos no geral, o que resta e dizer nao ao modelo vigente, sob pena de se "deitar por terra" todas as lutas de classes e direitos por elas alçançados.
De emigração em emigração, qualquer dia os trabalhadores de todo o mundo vão parecer umas baratas tontas em busca de emprego ou de oportunidades para uns biscates... Quando será que os aprendizes de cientistas sociais entendem que o sistema global é só UM... E que a única forma de entender o seu funcionamento á a abordagem sistémica ?...
E só depois então procurar as melhores ferramentas analíticas. Eu por mim recomendo o marxismo (o original, não as muitas versões mal amanhadas que por aí abundam)
Qual estado penal?
Onde é que há dinheiro pra prisões e guardas?
é enforcá-los todos a partir dos 10 anos
ou a degredo para as Berlengas
Aqui o arcanjas apresenta bons argumrntos, não é? Querem a indústria química de volta e os pesticidas pestilentos?
Enviar um comentário